Filmes de Poker: California Split (1974) de Robert Altman
Pertence á categoria filmes de Poker? Não, mas tem muitos jogos de Poker. É bom? É muito bom. Talvez o melhor filme que alguma vez vi sobre Gambling.
O génio do falecido Robert Altman, o mesmo realizador do meu favorito “The Player”, sobressai nesta magnifica produção da década de 70. Uma bela história desse belo desporto, o Gambling. Sim, li isto algures, é um desporto considerando a pressão física e psicológica a que os gamblers estão sujeitos!
Califórnia Split conta as “aventuras” de Bill e Charlie, dois gamblers compulsivos que se conhecem numa sala de Poker na Califórnia. Um sai a ganhar, o outro a perder e assim começam a sua relação. Vão a uma casa de strip, bebem uns copos e à saída são assaltados, pelo jogador que tinha perdido o dinheiro todo. Charlie oferece a sua “casa” a Bill e dirigem-se para esta, no intuito de recuperar e descansar. Depressa se apercebem dos valores que têm em comum, ganham confiança um no outro e embarcam numa frenética viagem pelo mundo das apostas.
Charlie partilha a casa com duas prostitutas, Barbara e Susan. Estas são o espelho da fragilidade daquele submundo e do tipo de relações que se podem ter neste tipo de ambiente.
Charlie é eufórico e arrasta Bill para esta roda-viva. Vão às corridas de cavalos e ganham, vão a um combate de boxe e, no meio do público, começam a fazer apostas paralelas com as cadeiras do lado, e ganham! No fim do combate, há uma zaragata entre 2 espectadores e eles apostam em quem ganhará. Por incrível que pareça, no parque de estacionamento são assaltados! Bill aceita e tem receio mas Charlie não admite perder tudo o que ganharam para um larápio e divide com este os lucros!
Bill tem uma dívida com um bookie e arrasta Charlie para Reno. Pretende fazer uma sessão de jogo para pagar a dívida. Jogam Poker com Amarillo Slim, jogam Blackjack, jogam Roleta, jogam Crabs… Ganham, ganham, e ganham… No fim, tinham 82 mil dólares quando tinham cerca de 2 mil no início da sessão. Mas na última jogada de Crabs, Bill fica apático, como se o sangue já não lhe corresse nas veias…
O moral da história não é que ser Gambler é bom, bem pelo contrário. O guião é bem sensato. Depois das mais inacreditáveis histórias vividas pelos 2, pelas vivas sensações que sentimos das mesas, é fácil perceber que há mais na vida do que jogar e ter dinheiro.
Esta longa caminhada leva-os a este ponto. Charlie continua eléctrico mas sente que não há mais nada para fazer. Bill pára para pensar. Não há mais nada… O sonho do gambler estava concretizado. A única opção? Ir para casa… Casa no sentido figurativo, ou seja, o abandono do Mundo do Jogo pois nunca mais iriam ter aquela “rush”.
George Segal, de “Just Shoot Me” e Elliot Gould, de Ocean’s Eleven, fazem uma excelente dupla. Robert Altman conseguiu, com sucesso, uma combinação credível para este tipo de filme. O guião ajudou mas a interpretação, com muita divagação e improvisação, torna esta viagem pelo Mundo do Jogo como algo fantástico. Altman consegue dar uma visão bem clara do Mundo onde eles vivem. As personagens têm vida, têm peso, mesmo as secundárias, e parecem genuínas e reais.
O filme é extremamente interessante, uma obra obrigatória para qualquer jogador. É interessante pela história, é interessante para ver a progressão de Robert Altman, é interessante saber que Robert De Niro foi ponderado para o lugar de Elliot Gould, é interessante saber que o filme quase não foi feito pois os estúdios queriam um filme de Máfia, é interessante ver Jeff Goldblum, o mesmo de “A Mosca”, numa fase inicial da sua carreia, é interessante saber que os figurantes são todos ex-toxicodependentes, etc…
Quanto a banda sonora, nada a salientar. Não é o ponto forte desta película, nem precisa. De relevo, o facto de Californa Split ter sido o primeiro filme de sempre a ser gravado em oito faixas stereo, o que permitia a sobreposição de sons, incluindo diálogos.
Um must see!
No próximo mês, mais um Poker movie.
Stay tuned.
Por Ricardo “Cacopt” Pinto