Demissão de Queiroz abre porta a Paulo Bento

O futuro de Carlos Queiroz vai estar hoje em cima da mesa numa reunião da Direcção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que terá início às 15h00, em Lisboa. Será nessa altura, na sede do organismo que gere o futebol português, que o presidente Gilberto Madail, três vice-presidentes (Amândio de Carvalho, Carlos Lamas Pacheco e Fernando Gomes) e quatro directores (Joaquim Alves, Vítor Peralta, José António Cavaco, José Manuel Portugal e Sérgio Dias Luz) vão começar a debater todos os problemas que tanto têm afectado o trabalhos das Selecções Nacionais. E a menos que aconteça uma improvável reviravolta, os altos comandos vão optar pelo despedimento puro e simples do seleccionador. O ambiente irrespirável na Selecção, agravado pelos resultados e as exibições com Chipre e Noruega, retirou dúvidas sobre a urgência de criar uma nova ordem.

E é por haver uma estratégia conducente à mudança e à viragem de agulha que já se fala em possíveis sucessores. O nome de Paulo Bento é efectivamente aquele que reúne consenso entre os elementos da Direcção da FPF, numa lista para a qual já foram noticiados os nomes de outro português (Manuel Cajuda), de um espanhol (Luis Aragonés), de um italiano (Arrigo Sacchi) e de um mexicano (Javier Aguirre). Contactado por O JOGO, Bento escusou-se a comentar a possibilidade de suceder a Queiroz. Por uma questão de ética, até porque o seleccionador nacional ainda está em actividade, independentemente de estar suspenso, mas também porque não foi contactado por ninguém da FPF. Não foi, mas vai ser, acrescenta O JOGO, assim que os responsáveis federativos consumarem a dispensa de Queiroz.

O JOGO sabe que o próprio presidente da FPF ultrapassou a fase de alguma relutância e prudência com que encarava este dossiê, e já nem ele põe sequer a hipótese de aguardar pelos resultados do processo instaurado pelo Conselho de Disciplina ao seleccionador por ter produzido afirmações consideradas difamatórias sobre o vice-presidente Amândio de Carvalho (a célebre "cabeça do polvo" referenciada ao "Expresso"). Também o recurso de Queiroz para o TAS contestando os seis meses de suspensão aplicados pela ADoP (Autoridade Antidopagem de Portugal) terá deixado de pesar para um adiamento que já ninguém quer.

A Direcção da FPF está disposta a demitir Queiroz alegando justa causa - e não apenas pelo seu impedimento actual, determinado pelo castigo que lhe foi aplicado pela ADoP, sanção que se juntou a outra que já está a ser cumprida, de um mês, aplicada pelo Conselho de Disciplina da FPF, igualmente relacionada com o caso do controlo de dopagem ocorrido durante o estágio na Covilhã, antes da fase final do Campeonato do Mundo disputado na África do Sul. O comportamento de Queiroz nos últimos tempos, seja interferindo em decisões de trabalho da Selecção estando suspenso, seja em declarações consideradas inoportunas e desestabilizadoras, designadamente na entrevista concedida à SIC, é um factor entendido como suficiente para o despedimento com justa causa.

Sabe-se como o futebol é fértil em surpresas de última hora, mas pelo que O JOGO conseguiu apurar, não é sequer de excluir que, no âmbito da reunião da Direcção da FPF, se vire o feitiço contra o feiticeiro, isto é, que seja encarada a hipótese de, além da demissão, a FPF partir para um pedido de indemnização a Carlos Queiroz por danos causados ao funcionamento e imagem da Selecção. Ontem à noite, esse era pelo menos um dos cenários em equação, e a verba a pedir pode chegar aos três milhões de euros!

Esta ruptura anunciada com Queiroz, recorde-se, fechará um ciclo no qual se chegaram a tentar outras soluções. Antes ainda do processo da ADoP, O JOGO sabe que existiram negociações para um acordo amigável de rescisão de contrato, que não chegou a bom termo por desinteligências de última hora. Mas mais: ainda no último domingo houve quem tentasse sensibilizar o (ainda) seleccionador para um pedido de demissão fundamentado nos interesses superiores da Selecção, mas Queiroz descartou tal cenário por completo.