Era dourada do poker de volta ao Bellagio - high stakes com Negreanu, Antonius, Hansen, Doyle e Ivey

Alguém que leve uma equipa de televisão para a sala de high stakes do Bellagio para acompanhar algo que há muito não acontecia. Os grandes nomes do poker, aqueles que levaram a grande parte dos jogadores actuais a descobrirem este jogo, estão de volta numa espécie de High Stakes Poker ou Poker After Dark, mas sem gravações.

Já eram vários os rumores sobre uma mesa de valores elevados ($1,500/$3,000, que várias vezes passa para $2,000/$4,000), qu decorria desde o final das World Series of Poker e agora foi Daniel Negreanu a confirmar isso mesmo através do seu blog.

O grupo de jogadores de ontem foi muito nostálgico para mim. Muitas das caras mais populares durante a era dourada, dos quais já não se ouve falar muito, estavam a jogar. Phil Ivey, Doyle Brunson, Gus Hansen, Patrik Antonius, Jennifer Harman, com um pouco de sangue novo à mistura.

Tal como nos velhos tempos, fizeram-se várias prop bets. Lembro-me de quando fazíamos props em programas como o Poker After Dark e High Staks Poker, e que acabavam por se tornar confusas para o espectador; e hoje em dia não são menos confusas.

Quando o relógio bateu a meia-noite, estava na altura de subir as blinds para $2,000/$4,000 para os lobos da noite. Do que me disseram, o jogo tem decorrido em força e sem interrupções há mais de 5 dias. A economia dos high stakes está tão saudável como nos melhores dias. Normalmente para uma mesa com estas blinds o número de jogadores interessados na cidade, não ultrapassava os 15. Parece que agora mais de 30 jogadores vão aparecendo na mesa. Pensei que após as WSOP os jogos secassem, mas não. Estão a decorrer em força.

Envolto no espírito nostálgico, Negreanu acabou por lembrar uma história antiga:

Não me lembro sequer do ano, mas um torneio qualquer em San Diego cativou todos os high stakers, como o Chino Rheem e o Johnny Chan. Após o torneio, abriu uma mesa de $4,000-$8,000. O problema foi que ninguém levou dinheiro suficiente para participar num jogo daquelas dimensões, e por isso concordamos em jogar com fichas de $1 e depois fazer as contas em Las Vegas. Isto requer muita confiança e acho que nunca mais vi nada assim desde então.

A mesa esteve cheia durante muito tempo, mas por volta das 00h, só estava eu, o Phil Ivey e o Gus Hansen. Estávamos a jogar 8-Game Mix com cap de $100,000 nas apostas e blinds de $10,000-$20,000. Desnecessário dizer que as swings foram muitas, e rápidas.

Provavelmente às 8h da manhã, o Phil olhou para mim e disse "perdeste os 3, ah?". Não fazia ideia do que ele estava a falar. "Que é que estás a falar", perguntei.

Ele respondeu "Chegaste à beantown. Primeira vez que perdes um big bean? (big bean refere-se a $1,000,000). Ainda não estava a perceber muito bem o que ele estava a dizer, mas depois apercebi-me que estava a perder $1,3 milhões, enquanto que o Ivey era sorriso de orelha a orelha. "Parece que big bean é um milhão. É bom saber".

Ele tinha razão, foi a primeira vez que estava a perder $1 milhão num jogo de poker, e apesar disso estava a gostar muito da batalha. Acabamos por jogar mais de 24 horas e consegui fazer uma recuperação final, ganhando 3 potes consecutivos de PLO com apostas máximas, e consegui sair do buraco.

Tudo nessa noite foi surreal, e sei que para o Ivey também foi. Ele fala muitas vezes comigo sobre esta noite, dizendo que foi uma das noites mais divertidas que teve a jogar poker. Tenho a certeza que o facto de ele ter conseguido um grande bolo ajudou a reforçar as suas memórias, mas havia algo mais. Ainda hoje tenho dificuldades em explicar porque é que foi tão especial, mas será para sempre algo especial para mim. Acho que se tivesse de a descrever diria que de certa forma parecia algo animalesco. Três jovens touros a irem à guerra num pequeno casino, numa parte remota de San Diego, a jogarem por milhões... com fichas de $1. Não posso dizer que recorde outra sessão de cash de forma tão vívida, como esta.

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