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Mike McDonald relembra o dia em que se riu na cara de Phil Ivey

Foi hoje publicada a segunda e última parte da entrevista de Mike Timex McDonald ao site iGaming.org. Uma entrevista onde McDonald fala de um pouco de tudo. Se na primeira parte se centrou mais na sua pessoa, desta vez Timex fala dos amigos que o ajudaram a crescer enquanto jogador e de uma mão especial que teve contra Phil Ivey.

Nesta segunda parte da entrevista, cujo original podes encontrar aqui, Timex relembra uma mão num torneio High Roller de €25.000 do EPT Barcelona:

O Ivey apanhou-me uma vez, quando eu estava a olhar fixamente para ele. Foi numa mão no torneio de €25.000 do EPT Barcelona e o Martin Finger tinha feito raise no hijack -1, Andrew Badecker no hijack 3bet, e a Liv Boeree viu lentamente as suas cartas, olhou na cara dos dois adversários e anunciou 4bet. Eu fiz a mesma coisa e fiz novo raise e o Ivey estava à minha esquerda na SB. Ele olhou para todos os jogadores na mão, antes de fazer a careta que costuma fazer, meter o queixo para baixo, baixar a cabeça e depois fixar o olhar em mim.

Ele olha fixamente para mim daquela forma estranha e eu comecei a rir, após o qual ele fez instafold. A mão prosseguiu e o DOC Sands perguntou ao Ivey: "Quando eles se riem estão fracos?", ao que Ivey respondeu "Não, quando se riem estão sempre fortes.". Eu tinha damas naquela mão, e apesar de não ter medo da mirada do Ivey, o meu riso deve ter feito com que ele largasse algo como valetes. É óbvio que quando faço 5bet, geralmente estou muito forte, mas naquela situação fui apanhado, por não manter a compustura.

Timex é conhecido pela forma gélida com que olha nos olhos dos seus adversários, algo que segundo o próprio começou por conselho de outro jogador:

Lembro-me de falar com o Haralabos Voulgaris durante o meu segundo torneio ao vivo, e naquela altura não tinha qualquer experiência sobre o ambiente ao vivo. Ele disse-me que como um jogador de 18 anos, sem experiência no poker ao vivo, eu devia olhar fixamente os adversários e fazer os mesmos movimentos todas as vezes. Durante três ou quatro anos, fiz isso e tentei ser o mais consistente possível.

Nunca estive atento aos tells nos torneios ao vivo, até ao river, quando era a minha vez de fazer call ou fold. Com o passar do tempo, comecei a aperceber-me que todos os grandes jogadores ao vivo como o Phil Ivey e o Daniel Negreanu estavam a recolher muita mais informação dos adversários que eu, por isso decidi que na próxima vez que jogasse um torneio ao vivo, que não fosse assim muito importante para mim, iria concentrar-me em todos os mais pequenos pormenores. Durante esse torneio observei cada um dos adversários durante as mãos que disputamos. Foi um side event pequeno em Praga, e terminei em segundo.

Não queria fazer isso pela primeira vez num Main Event, pois eu próprio podia dar muitos tells, mas resultou e voltei a fazê-lo no main. No main terminei em 25º e ainda melhor fui segundo no High Roller. Depois disso pensei, em equipa que ganha não se mexe, por isso mantive esse estilo. Reparei em tantas coisas nesses torneios que não reparava anteriormente e fiz muitos inimigos e perdi alguns amigos por causa disso. A minha presença ao vivo é muito melhor hoje em dia, e jogo muito mais concentrado, nunca pensei que o factor intimidatório fosse tão relevante.

Existem dois tipos de pessoas com quem não me sinto confortável a olhar fixamente. O primeiro são os jogadores ultra-recreativos. Quando fui a St. Kitts jogar o Alpha8, havia muitos jogadores que nunca tinham jogado um torneio de poker antes, por isso nessa situação tentei ser o mais calmo e simpático possível. Não vais querer jogar outro torneio de $100,000, se na primeira mão em que jogas, tens um puto a olhar fixamente nos teus olhos. Aí decidi ser mais simpático com os jogadores recreativos e apenas concentrar-me na mesa ou nas suas cartas.

O outro grupo de pessoas são aqueles que também têm uma mirada marcante. Há até alguns que têm um olhar ainda mais intenso que eu, aos quais não consigo ganhar no jogo do Sério! O primeiro que me vem à cabeça é o Athanasios Polychronopoulos. As pessoas dizem que tenho um olhar assassino, mas com ele fico mesmo com a sensação que ele vai saltar por cima da mesa e que me vai matar.

Timex relembra ainda duas pessoas marcantes na sua carreira. Dois jogadores de topo, que entretanto deixaram de lado a carreira profissional de jogador de poker. São eles Steve Paul-Ambrose e Aaron pacmann Coulthard.

Eu ia para casa do Steve todos os domingos, para jogar na cave dele. Nas primeiras semanas ficava a vê-los jogar, a ele e ao Aaron, e fazia um milhão de perguntas, e depois comecei a montar o meu portátil numa pequena mesa entre os dois. Fazia perguntas sobre $10/$20 até $75/$150 Limit Hold'em, enquanto eu jogava $2/$4 até $5/$10 Limit Hold'em. Cerca de dois meses depois, eles passaram para os torneios e eu segui-os. jogava sits de $22 180 jogadores, enquanto eles jogavam os grandes torneios de domingo, e discutíamos muita estratégia sempre que visitava a casa deles.

Penso que o Steve estava muito, muito, muito, muito à frente no que dizia respeito à estratégia de torneios de poker. Falando de pessoas que tivessem ganho um torneio ao vivo, 90% delas não teria respondido à minha primeira mensagem e 99% seriam um exemplo muito pior (Ambrose ganhou o PCA em 2006, quando ainda fazia parte da World Poker Tour e Timex conheceu-o através do 2+2).

O Steve Paul-Ambrose acabou por sair do poker de forma faseada, casou-se há cinco anos e meio e teve o primeiro filho um ano depois. O poker tornou-se apenas um hobby, e ele voltou aos estudos. É agora professor do liceu.

Casamento de Ambrose (à direita), Timex à esquerda e Pacmann no meio

O Pacmann deixou o poker ainda mais cedo e ele é o primeiro a dizer-te que se não fosse o Steve, ele provavelmente não teria chegado aos maiores níveis. Provavelmente seria um bom jogador de níveis médios, mas o Steve ajudou-o muito a alcançar os high stakes. O Aaron fez umas centenas de milhares a jogar poker, pagou a casa, a Universidade e também se casou. Acho que agora está a tirar o curso de fisioterapia e como tenho uma diferença de 7 anos para os dois, as nossas vidas estão em patamares distintos. Quando estamos juntos, voltamos às palhaçadas do costume, e serão sempre meus bons amigos.

Timex falou ainda de apostar em vários jogadores através do stake, e de como foi a experiência de dar coaching a Pius Heinz, jogador que viria a ganhar o Main Event das WSOP de 2011.

O que posso dizer do Pius é que ele já era um bom jog
ador. Como ele não tinha grandes resultados antes do Main Event, algumas pessoas subestimaram-no. Ele não é um fanático do jogo, e acho que hoje nem sequer joga. Creio que as pessoas assumiram que ele era um tipo que jogava de forma medíocre que por acaso ganhou um torneio, mas ele não me fez qualquer pergunta típica de principiante. As conversas que tive com ele, eram mais do tipo das que tinha com os meus amigos, do que as que normalmente existem numa relação aluno-professor. No final o coaching acabou por se centrar na parte de ele não cometer suicídio ICM na mesa final. E coisas do tipo, que tipo de posições tomar quando estamos short mas não somos o mais short, como minimizar a variância e quando largar alguma equidade a favor de continuar no torneio.

Cerca de uma hora e meia decorrida da mesa final, ele era chipleader com o dobro das fichas do segundo, por isso nem teve de enfrentar essas situações, e foi muito divertido. Em nenhuma das mãos que vi na televisão, pensei "Eis algo que lhe ensinei", e para ser sincero não acho que tenha modificado muito o jogo do Pius e do Jake (Jake Balsiger que foi 3º no Main Event de 2012 e também teve coaching com Timex). Eles ganharam um aumento de confiança com o coaching, mas não é algo que altere o teu jogo como da noite para o dia.

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