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Gerações: Erro de conexão

Neil Channing é um dos mais tradicionais jogadores do circuito mundial de poker. O britânico, que desde 2007 ataca todo o tipo de eventos ao vivo, é já dono de uma experiência de vida única e tem assistido ao evoluir do jogo com a influência dos putos do online. Em Failure to Engage, Channing transmite a sua frustração na forma fechada e desrespeitosa como os jovens convivem, tanto nas mesas como na vida.
Failure to Engage
 
Ainda cedo nestas WSOP estava a regressar ao meu quarto, após uma eliminação tardia num torneio. Entrei no elevador, no 2º piso, quando este estava quase cheio, vindo do piso principal. O facto de estar cheio de jogadores de poker não chocava, visto que a cidade está a transbordar com estas criaturas, mas era surpreendente devido a faltarem apenas 40 minutos para o final de dia e o "ensacar" de fichas.
 
Decidi espremer-me para dentro do caixote, acabando por ficar entre os jovens do online, com um deles a centímetros do meu nariz. O à minha esquerda falava para o da minha direita, revelando que acabavam de chegar do festejo da vitória do "colado ao meu nariz" no "Millionaire Maker", com a sua bracelete e $1.2 milhões em prémio.
 
Com cerca de 22 segundos de oportunidade, decidi abordar o assunto assim...
 
"Parabéns, isso é fantástico, deves estar mesmo contente, é uma excelente conquista."
 
Ninguém reagiu. Nem um olhar diferente para, sobre ou por causa das minhas palavras. Nem o vencedor "colado ao meu nariz", nem os amigos. Quatro ou cinco segundos passaram e o da esquerda diz para o da direita que já jogou com ele no Main Event. Lembrei-me de jogar com o da direita algumas vezes nas mesas de cash games e em alguns eventos WSOP. Nenhuma destas ocasiões correram especialmente bem para este rapaz e suspeitava que ele não me olha com bons olhos. Já o seu amigo milionário, não conhecia de todo.
 
Vinte segundos mais tarde...
 
"Foi um prazer falar convosco, boa noite"
 
Com o silêncio fui-me deitar.
 
Fiquei chocado. Os meus motivos para falar, no caixote que eleva, eram puramente de um ser-humano - com já alguma experiência do que estava o "colado ao meu nariz" a passar - que queria dizer algo simpático e também de um inglês que não sabe lidar com momentos de silêncio, querendo preenche-lo. Estava contente e excitado com o rapaz. Sem sarcasmo, sem esperar staking, sem querer pedir empréstimos, não há qualquer outra interpretação que não a de uma pessoa a tentar ser amigável.
 
Eles "olharam" para mim como se não existisse. A forma como me ignoraram demonstrou um desprezo total, como se fosse invisível ou estivesse a falar Swahili. Afectou-me.
 
Uns dias antes a esta viagem de elevador, estava a jogar um dos eventos de $1.000. Era um com opção de re-entry. A minha primeira mesa começou às 11 da manhã e estava recheada de malta simpática, normal, com empregos standard e vidas fora poker, que decidiram dar um tiro a ver se são campeões do mundo do jogo que gozam jogar. Alguns podem até nunca ganhar um torneio de poker, mas não nada interessa a não ser passar um tempo divertido.
 
Depois de ser eliminado desta adorável mesa, ao arriscar em demasia num movimento que, noutro dia, podia ter resultado, decidi reentrar.
 
A malta que acorda às 16h, incluindo um alargado número de "profissionais" - aplicando o termo o mais alargadamente possível - que apenas conseguem arrastar-se para fora da cama a meio da tarde, formavam a nova mesa. Uma mesa recheada de autoproclamados "pros", que possivelmente não serão ganhadores, a abarrotar de confiança.
 
Parecia uma competição para ver quem conseguia ser o maior parvalhão.
 
Todos falavam muito alto, por cima de todos e raramente sequer paravam para se ouvirem uns aos outros. Eles falavam de limps e não 3bets de "idiotas" com xaxj, no CO, e sem saberem fazer 3/5 com xaxq no BTN. Eles falavam de staking e contabilidades, jogos com buy-ins elevados; eles falavam de vários nicknames famosos, mas que nunca conheci; falavam alto de ranges e fold equity; e continuaram sobre o quão "altamente" eram.
 
Estavam dois anciães, com dócil olhar, na mesa. Nunca falaram. Não jogavam bem poker e cometiam algumas dos erros que os outros mencionavam serem exclusivos dos "idiotas". Era demasiado difícil juntarem-se à conversa, sendo provável que nem fizessem ideia o que eram os nicknames, do significado de 3/5 ou fold equity ou de range de 3bet.
 
Provavelmente até teriam coisas boas para adicionar à conversa. Tinham aspecto de quem já viveu bastante; uma vida com filhos e netos; uma vida com um negócio construído; sucessos e desilusões; provavelmente teriam algo a transmitir às gerações seguintes. Nunca o descobri. Estavam ambos do outro lado da mesa e não conseguia falar, por cima, do jovem ao meu lado e os seus modos barulhentos.
 
Ninguém falou com os cavalheiros mais velhos. E eles também não falaram. Entre eles era complicado, pois os dois putos do online entre eles dominavam as ondas aéreas com nicknames e do quão "doente" era este ou aquele. Foi uma mão a relembrar-me que calados eles estavam na mesa. A discussão sobre a mão foi intensa, mais especificamente sobre a força da mão do idoso que abriu para 4x. Toda a conversa aconteceu como se ele não estivesse sentado a curtos centímetros e/ou nem compreendesse inglês. Dois deles chegaram a rir, sem embaraço, da jogada que consideravam "má".
 
Fui eliminado do torneio. Estava chateado e enojado.
 
Claramente que este comportamento é muito mau para o futuro do poker. Depois de sair do elevador constatei que este comportamento também acontece fora das mesas, até fora do poker, e que pode prejudicar o futuro da sociedade.
 
Será que pessoas de gerações diferentes não conseguem comunicar e significará isso que no futuro não devemos sequer tentar?
 
Enquanto me preocupava com estes assuntos, joguei alguns eventos WSOP de $1,500 e de $1000. Tentei evitar os de $2,500 e superiores. Pareciam estar cheios de jogadores que via naquelas mesas e nos elevadores. Não me pareceram muito contentes. Os números estavam complicados naqueles eventos e os eventos mais pequenos pareciam correr-lhes melhor. Eu gostei das mesas que joguei. 
 
Tenho certeza que as minhas palavras vão cair em saco roto e que o comportamento que testemunhei vai continuar. Um certo tipo de jogadores nunca se irá envolver com qualquer outro tipo de jogador, enquanto na mesma mesa. Não há problema. Rapidamente irão estar a jogar torneios entre eles e irão deparar-se com a sua comunidade canibalizada. Terão o que merecem.  
 
Passei algum tempo a tentar fazer algo sobre as coisas que me perturbavam. Eu publiquei tweets e escrevi algumas coisas. Algumas pessoas desdenharam. Eu não acho que as pessoas devem educar-se nas mesas e acho que quando os jogadores repreendem as más jogadas é mau para o poker, para os lucros dos jogadores da mesa e é desagradável para o ser humano. Eu também entendo que algumas pessoas são apenas tímidas e querem apenas colocar os seus auriculares e jogar Open-Face Chinese. Obviamente, não entendo o porquê desses jogadores não se aplicarem e se focarem mais no jogo. Se eles preferem ter 40% de esforço no jogo, é com cada um.
 
As pessoas que achavam que eu estava apenas a falar sobre estes tópicos, interpretaram-me mal. Eu estava a tentar rsolver uma situação muito específica que me aborreceu. Eu gostaria de ver a prática de exclusão de jogadores amadores das conversas eliminada. 
 
Acredito que esta prática (de excluir os jogadores recreativos) está a prejudicar o futuro do poker. É isto, em poucas palavras, e é simples. 
 
Não cheguei aos prémios nos meus primeiros eventos, mas diverti-me e tive algumas oportunidades. Na realidade, nenhum dos britânicos teve bom desempenho.
 
Ainda há bastante tempos, estou seguro que voltaremos em força...
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