Artigo de Estratégia - Coordenação da mesa e vulnerabilidade

Introdução

No artigo “Avaliar a força da nossa mão” falámos das mesas secas e das mesas coordenadas. A classificação que divide as mesas em secas e coordenadas continua a ser válida. No entanto, a partir de agora, mudaremos os critérios para diferenciar mesas secas e mesas coordenadas.

Até agora, para classificar os tipos de mesa em que nos encontramos, apenas tínhamos em conta se na mesa havia possibilidades de sequência ou de cor. Ou seja, se haviam três cartas na mesa com um intervalo máximo de cinco cartas possíveis, a mesa era coordenada. O mesmo acontecia nos projectos de cor (flush): com três cartas do mesmo naipe a mesa era coordenada.

Para melhorar os critérios de classificação das mesas secas e coordenadas, necessitamos de ter bem claro um conceito que introduziremos neste artigo: a vulnerabilidade das mãos.

Vulnerabilidade de uma mão

Ter uma mão seja vulnerável significa que as cartas futuras (Turn e/ou River) podem permitir ao nosso rival ligar a uma mão melhor que a nossa.

Quando uma mão é vulnerável, as cartas futuras podem não só dar uma mão melhor ao rival mas também congelar a acção, impedindo que consigamos extrair valor de mãos piores que a nossa.

O facto de a nossa mão se debilitar prejudica-nos, independentemente de o rival ter melhorado com a carta nova. É este facto que faz com que a vulnerabilidade das mãos seja um conceito muito importante.

Ou seja, podemos continuar a manter a melhor mão após um turn ou river complicado, mas a nossa mão ser muito mais débil e ser menos provável obter valor de mãos piores.

É importante ressalvar que a vulnerabilidade das mãos é muito importante para as mãos fortes. Quando uma mão é débil, a vulnerabilidade é menos importante já que se torna complicado apostar por valor em qualquer das situações anteriormente descritas, além de que às vezes o turn ou river perigoso impede que uma mão melhor obtenha o valor dela.

No artigo “Razões para fazer uma aposta” falámos em proteger a nossa mão como uma das razões para fazer uma aposta.

Proteger a nossa mão é mais importante quanto mais vulnerável esta seja.

Polarização da equity

Um conceito importante relacionado com a vulnerabilidade das mãos é a polarização da equity:

Dizemos que numa mesa, a equity está polarizada quando a melhor mão tem uma percentagem muito elevada de ganhar.

Isto acontece sistematicamente nas mesas secas. Numa mesa como , um jogador com tem, ou uma percentagem muito elevada de ganhar a mão (se o seu rival não tiver já uma mão melhor no flop), ou uma percentagem muito baixa (se o rival já tem essa mão melhor).

No river, a equity está sempre totalmente polarizada: a melhor mão tem 100% de hipóteses de ganhar em showdown.

Dizemos que numa mesa a equity não está polarizada quando a melhor mão tem uma percentagem de vezes de ganhar relativamente baixa.

Isto acontece quando a pior mão tem muitos outs. Isto acontece muitas vezes quando a mesa está coordenada. Se um jogador tem num flop , este irá encontrar-se em muitas situações com mãos que têm dezenas de outs potenciais contra a sua mão convertendo a sua equity no flop em quase 50%.

Preflop, todas as mãos têm equity e portanto a equity preflop não está polarizada. Todas as apostas preflop são parcialmente por proteção, já que quando o rival abandona, não recupera a sua parte da equity, que sempre existe.

É importante destacar que podemos ter uma mão vulnerável numa mesa onde a equity está polarizada e uma mão pouco vulnerável numa mesa onde a equity esteja muito polarizada.

Vejamos um exemplo:

Numa mesa como é uma mesa onde a equity está pouco polarizada. No entanto, mãos como ou não são demasiado vulneráveis já que a maior parte dos turns ou river perigosos lhes darão uma mão mais forte.

Neste mesma mesa, uma mão como é uma mão extremamente vulnerável.

É importante não confundir os tipos de mesa com a vulnerabilidade da nossa mão em concreto. Uma mesa com a equity muito polarizada é uma mesa onde normalmente a melhor mão seja pouco vulnerável. Numa mesa com a equity pouco polarizada é uma mesa onde a melhor mão é normalmente vulnerável.

Porque ajustamos agora a definição do tipo de mesa ?

O conceito de mesa seca e mesa coordenada indicam-nos quão necessário é proteger a nossa mão. Nas mesas secas, as mãos são pouco vulneráveis (ou seja, a equity está polarizada) enquanto que nas mesas coordenadas é necessário proteger a nossa mão (ou seja, a equity não está polarizada).

A definição que temos aplicado até agora de mesa seca e mesa coordenada irá mudar, e passar a orientar-se mais em função da vulnerabilidade das mãos em cada tipo de mesa.

O que é que consideramos uma mesa coordenada ?

Uma mesa coordenada será aquela onde a equity esteja pouco polarizada.

O nosso critério base de três cartas do mesmo naipe continua a ser perfeitamente válido. O critério de 3 cartas num range de 5 consecutivas é que irá sofrer maiores alterações.

As cartas médias ({Q} – {7}) são muito mais perigosas que as cartas baixas ({6} – {2}). Isto acontece porque, embora a mesa seja conectada, se as cartas que formam são muito baixas, é muito menos provável que estejam no range de qualquer dos jogadores, pelo que na realidade as mãos não são tão vulneráveis nestas situações.

Por outro lado, as cartas médias estão muitas vezes no range dos jogadores. Numa mesa com 3 cartas médias será sempre coordenada. Numa mesa a equity está muito menos polarizada que numa mesa .

As cartas altas, especificamente {A}, são cartas que polarizam muito a equity e que por isso fazem com que a mesa seja muito menos coordenada. Os reis estão a meio caminho. Uma mesa com {A} é seca sempre que a coordenação não seja muito elevada e além disso com cartas altas. Qualquer mesa do tipo é uma mesa muito seca.

Também iremos começar a valorizar o custo da existência de duas cartas do mesmo naipe na mesa. Este facto por si só não é suficiente para que consideremos uma mesa coordenada, mas se o juntarmos a uma mesa relativamente coordenada (com duas cartas médias e conectadas e uma pequena, por exemplo) a soma destes factores faz com que tenhamos que tratar a mesa como coordenada.

Em relação às mesas extremamente coordenadas, são as que se produzem quando numa mesa coordenada sai uma carta que completa os projectos mais prováveis.

Uma vez isto suceda, a equity passa a estar muito polarizada, já que a melhor mão volta a ter uma grande percentagem de probabilidades de ganhar. Se na mesa existirem quatro cartas do mesmo naipe, a situação mais habitual é que a melhor mão tenha quase 100% de hipóteses de ganhar.

As mesas extremamente coordenadas são na realidade mesas secas.

Vejamos alguns exemplos de mesas coordenadas:

, ,

O que consideramos uma mesa seca ?

Uma mesa seca será aquela onde a equity está polarizada.

Por exclusão de partes, todas as mesas que não sejam coordenadas são mesas secas. Ou seja, isto deixa-nos as mesas com três cartas baixas, as mesas emparelhadas, as mesas com uma ou mais cartas altas e as mesas extremamente coordenadas.

Vejamos alguns exemplos:

, , , ,

Existem mesas que não serão simples de classificar como secas ou coordenadas. Habitualmente chamamos-lhe semi-coordenadas, já que são mesas que estão a meio caminho entre ambos os casos mencionados. Iremos trata-las como mesas secas mas sempre conscientes de que são mais perigosas do que o normal.

Exemplos de mesas semi-coordenadas:

, , ,

Como característica, estas mesas convertem-se em coordenadas se a carta seguinte for perigosa.