"Não discordo de (quase) nada do que Negreanu disse, tenho problemas com o que ele não disse" Phil Galfond
Com o tópico "PokerStars & Rake" de volta à ribalta, com Doug Polk, Joe Ingram e Daniel Negreanu a fazerem regressar o tema, Phil Galfond aproveita para colocar os seus cêntimos, que "se havia arrependido de não fazer" na altura da explosão da questão.
E porque as suas palavras já são longas o suficiente:
"No ano passado, Daniel Negreanu discutiu os efeitos do rake mais elevado numa entrevista. A comunidade reagiu negativamente, e ele sentiu que a sua mensagem havia sido descontextualizada, como tal escreveu este blog para esclarecer.
Como jogador de poker e alguém que está a construir um site de poker, obviamente que tenho muitas opiniões sobre rake, políticas, ofertas de jogo e inúmeras áreas relacionadas. Na altura, preocupei-me em ser visto como falso se me juntasse à discussão - que a crítica de um futuro competidor passaria como marketing oportunista do meu negócio - por isso escolhi não me envolver.
Acabei por me arrepender de tal decisão. Ao não dizer coisas que normalmente diria como membro da comunidade por preocupação de como seria recebido e a Run It Once, penso que estava a ser menos autêntico.
Por alguma razão o tópico saltou outra vez. Doug Polk falou num Podcast com Joe Ingram. Daniel discutiu brevemente no seu próprio podcast e partilhou um link do post do debate com Doug, Joey e outros.
Os pontos que iria apresentar no ano passado ainda não foram discutidos, com tal aproveito esta oportunidade para falar o que queria ter dito há quase um ano.
Falarei mais especificamente sobre o blog onde Daniel clarifica e explica os seus pensamentos. Os seus comentários em entrevistas soaram realmente pior, mas o Daniel é um homem honesto e eu acredito que ele acredita no que escreveu.
I wrote this a full year ago: https://t.co/CbwvIYqM35
Anything here you disagree with? Anything here you find controversial?
— Daniel Negreanu (@RealKidPoker) February 22, 2018
O seu blog é absolutamente lógico e as conclusões que tira são óbvias e não verdadeiramente controversas (há um ligeiro argumento a ter no como a economia do seu exemplo vida-real funcionaria realmente, mas é complexo e irrelevante para o que eu quero discutir). Muitos na comunidade de poker repreenderam o Daniel por defender a Stars e o seu aumento de rake, mas não foram muitos que o questionaram numa discussão real.
Daniel descreve dois jogos de 10-20 Limit Hold'em, cada um no seu lado da rua, em frente um ao outro. Um cobra $100/hr e o outro $300/hr de rake. O jogo com rake baixa tem um alinhamento pesado em pros (low-pro), mas os mesmos conseguem fazer melhor nos jogos de baixo rake do que nos jogos com mais recreativos (rec-heavy) e maior rake.
Ele fala do jogador recreativo, Bhupan, que habitualmente joga no jogo com maior rake mas ocasionalmente aventura-se do outro lado da estrada no jogo de baixo rake. Daniel argumenta que o jogo de maior rake é melhor para Bhupan: ele perde menos e tem uma melhor experiência de jogo com outros jogadores recreativos apesar do elevado rake.
Este argumento faz perfeito sentido e estou certo que neste caso era verdade.
Saltando para a conclusão de Daniel:
"Em suma, NÃO, eu não acho que mais rake é melhor para o poker, mas SIM, eu acho que faz sentido dar a maior parte dos bónus e recompensas aos jogadores recreativos."
Quer se concorde ou não com a sua opinião, esta é uma posição perfeitamente razoável de se ter, Daniel torna absolutamente claro que não acha que maior rake é bom para o poker.
O problema com o post de Daniel é o que ele salta por cima, fica a palavras de dizer e deixa implícito.
Vamos começar pelas implicações. Muitos concordam com os (válidos) argumentos de Daniel, mas eles levarão a conclusões inconsistentes:
"Para Bhupan e os outros jogadores do seu nível de skill, MAIS RAKE É MELHOR PARA ELES do que pagar menos rake contra os pros."
Muitos leram isto como "maior rake é melhor para jogadores recreativos como Bhupan", que, a ser acreditado, é um atraente argumento moral a favor do maior rake. Todos devemos preocupar-nos profundamente no que é melhor para os jogadores recreativos.
No entanto, os seus argumentos não levam a tal conclusão (e Daniel certifica-se em não o dizer explicitamente). Na actualidade, o que se pode retirar disto é que nestes dois específicos jogos, como foram descritos, Bhupan estava melhor no jogo que tinha maior rake.
"Não acho que aumentar o rake é bom para o poker. Nenhum rake é "bom para o poker". Mas precisamos de compreender que um jogo cheio de pros é bem pior do que um jogo com maior rake".
Muitos irão ler isto como "pros são piores para o jogo do que o elevado rake". Ele está novamente a falar duma mesa específica ( "este jogo" em vez de "o jogo" do poker), mas mais importante, ele está a comparar pros com rake alto (numa forma fácil de interpretar) como se estes fossem mutuamente exclusivos - escolhe um ou outro. Tal não pode levar a uma conclusão sobre a economia do poker no mundo real.
Atirar frases como "melhor para os jogadores recreativos" e "pior para o jogo", que são regularmente utilizadas na comunidade para falar sobre o jogo como um todo, torna muito fácil para o leitor confundir os dois usos e retirar as conclusões erradas.
Então, quando Daniel arranca o seu segundo parágrafo com,
"Agora, vamos observar mais profundamente em como o aumento de rake afecta os jogadores,"
e depois fala de situações muito específicas, coloca os seus leitores a inferirem o significado errado.
Parando agora para ser claro. Não estou a dizer que Daniel fez algo não ético.
Eu acredito que ele estava a fazer o melhor argumento que podia para a conclusão que ele acreditava. Ele é muito esperto e persuasivo e, na minha opinião, ele está quase sempre no lado certo de um debate. Apresentar o melhor argumento para o que acredita é o que estou a fazer agora, como tal não o posso culpar de tal.
Adicionando Contexto
Agora vamos falar dos exemplos que ele deu e ver como se aplicam no actual mundo real - um tópico que o post saltou por cima.
No exemplo dos "dois-jogos", Daniel parece estar a dizer que a PokerStars movimenta-se mais e mais para se tornar no jogo de alto rake e sem pros, eles acreditam que será melhor para eles e melhor para os jogadores recreativos. Este é um argumento muito bom a favor do caminho que estão a tomar em virtude de que os jogadores recreativos são essenciais para o jogo.
No mundo real, como neste exemplo, há outros locais para jogar poker. Nós na Run It Once temos estado a trabalhar forte na oferta aos jogadores de uma alternativa viável. A partypoker tem feito boas e honráveis movimentações e alinhou-se com jogadores espertos que têm carinho pela comunidade.
No entanto, como estão as coisas agora, a PokerStars detém uma esmagadora maioria do mercado do poker online.
Para a maioria dos jogadores, não há o "jogo do outro lado da rua".
Como tal, os Bhupans do poker online estão a usufruir da oferta que parece a combinação do maior rake daquele jogo soft de LHE com a dureza do jogo pro-heavy!
Ninguém está a sair beneficiado pela Amaya neste curto-prazo. A analogia não representa bem a realidade de hoje em dia.
Mas, concedo, levará tempo para que as decisões e as ofertas que têm sido apresentadas terão impacto no ecossistema do poker. Os jogos 10-20 limit não atingiram o seu equilíbrio da noite para o dia.
Eu antecipo que a PokerStars continue a sua trajectória rumo aos jogos e políticas que eles querem mesmo oferecer e que o efeito de tais decisões - como o desejado resultado - demorará algum tempo a se concretizar. Apenas na altura saberemos se eles estão "certos" ou "errados".
Vamos espreitar o que acontecerá quando a poeira pousar. Há apenas dois cenários que resultarão da PokerStars se tornar, metaforicamente, o soft-game que Daniel descreveu:
Endgame 1
Este é o cenário em que op mundo de Bhupan se torna realidade.
Outros sites (esperançosamente nós!) terão sucesso na oferta aos pros de um ambiente em que eles preferem jogar e eles (nós!) tornam-se no jogo do outro lado da rua.
partypoker, RIO e/ou outros irão oferecer jogos batíveis mas duros e com preço justo. PokerStars irá oferecer jogos fáceis, provavelmente propagando os jogos de menor skill como Beat The Clock (minha opinião), mas com rake tão alto que os pros estarão afastados.
Neste endgame, a PokerStars elimina os pros do seu ecossistema e pode oferecer aos seus jogadores recreativos o que eles e Daniel acreditam é uma melhor experiência perdedora (não vou argumentar a favor ou contra tal opinião hoje). A PokerStars cresce e tem sucesso e os jogadores recreativos gostam do producto do seu site. Isto é o que, na minha opinião, o post de Daniel deixa implícito que ele quer ver acontecer.
Entretanto, os recreativos que queiram o mesmo que os pros irão encontrar uma casa num dos outros sites.
.PokerStars ganha
.Recreativos e PokerStars estão felizes
.Pros e recreativos que não gostem da oferta têm opções fora e podem continuar a jogar
Soa tudo bem e eu penso que podem bem ser um grande resultado. Se os outros sites de poker conseguirem oferecer a experiência e liquidez que a PokerStars tem actualmente, as coisas funcionarão para todos.
É a minha posição que, chegando a este endgame, a PokerStars não é mais um operador de poker, mas um casino.
Nada de errado com tal. Se uma empresa quer oferecer jogos com EV negativo, operar com integridade e providenciar o que as pessoas quererm - bom para eles. Eles podem ter sucesso e os seus clientes podem ser felizes.
Apenas não é poker e os seus clientes não serão as pessoas que verdadeiramente querem jogar poker.
Endgame 2
Neste cenário, o jogo cheio de recreativos de Buhpan é o único construído para longevidade. Continua a laborar enquanto que o jogo low-rake pro-friendly passa dificuldades e desaparece.
Como no Endgame 1, a PokerStars torna-se no site de rake elevado e rec-heavy. Todos os pros são conduzidos para fora do site e os recreativos que ficam são os que realmente gostam do producto que a PokerStars está a oferecer.
Ao contrário do Edgame 1, neste mundo, Run It Once, partypoker e outros falham. Os verdadeiros entusiastas do jogo não têm para onde ir.
Isto é o poker Armageddon. A PokerStars transforma-se num casino temático de poker e não há o jogo do outro lado da rua.
.PokerStars ganha
.Recreativos e PokerStars estão felizes
.Pros e recreativos que não gostam da oferta estão com azar. Poker online está morto.
Isto, na minha opinião, é o post de Daniel (com adicionais pistas para contexto) deixa implícito que é o que a Amaya quer ver acontecer. Acredito que não é o que Daniel quer que aconteça, mas ele pode pensar que é o cenário mais provável.
Nesta parte de 2 minutos de entrevista de Rikard Åberg com Negreanu, Daniel afirma (parafraseando) que a RIO começar um site é win-win: Ou tem sucesso e dá um bom sítio para jogar ou falha em atrair jogadores para manter os seus jogos e mostra a comunidade que, hey, talvez a Amaya esteja certa na direcção que está a ir.
É uma visão perfeitamente razoável, embora IMHO a segunda não seja uma "win" :)
Pelo seu tom, posso ver que ele acredita que RIO (e provavelmente outro site que seja "pro-friendly") irão provavelmente falhar. Não há nada de errado em ter esta opinião, ele é educado e não apenas diz cá para fora. De facto, como podem saber, estãos atrasados no nosso calendário de desenvolvimento inicial aqui an Run It Once, por isso não vou provar ninguém errado ainda!
Ouvimos também representantes da Amaya, vez e vez sem conta, de como a sua investigação mostra (parafraseando) que os pros não interessam.
Após a comunidade se reunir para o boicote de 3 dias em 2015, Eric Hollreiser, VP of Corporate Communications da Amaya escreveu:
"E, no espírito da transparência, posso dizer que vimos efeitos do recente boicote e tal deu-nos ainda maior confiança que a nossa estratégia é a certa para melhorar o ecossistema. Durante o boicote de 3 dias registamos os resultados mais saudáveis do ano nas receitas líquidas de jogo, apesar de os jogadores depositantes terem tido uma taxa de perdas muito inferior ao resto do ano. Como vimos com os Spin&Gos, que têm um nível de retenção maior do que os cash games devido à mais elevada experiência de "ganho" dada a todos os jogadores, acreditando que esta baixa taxa de perda resultará em que os depósitos durem mais tempo e numa maior taxa de retenção, traduzindo-se tudo em mais depósitos e mais dinheiro no sistema porque os jogadores estão a usufruir da experiência de jogo nas mesas. Esta é a fundação certa para nós construirmos.
O nosso comprometimento com o poker está tão forte como sempre. Nós acreditamos que as nossas acções irão demonstrar isso mesmo nos meses e anos pela frente."
Este é apenas um exemplo, mas eles já fizeram comunicados com implicações similares, numerosas vezes.
Minha Conclusão
A minha maior preocupação é que o post do Daniel significa para mim sobre os planos e valores da Amaya, que o Daniel não chega a discutir.
Acredito que a finalidade que eles têm envolve oferecer exclusivamente jogos imbatíveis. Esta é uma assunção grande para se fazer e posso estar errado. Espero estar.
Também acredito que eles não acreditam que haverá um jogo do outro lado da rua. Endgame 2.
Claro que posso estar completamente errado. Talvez tenham o plano de ter o seu próprio "jogo do outro lado da rua", oferecendo metade de jogos imbatíveis e metade do que eu considero verdadeiro poker. Se tal é o plano, porque é que eles continuam a aumentar o rake e reduzindo as recompensas em todos os jogos? Porque continuam a dizer-nos que nós não interessamos e que os recreativos preferem Spin N Gos e Beat The Clock?
E porque é que o jogo soft 10-20 Hold'em que o Daniel escolheu como o melhor local para Bhupan e os jogadores recreativos que ele representa é imbatível?
Eu não discordo de (quase) nada do que o Daniel diosse no blog quase há um ano. É com o que ele não disse que acho problemático.
Se a Amaya acredita que os seus clientes importantes querem jogos imbatíveis e se acreditam que a concorrência que for numa direcção diferente irá falhar, é o seu direito concentrar-se nesses jogos. Não há nada de errado com eles retirarem conclusões dos seus dados e tomarem a melhor decisão para os seus accionistas.
Mas se tal é o caso, a Amaya acredita num futuro muito cinzento para nós e se Daniel quer envolver a comunidade com sinceridade, eu preferiria que ele viesse cá para fora e o dissesse.
Pessoalmente acredito que estamos mais encaminhados para a versão Endgame 1 (aka eu acredito no poker online).
Blackjack, roleta, dados, poker... podemos pensar em todos como jogo, mas eu e tu sabemos que o poker é fundamentalmente diferente do resto. Nós apaixonamo-nos pelo poker pela beleza que nasce dessa diferença.
Não ficarei surpreendido minimamente se a PokerStars faça melhor e melhor enquanto apresentarem jogos rápidos, excitantes e de baixa skill. Mas se os jogos são imbatíveis irão empurrar para fora todos os que gostam do jogo pelas mesmas razões que tu e eu.
Haverá sempre milhões de nós à procura de poker verdadeiro, autêntico e batível. Se a PokerStars deixar de oferecer a esta procura, alguém o fará.
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