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Artigo de Estratégia de Nível Doutorado - A não perder!

Uma das campanhas de lançamento que estavam previstas para o EducaPoker.pt era a apresentação de um artigo dos níveis mais elevados da escola. Procurávamos com esta acção, mostrar um pouco da qualidade e complexidade de conteúdos que poderão encontrar assim que forem subindo de níveis dentro da escola.
O artigo apresentado deverá ser do interesse de todos, pertence à Categoria de Cash Games e tem o título: "Determinar a força da nossa mão".
Esperamos que gostem!

"Explicação da nomenclatura que se usa no EducaPoker.PT sobre o tipo de mãos possíveis e a intenção de cada uma durante o jogo.
O processo para jogar uma mão de Poker de forma correcta tem três passos fundamentais:
  • Temos que estimar os ranges do/dos oponente que está na mão.
  • Temos que estimar quão forte/vulnerável é a nossa mão e a percentagem de ganhar o pote sem showdown.
  • Por último, calcular a linha com maior EV com a informação re-compilada.

Neste artigo vamos falar fundamentalmente do segundo ponto, o de avaliar a força da nossa mão em função do adversário e da situação. Determinar que tipo de mão temos, não é algo tão trivial como parece. Mãos que são mãos fortes de Showdown contra um jogador, são mãos medíocres contra outro. Por exemplo, se temos hkst num flop skdjc4 contra um 65/44, temos um monstro. A mesma mão contra um 12/8 é uma mão marginal de SD, no melhor dos casos. Saber distinguir também quão vulnerável é a nossa mão é muito importante na hora de decidir que caminho queremos seguir numa determinada mão. Isto está muito ligado ao tipo de board, porém, também com o tipo de rival. Estudaremos cada tipo de mão, board e oponente em separado, vendo como se relacionam todos os factores entre si.

Tecnicamente, a força da nossa mão em valor absoluto é algo que todos sabemos. Um par de noves é uma mão melhor que um par de oitos e pior que um par de dez (de certeza que estás a pensar que foi preciso chegares a Doutorado para saber isto :P), porém na realidade isto não nos serve de muito na hora de tomar uma decisão numa mesa de Poker. Ter has9 num flop s2d2h9 é ter uma mão mais forte que ter hts2 num flop dtcjhq.

Na prática, o importante é que a percentagem da mãos que o rival jogaría ultrapasse a nossa em determinada board. É fácil de ver que há muitas mais mãos melhores no segundo exemplo do que no primeiro, especialmente se o rival tem no seu range muitas cartas médio/altas (coisa que é bastante habitual: os jogadores tendem a jogar mais cartas altas que baixas por razões relativamente óbvias). Portanto, é evidente que o que nos interessa é tentar determinar, com a maior precisão possível, quão forte é a nossa mão em cada situação. Isto será diferente de acordo com os ranges pré-flop do oponente, a posição, o tipo de board e a nossa mão.

Factores relacionados com o tipo de rival

Range de mãos pré-flop do oponente

Este é provavelmente o factor individual mais importante. Não o ter em conta e pensar nas mãos de forma absoluta é um erro catastrófico.

O range pré-flop do oponente modifica enormemente a força média da sua mão no flop, o que modifica a força da sua mão no turn e no river. A única forma de ter ranges de mãos mais fortes para além do flop, jogando ranges de mãos muito amplos pré-flop, é tendo um fold to Cbet altíssimo (o qual é uma leak impressionante por si só). De facto, o nosso planeamento de jogo contra fishes está baseado nisto: posto que os seus ranges de mãos pré-flop são muito amplos e não abandonam demasiado à Cbet, os seus ranges de mãos no turn e river vão ser muito débeis.

Não esqueçamos que as mãos vão parar a algum sítio dentro dos seus ranges. Quando o range pré-flop inclui muito lixo, muito deste lixo continua a sê-lo na maioria dos flops (razão pela qual era lixo pré-flop, em primeiro lugar). Não podemos assumir que um jogador que abandona na BB contra roubo 50%, e nos paga o nosso raise a partir da SB, nos vai pagar a Cbet num flop K84 só com top pair ou mid pair e bom kicker, salvo se o seu fold to Cbet% estiver próximo de 80%. Simplesmente tem montanhas de lixo no seu range pré-flop, do qual muito pouco liga mãos fortes numa board dry (e na realidade, em qualquer board). Se tem um fold to Cbet baixo, é porque sistematicamente paga (ou faz raise) a Cbet com mãos muito débeis para além de com as suas mãos aceitáveis. Se temos uma mão como mid pair, vamos querer levar a mão a showdown muito mais vezes que contra um jogador com stats pós-flop idênticos mas com um fold BB to steal de 88%.

Este factor tem uma importância enorme no decorrer de uma mão. Se és leitor habitual dos fóruns, já te deves ter dado conta de que quando um usuário coloca uma dúvida no turn ou river e não põe estatísticas completas do rival, os professores perguntam-lhe os seus valores pré-flop. A razão é que quando se avalia a força da nossa mão, os seus ranges pré-lfop são um factor crítico.

Quanto mais amplos são os seus ranges pré-flop, mais forte é uma mão contra um rival em concreto e, portanto, poderemos apostar por valor com mãos piores e/ou esperar mais bluffs por parte dos oponentes.

Para determinar os seus ranges de mãos com alguma precisão, devemos ter em conta os seus ranges pré-flop estimados para a situação em que nos encontramos. É absurdo pensar que um 22/18 vai jogar um range de mãos remotamente similar quando paga o nosso raise UTG de UTG+1 e quando nos paga um raise da SB na BB. Determinar ranges pré-flop precisos é impossível na maioria dos casos, porém não o é ter uma ideia da amplitude dos ranges e do tipo de mãos que vai jogar. Por outro lado, pensar nas posições relativas e em como o rival encara o nosso jogo é também algo muito importante. Um re-raise a partir da BB não tem o mesmo significado se nós abrirmos UTG ou na SB. Isto também tem muita incidência no jogo pós-flop. Podemos esperar que os rivais nos paguem/subam com piores mãos pré e pós-flop tanto mais quanto mais amplos forem os ranges de mãos envolvidos na situação em questão.

Tendências pós-flop do oponente

Este factor também tem muito peso na hora de determinar quão forte é a nossa mão e, portanto, a linha de jogo mais rentável. A forma simples de pensar nisto consiste em imaginarmos com que mãos nos iria pagar um raise no flop. À partida poderíamos pensar que quanto mais baixo fosse o Raise Cbet do nosso oponente, mais forte seria a sua mão média e, portanto, mais forte a mão que necessitaríamos para pagar. No entanto, como já sabemos, este tipo de estatísticas estão muito corrompidas. Muitos jogadores têm um valor de Raise Cbet% muito baixo porque pagam com a imensa maioria das suas mãos fortes, fazendo raise com bluffs e/ou semi-bluffs. Portanto, não é tão simples como procurar uma determinada stat e tomá-la como top range.

Por outro lado, as estatísticas pré-flop têm muitíssimo peso nos seus valores pós-flop. Se o rival joga muito poucas mãos, se tem um fold to Cbet relativamente baixo e umas agressóes altas, não significa que seja um maníaco completo. Simplesmente, joga agressivamente as suas mãos boas e alguns bluffs. Porém, dado que os seus ranges pré-flop são curtos a sua mão média no flop é relativamente valiosa e , portanto, tem muitas vezes uma mão forte que joga agressivamente. As mesmas estatísticas pós-flop para um rival muito loose indicam, no entanto, que joga muito agressivamente com mãos muito débeis e teríamos que adaptar o seu range e, portanto, a força relativa da nossa mão a ele. Analisar as suas estatísticas pós-flop sem ter em conta os valores pré-flop é então impossível, já que de forma independente na realidade não indicam grande coisa (salvo valores realmente extremos).

Estando a analisar de forma independente, sempre que a amostra seja fiável, os valores mais úteis são os Fold vs Cbet e similares. Em geral, qualquer valor que nos dê uma % de abandono reflecte algo de forma directa. Ninguém em plena consciência abandona as mãos fortes, porém o que é certo é que não nos importa muito que mãos abandona se em determinada situação o oponente abandona mais do que deveria e apostar contra ele é rentável. Contudo, inclusivé com estes valores, não esqueçamos que falamos de uma média: que um rival abandone 55% a Cbet (fazendo com que a Cbet seja rentável, à prióri) não significa que abandone 55% em todos os flops. Isto está muito relacionado com o tipo de board.

Quando o oponente é um regular, é essencial que usemos notas e tenhamos uma noção mais ou menos clara do que faz. Temos um artigo inteiro sobre o tema, dada a sua importância. ->“Análise avançada de regulares”<- . Ser muito consciente do que fazem os regulares é essencial para melhorar o nosso win rate contra eles.

Factores relacionados com o tipo de board

Frequência de acertar

Este factor não é sempre tão óbvio como parece. Quando dizemos isto referimo-nos a quão “fácil” é para o range de mãos de cada jogador ter ligado numa board determinada ou quão provável é que a carta do turn ou river tenham ajudado a um ou outro jogador. O exemplo clássico disto é o dos flops Axx. Como sabemos, se somos o agressor pré-flop apostamos sistematicamente estes flops e contra muitos rivais repetimos o processo no turn. Simplesmente, há muitíssimos mais ases no nosso range que no do nosso rival e quando temos o Ás, a maioria das suas mãos não têm equity para continuar. Isto converte as apostas neste tipo de boards em algo muito rentável, já que nem sequer precisamos de apostar grande quando temos o Ás (já que a mão não é vulnerável, factor de que falaremos a seguir).

Este factor e a vulnerabilidade da nossa mão estão muito ligados e é obviamente um factor de peso em ambas as direcções. Há boards que ligam muito com os ranges do oponente e boards que ligam muito com os nossos. Os flops de cartas médias/altas e coordenados são boards onde uma elevada percentagem das mãos que os jogadores escolhem jogar ligam de algum modo (ao fim e ao cabo, praticamente todos os jogadores preferem as mãos com cartas médias e altas às cartas baixas, e as mãos conectadas às desconectadas). Supostamente, quanto mais amplo é o range pré-flop do oponente, mais difícil é que tenha ligado em qualquer board, porém até ranges bastante amplos ligam por vezes em boards como 89J, 78T e similares.

Quanto mais fácil for ligar com a board para o oponente, pior é apostar. Do mesmo modo, quanto mais difícil for que o oponente tenha ligado com a board, mais rentável é a aposta. Isto é mais importante do que quão provável é que a board nos ajude a nós.

Este é um factor centrado no jogo pós-flop, porém, também é essencial no jogo pré-flop. A questão é que neste aspecto já o temos assimilado como parte intrínseca do nosso jogo, e é a razão pela qual abrimos muito menos mãos nas primeiras posições do que na SB. Simplesmente, é tão mais provável que um rival tenha uma mão forte (ou seja, que tenha “acertado” pré-flop) quantos mais rivais faltarem falar.

Vulnerabilidade

Como já sabemos, a vulnerabilidade de uma mão é a forma de medir quão perigosas são as cartas futuras para a nossa mão. É um conceito que está sempre vinculado à equity das mãos, já que uma mão muito vulnerável tem sempre menos equity, já que as cartas futuras poderiam fazê-la perder o pote. As mãos vulneráveis beneficiam que o dinheiro entre no pote o quanto antes, sempre que sejam favoritas para ganhar a mão.

A razão pela qual isto é verdade deve-se ao que conhecemos por “proteger a nossa mão”. Quando apostamos, obrigamos o rival ou a sacrificar a sua equity do pote ou a pagar por ela o valor da aposta que fizermos. Quanto maior é a sua equity no pote, mais ganhamos quando abandona, e portanto, mais nos beneficia apostar (e/ou apostar maior). A vulnerabilidade da mão é um factor muito importante na tomada de decisões, já que faz com que o custo de dar uma carta grátis seja muito mais elevado, e muitas vezes entra em confronto com o controlo do tamanho do pote.

Grau de ajuda da board

Obviamente, na hora de avaliar a força da nossa mão, ter em conta “o que temos” é importante. 32off pode ser a pior mão do Poker mas num flop A45 rainbow, a nossa equity contra qualquer range vai ser elevada. Se temos uma mão que é mais forte que algumas das mãos com as quais o nosso adversário poderia estar a apostar e/ou fazer raise por valor, praticamente nunca será correcto abandonar. Tenhamos em conta que estariamos a ganhar a todos os seus bluff/semi-bluffs e a algumas das suas mãos “fortes”.

  • Por exemplo, se temos has4 com 210bbs de stack efectiva, podemos estar dispostos a abandonar numa board sadac3 contra um rival tight, já que o nosso rival não faria raise por valor com mão piores que a nossa e teremos que avaliar quão provável é um bluff. No entanto, num flop h3s3cj, abandonar c3s2 seria muito pior, dado que o nosso oponente poderia estar a fazer raise por valor com mãos como hasj, hqsq, hksk ou hasa (sem ter em conta que é menos provável que o rival jogue um 3 ou um Ás, em geral). Porém, a ideia é simples: Se o rival fizesse raise por valor com mãos piores que a nossa, abandonar quase nunca é uma alternativa.

Não esqueçamos que é muito dificil ligar mãos muito fortes: abandonar com mãos muito boas é, na maioria dos casos, um erro. Precisamos de ter muita certeza e, mais ainda, ter muita stack atrás, para que abandonar seja uma alternativa.

Por outro lado, os projectos são mãos que não têm razão para ter um grande valor de showdown (ainda que ocasionalmente o tenham, especialmente projectos com A high que têm um valor medíocre de showdown contra muitos rivais). A característica particular dos projectos é que, em geral, adicionam equity à mão sem que seja tão importante o range do oponente, uma vez que, normalmente, quando se completam vamos ganhar o pote, inclusivamente contra ranges relativamente curtos.

Tipos gerais de mão

Mãos que não podem ganhar no Showdown

Estas mãos são o tipo de mão mais débil que existe: Mãos que fundamentalmente não têm opção de ganhar o pote se chegarmos ao Showdown, e que perdem até contra alguns dos seus bluffs. Também devemos pensar em mãos deste tipo se a nossa mão, apesar de poder ganhar uma vez ou outra, não pode pagar uma aposta do oponente e que este nos vai fazer um bluff com a maioria das suas mãos piores. Isto significa que o escasso valor de showdown da nossa mão não se materializará, já que não chegaremos a SD contra as mãos piores.

A questão com estas mãos será sempre surgir a possibilidade de roubar o pote e comparar o rácio risco/recompensa na situação em que nos encontremos.

Temos skst UTG e abrimos. Paga-nos o CO, um 19/13 com um fold to CBet de 54%. O flop é s9c3h7. A nossa mão não pode ganhar em SD contra um rival assim a partir do momento que nos paga uma aposta, já que no seu range pré-flop não há uma única mão pior que a nossa, e se houver, não vamos poder pagar-lhe qualquer aposta dado que o seu range de Bet em qualquer ronda teria demasiadas mãos melhores que a nossa.

Temos s3c3 no CO e abrimos. Paga-nos a BB, um 24/19, com um fold to CBet de 47% e um fold BB to steal de 82%. O flop é hahqct. A nossa mão não pode ganhar no Showdown, já que se nos paga a aposta de continuação vai ter uma mão melhor que a nossa a imensa maioria das vezes.

Temos s9s8 na SB e abrimos. Paga-nos a BB, um 29/18 com um fold to CBet de 39% e um fold BB to steal de 70%. O flop é cqc7s5. A nossa mão não pode ganhar em Showdown, já que se o nosso rival tem uma das pouquíssimas mãos a que ganharíamos, não vai chegar ao showdown sem apostar, aposta essa que não poderemos pagar (teremos que escolher entre bluff ou abandonar de qualquer maneira).

Bluff catchers

Este grupo inclui as mãos que ganham aos seus bluffs, claro, mas que não ganham a mais nada que faça sentido. São mãos com as quais é bastante difícil, para não dizer impossível, apostar por valor de forma rentável. No entanto, continuam a ser mãos relativamente vulneráveis no melhor dos casos, e apostar para protegê-las é necessário antes do river. As mais débeis deste grupo podem chegar a converter-se em bluffs quando a board se complica, ou contra rivais que abandonam de mais com mãos médias pós-flop. São mãos que não gostam de enfrentar um raise de um jogador loose e agressivo. Lucram por induzir bluff e são mãos muito difíceis de jogar correctamente, especialmente quando o pote se torna grande. Estas mãos beneficiam muito de ter posição.

Temos sas3 no CO e abrimos. Paga-nos um 14/10 no botão, com um Fold to CBet de 59% e um call Open no botão de 5%. O flop é dac7h4. Temos um bluff catcher, apenas melhor que um bluff. O nosso rival não vai pagar mais de uma aposta com quase nenhuma mão, e quando nos paga tem sempre melhor que nós, com a possível excepção de algum hksk ou hqsq que, de qualquer maneira, não voltará a apostar no resto da mão. Apostaríamos o flop com qualquer duas cartas, porém, se o rival continua no pote, assumiremos que a nossa mão é um bluff (salvo se o turn nos dê dois pares) e abandonaremos se ele apostar. Podemos chegar a pagar uma aposta pequena no river se ele tiver feito Check Behind no turn.

Abrimos dadq UTG+1 e um 18/14 paga-nos na BB. O flop é skcqh9. A nossa mão aqui é um bluff catcher, já que o seu range pré-flop acerta muitíssimo neste flop. São poucas as mãos que não acertam neste flop (fundamentalmente, pocket pairs pequenos), que vão abandonar a uma aposta e que não tenham sequer equity para continuar. hksq, hksj, hkst e hjst ganham-nos. Vai jogar poucas mãos, excepto hasj e hast, para além de algum hts9 ou hqst a que ganhamos. Se mostra força, vamos estar batidos uma elevada percentagem das vezes. As vezes que temos a melhor mão, esta será bastante vulnerável, dado que inclusivé hqst ou hqsj, mãos que dominamos, têm outs adicionais.

Abrimos s8h6 na SB. A BB, um 18/12 com um fold to CBet de 55% e um fold BB to Steal de 89% paga. O flop é hkh8c3. Temos um bluff catcher, dado que o seu range pré-flop é relativamente forte e quando liga com o flop tem sempre uma mão melhor que a nossa. No entanto, em SB vs BB pode chegar a pagar-nos com ar algumas vezes e se temos a alternativa de chegar ao SD de forma económica, podemos considerar fazê-lo.

Abrimos s8h6 na SB. A BB, um 29/18 com um fold to CBet de 35% e um fold BB to steal de 63% paga-nos. O flop é hjh8c9. Temos um bluff catcher, dado que apesar de os seus ranges serem muito amplos, acerta neste flop bastantes vezes e a nossa mão tem muito pouca equity contra qualquer mão que tenha ligado com a board. Inclusivé se temos a melhor mão, a nossa mão continua a ser vulnerável, o que faz com que a nossa equity seja baixa.

Abrimos com sks5 na SB. A BB, um 29/18 com um fold to CBet de 35% e um fold BB to steal de 63% paga-nos. O flop sac7d2. Apostamos e o rival paga. O turn é um d7. Temos um bluff catcher, dado que é um flop em que é muito difícil ligar e no qual o adversário nos vai fazer float muitas vezes com mãos piores. A nossa mão ganha à maioria das suas mãos, porém não lucra demasiado em apostar o turn, a menos que tenhamos a certeza que podemos pagar o seu push ou se sabemos que é muito passivo e nunca fará raise em bluff.

Mãos médias de SD

Estas mãos são mãos que batem bastantes mãos dentro do range pré-flop do rival, sem serem tão fortes que nos interesse que o pote cresça desmesuradamente. Parecem-se com as mãos da secção anterior com a diferença de que se convertem em bluffs muito menos vezes e que podem apostar por valor no river mais vezes, sobretudo se a sequência no turn foi Check-Check ou o rival leva mãos muito marginais a SD. São mãos com as quais não gostamos de enfrentar um raise de um jogador “típico” já que não interessa demasiado criar potes muito grandes.

Lucram, tal como o grupo anterior, de induzir bluffs e da posição, ainda que sejam mãos que podem apostar-se por valor mais frequentemente. São, juntamente com as anteriores, o grupo de mãos mais complexo de jogar correctamente.

Temos hqhj UTG e abrimos. O jogador em MP paga-nos, um 23/17 do qual temos bastantes mãos. Tem um fold to CBet de 55% e em geral é um regular relativamente straightforward, ainda que como muitos regulares faz muito slowplay pré-flop com mãos fortes. As blinds abandonam. O flop é sjh8s4. O range pré-flop do nosso rival apenas contem mãos que quando ligam, ligam algo melhor que a nossa mão (salvo algum mid pair e talvez hjst, se ligou no flop). Por outro lado, ele vai falhar o flop muitas vezes e aí temos a melhor mão. O nosso rival não vai fazer raise com mãos piores que a nossa por valor, e a maioria das vezes que tente criar um pote grande, ter-nos-à batidos. No melhor dos casos terá um semi-bluff forte. Portanto, temos uma mão média de showdown e devemos actuar em consequência. Se temos uma stack muito curta (20bb ou menos) ver-nos-emos obrigados a pagar o seu push no flop se ele o fizer, porém, em geral, é uma mão com a qual não quereremos jogar um pote grande. O factor essencial aqui é o range pré-flop do nosso rival, ao qual se soma um jogo pós-flop relativamente normal.

Abrimos dadq UTG+1 e um 18/14 paga-nos na BB. O flop é skcqd3. A nossa mão aqui é algo melhor que no caso de hksqc9, já que só nos bate se tem um Rei e a nossa mão é muito menos vulnerável. Em geral, vamos tentar levar a mão a SD de forma económica, coisa que poderemos fazer fazendo check numa ronda.

Abrimos s8h6 na SB. A BB, um 29/18 com um fold to CBet de 35% e um fold BB to steal de 63% paga. O flop é hkh8c3. Temos uma mão relativamente forte e não excessivamente vulnerá
vel. A nossa intenção deveria ser levá-la a SD. A nossa mão está muito à frente do seu range pré-flop e bastante à frente do seu range com que passará do flop. É uma boa mão que muitos jogadores subvalorizam. A mão é menos vulnerável do que parece porque o seu range é amplo e não há razão para ter duas overcards. É muito pouco provável que tenha um projecto de cor ( e se o tiver, de qualquer maneira, tem tanta equity que não o castigamos demasiado) e além disso duas overcards não têm uma equity assim tão alta, já que a nossa equity contra uma mão como hjsq neste flop está perto dos 80%.

Mãos fortes

Estas são mãos que podem apostar por valor e ser pagas por mãos piores. Com SPRs baixos estas mãos não têm muito que se lhes diga, já que nos vamos sempre comprometer com elas. No entanto, com SPRs de dois digitos, podem por-nos em situações muito comprometedoras. São mãos para as quais um raise de um jogador tight se torna muito incómodo. O controlo do tamanho do pote é relevante com SPRs altos e com este tipo de mãos por este motivo.

Temos hqhj na SB e abrimos. Um oponente Tight agressive (23/17 com um fold CBet de 55% e que pensamos que tem um jogo straightforward) paga-nos. O flop volta a ser sjh8s4. Neste caso, a nossa mão é muito mais forte que no exemplo similar de UTG vs MP. O nosso rival vai estar a jogar muitas mãos pré-flop e, para além disso, vai jogar mais agressivamente com mãos mais débeis. Mais ainda, muitas das mãos que nos dominam frequentemente entrarão no seu range de 3Bet ao estar blind vs blind, pelo que o risco de estar batido é todavia menor. A nossa mão aqui é forte. O factor essencial é o range pré-flop e em menor medida o incremento de agressividade no jogo pós-flop ao estar em blind vs blind.

Temos sas9 no CO e abrimos. Paga-nos um 29/18 no BTN, com um fold CBet de 35% e call Open no BTN de 22%. O flop é dac7h4. Neste caso, temos uma mão forte de showdown e vamos querer mostrar a nossa mão, já que o range de mãos do nosso rival é muito amplo e, para mais, joga muitas mãos pós-flop. Não podemos abandonar top pair contra ele só porque nos paga uma aposta.

Abrimos dadq UTG+1 e um 18/14 paga-nos na BB. O flop é cqd8s3. Temos uma mão forte, no entanto, se o rival mostrar força extrema podemos ver-nos obrigados a abandonar. Não faria raise com muitas mãos piores por valor, porém não há tantas mãos (salvo sets) que tenham uma mão mais forte que a nossa aqui. Quando isto acontece, devemos estar muito seguros de que o rival em questão joga de forma muito straightforward antes de abandonar, e só o fazer se o SPR for realmente grande. Esta mão é bastante forte porque há muito poucas combinações de mãos melhores que a nossa, pelo que, o estilo de jogo do rival faz com que se mostrar muita força, provávelmente é sinal de que temos problemas. É uma mão que pode apostar 3 rondas por valor e ser paga por mãos piores como hqsj ou hksq, e que é impossivel que se converta num bluff.

Mãos muito fortes

Este tipo de mãos procura, em geral, jogar potes tão grandes quanto for possível. São mãos que estão à frente do range com que o rival se comprometería com o pote. São mãos muito fortes e, em geral, são, no pior dos casos, medianamente vulneráveis. O nosso objectivo com estas mãos é jogar um pote tão grande quanto for possível, salvo em situações com SPR completamente absurdos, onde chegados ao extremos, apenas jogariamos as nuts (com as quais logicamente queremos sempre um pote grande).

Abrimos dadq UTG+1 e um 18/14 paga-nos na BB. O flop é cqsqd3. Temos um monstro, que ganha a várias das mãos com as quais o nosso rival subiria por valor. Salvo num mundo imaginário com 600bbs ou algo parecido, esta é uma mão com a qual queremos jogar por todas as nossas fichas. A nossa mão ligou tanto com a board que, inclusive se o rival não tem bluffs no seu range, abandonar não é uma opção.

Abrimos com d5h5 no CO e o BTN paga. Um desconhecido que parece jogar loose e agressivo, pelo que temos pouca informação. O flop é c7s5s8. Temos uma mão muito forte apesar de ser vulnerável. Interessa-nos criar um pote tão grande que nos permita ir all-in no flop.

Abrimos s8s6 no BTN e a BB, um 19/16 do qual não temos demasiadas mãos, paga. O flop é skc8c6. Temos uma mão muito forte e relativamente vulnerável e queremos fazer crescer o pote no flop para retirar valor de muitas das suas mãos piores, como um K com bom kicker e projectos.

Nuts

Com este grupo de mãos o nosso único objectivo é conseguir que todo o dinheiro acabe no pote, sem importar o tamanho da nossa stack ou das sucessivas cartas que faltam sair, já que a nossa mão é quase invulnerável. São mãos que estão muito à frente do range com o qual o rival se comprometeria felizmente com o pote e, portanto, o essencial é tentar que meta o máximo dinheiro possível em todos os casos.

Abrimos h6d6 no BTN e um 17/12 paga-nos na SB. O flop é s6s5c5. Temos a segunda melhor mão possível, pelo que ganha a todas as mãos com que o nosso rival pode fazer raise no flop, excepto uma. Nesta situação vamos sempre querer acabar all-in, inclusivé com SPRs muito altos.

Abrimos h8d8 no CO e a BB paga. O rival é um 28/21 bastante agressivo. O flop é cjdjc8. Temos uma mão extremamente forte com a qual nos interessará acabar sempre all-in.

Projectos

Os projectos não são um tipo de mãos como os anteriores mas de certa forma sobrepõem-se com as classificações prévias. Isto é, uma mão pode ser ao mesmo tempo um “bluff” (no sentido de que não pode ganhar no SD se não melhora) e um projecto. Como já dissemos antes, a característica fundamental dos projectos é que adicionam equity à mão, e portanto, na hora de realizar bluff reduzam o PME necessário, já que ganhamos mais vezes quando nos pagam. Quando um projecto tem tantos outs que quando nos pagam não perdemos (ou melhor, ganhamos) dinheiro, jogar a mão agressivamente como um bluff é sempre rentável.

Porém, não esqueçamos que como em todas as apostas, temos que conseguir proteger a nossa mão, apostar por valor, ou, então, apostar para tirar o rival de mãos melhores para que queiramos fazer qualquer aposta, o que inclui um bluff e, portanto também, um semi-bluff. Se queres ler mais sobre isto, volta a ler ”Razões para fazer uma aposta”.

Se temos uma mão que, apesar de ter equity quando nos pagam, não é vulnerável e tem um valor médio de SD, normalmente apostar ou fazer raise não servirá para grande coisa, independentemente da equity do projecto que tenha associado. Será uma má aposta por valor (dado que muito poucas mãos piores pagarão), um mau bluff (porque muito poucas mãos melhores abandonarão) e uma má aposta para proteger a nossa mãos (já que não é vulnerável).

Em conjunto, portanto, um projecto adiciona equity à nossa mão para decidir se tentamos ou não um bluff e para decidir se estamos ou não comprometidos com o pote para enfrentarmos um raise. Isto é verdade para todos os projectos, incluindo os backdoor, embora, é claro, a equity que adicionam melhora com a quantidade de outs e a qualidade das mesmas (a probabilidade de ganhar quando ligamos a nossa mão, e em menor medida, o dinheiro “adicional” que podemos ganhar quando ligamos).

Vejamos isto com alguns exemplos:

Abrimos com sjst no BTN e a BB, com 45bb de stack efectiva, paga. É um 28/21 com um fold BB vs steal de 71% e um fold CBet de 43%, bastante agressivo. O flop é dkcjs9. Fazemos a aposta de continuação de pouco mais de meio pote e o rival paga-nos. O turn é o s8 e o rival sai a apostar o pote, o que o deixa com umas 30 blinds na stack num pote de 30bb se pagarmos. Nesta situação temos uma equity tão elevada que abandonar é impensável, salvo se o rival nos mostrasse hqst, e mesmo assim seria marginal (se ele pagar tudo no river quando ligamos o flush e nós abandonamos quando não, ganhariamos dinheiro inclusivé embora o seu range fosse apenas as nuts). Por outro lado, se fizermos raise, a nossa aposta é um bluff horrível (porque não vão abandonar com mãos melhores) e é uma value bet muito má (porque poucas vezes vão pagar com mãos piores). A nossa mão não é vulnerável e a única carta que poderia preocupar-nos é um Ás, já que temos tanto o projecto de cor como o de sequência. Portanto, fazer raise não serve para nada e pagar é melhor.

Abrimos com s7s6 na SB e a BB paga-nos, um 21/17 do qual não temos demasiadas mãos. A stack efectiva é de 40bb. O flop é dac4s5. Apostamos meio pote e o nosso rival faz-nos um raise para 3x. É uma muito boa situação para fazer re-raise All-in em semi-bluff.

Abrimos dadj nas primeiras posições. Paga-nos o BTN, um regular sLA. O flop é s8d9dq. Apostamos e ele paga. O turn é o c4. Neste ponto temos uma mão com tanta equity que, aconteça o que acontecer, não vamos querer abandonar e temos que decidir se é melhor converter a nossa mão que é um bluff catcher em SD num bluff que pode tirar bastantes mãos melhores do pote. Neste caso, a equity adicional que nos dão os projectos, faz com que esta alternativa seja muitíssimo mais atractiva e, portanto, optamos pela segunda aposta ou pelo Check-Raise em função dos tamanhos de stack e do que soubermos do rival.

Resumo

Classificaremos as mãos em função da sua força, utilizando a força e vulnerabilidade da mão e dos ranges dos oponentes. Não devemos esquecer que não falamos do valor absoluto das mãos mas sim do seu valor relativo à board e ao oponente.

Separamo-las nas seguintes categorias:

  • Mãos que não podem ganhar no Showdown
  • Mãos que só ganham a bluffs (Bluff Catchers)
  • Mãos médias de Showdown
  • Mãos fortes
  • Mãos muito fortes

Como factor adicional, devemos ter em conta que todas as categorias anteriores podem ter projectos, que melhoram a sua equity no pote."


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