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Daniel Negreanu e os seus 2 Erros na WSOP

Daniel Negreanu esteve no centro das atenções quando lutava por um lugar nos November 9 das World Series of Poker de 2015. Não conseguiu e voltou a repetir o seu melhor resultado de sempre, um 11º lugar. Agora é tempo de seguir em frente não sem antes rever o que se passou, no seu blog.
 
À medida que vou ficando mais velho, mais maduro e melhor nos torneios de poker, os erros que faço são muito mais pequenos, mas nem por isso menos importantes. Quando olhamos por exemplo para o golf profissional, o que os faz melhores não são os seus 'shots' perfeitos, mas os seus erros são menores do que o jogador de golf médio. Quando se preparam para um buraco a 105 jardas, raramente acertam, mas ficam a 5 pés do mesmo.
 
Os dois erros que vou partilhar com vocês podem não parecer assim tão grandes, mas são os dois que se destacam para mim e que pensei que podia partilhar com vocês:
 
Mão #1
 
Justin Schwartz atira uma ficha de 500k no cutoff com blinds a 80k-160k e não diz nada. Eu sei que fazer limp faz parte do seu plano de jogo, mas ele tinha uma ficha de valor inferior que poderia usar se quisesse fazer call. Eu pensei que ele estava a fazer isto de propósito como se tivesse a intenção de fazer raise para que o resto dos jogadores da mão tivessem menos probabilidade de atacar o seu limp.
Tinha d8d7 no button e também fiz limp. Este é exactamente o tipo de mão que joga bem pós flop e não pensei que fosse necessário isolar o Justin. A small blind foldou e a big blind checkou.
O flop veio dks7c6 e ambos fizeram chec até mim. É aqui que vem o meu erro: apostei 250k. A big blind fez fold e o Justin, short stack, fez check raise para 600.000 fichas. Paguei com muito potencial para backdoor com 3 cartas para straight, 3 cartas para flush e um par.
O turn foi um c3 e ele foi all in de cerca de 3 milhões de fichas. Não pensei muito e fiz fold ao meu par.
 
Então qual foi o erro? O tamanho da minha aposta no flop deu espaço suficiente ao Justin para fazer-me check raise em bluff. Se eu tivesses apostado 450k, ele teria que arriscar algo como um milhão para me fazer bluff. Ao apostar apenas 250k num spot onde eu próprio poderia estar a fazer bluff, abri as portas para eu próprio ser 'outplayed'. Mais tarde descobri que ele tinha cqct, portanto ele ficou em flush draw no turn, mas ainda assim eu estava à frente. Não acho que o fold no turn tenha sido um erro, além de que, ele tinha 15 outs para me bater, algo que poderia facilmente ter sido evitado com uma aposta maior no flop.
 
Mão #2
 
Blinds a 150k-300k, o Alex (shortstacked) abre em middle position numa mesa 5-handed para 600k e eu defendo na small blind com cac6. Fomos heads up para um flop xtxtx3. Eu fiz check, ele apostou apenas 350k e eu paguei. O turn foi um x9 e ambos fizemos check, bem como no xj do river.
 
Então qual foi o erro? Este foi mais discreto portanto pensem sobre ele durante um minute..
 
Alguns podem argumentar que o call preflop foi um erro. Eu discordo e não é esse o erro. Quando eu faço check e ele aposta 350k eu senti que tinha a melhor mão, mas não tinha a certeza. A jogada seria o check/raise para um milhão e colocar a pressão no Alex. Um dez é uma carta muito provável de estar na minha mão (T9, JT, QT, KT, AT) e mesmo que ele tivesse 88 nas mãos, poderia considerar o fold. A verdade é que ele raramente teria uma mão dessas e apostava apenas 350k. Para pagar o meu check raise ele teria de apostar mais de 25% da sua stack e estaria em terra de ninguém no turn quer eu apostasse quer eu fizesse check.
 
No final, ele tinha xqx9 e acertou um 9 no turn para me bater nessa mão. Muitos iam olhar para a mão e dizer "teve azar". Eu não vejo valor nenhum nisso. Qual é a razão para dizer sorte ou azar? Será que eu joguei a mão da melhor forma que eu podia? Não.  Há valor em analisar o valor das tuas jogadas, não a variância.
 
A minha última mão foi xax4 vs djd3 num flop xadtdk. Muitos vão dizer que contra um jogador que abre 100% dos botões naquele spot, ir all in é a melhor jogada. Penso que para a maioria dos jogadores isto é uma verdade absoluta, mas não para mim e não naquela situação. A razão para isso é algo longa mas vou tentar resumir o melhor que posso:
 
O meu objectivo era ganhar o torneio e não chegar aos últimos 9. Eu sabia que o Joe estava a abusar da bubble e os outros jogadores não lhe estavam a dar luta. Eu sentia-me bem a jogar com ou sem posição contra um range fraco pré-flop. A minha estratégia não era adivinhar quando tinha uma mão pré-flop que pudesse pagar o meu push, mas sim ver flops contra ele e extrair valor do seu range fraco sempre que pudesse ao invés de procurar o double up num flip. O meu objectivo era grindar o double up. 
 
Estava a funcionar e eu tinha conseguido ir de 4 milhões a 8 milhões sem me colocar numa situação de all in. Eu estava a grindar a minha stack a ver flops e a ir all in com algumas mãos, quando necessário.
 
Quando atingi os 8 milhões, isto peritiu-me começar a defender mais abertamente a minha blind contra o Joe. Algumas ronndas depois, defendi a minha blind com um raise all in com KT, uma mão muito melhor para ir all in que um A4, tendo em conta como ele estava a jogar.
 
Assim, eu tinha 3 razões para fazer call e não raise com A4:
 
1) Balancear um pouco o meu range de call na blind
2) Vou ganhar valor extra pós flop quando bater um ás. Ele não pode fazer check num ás.
3) Evito colocar-me numa situação de all in pré-flop com desvantagem de 2-1 em caso de ser pago
 
Quando vi o flop, a mão jogou-se a ela própria e não tinha que ser doutra forma. Se eu tivesse ganho aquele pote, estaria confortavelmente sentado com 14 milhões de fichas. É assim que eu jogo. Lutar, lutar, lutar, ver flops e tentar ir all in quando necessário esperando que a mão aguente. Não foi assim desta vez, mas estou bastante contente com o meu jogo em geral e com o o facto de me ter mantido fiel ao meu jogo. 
 
Disse isto a um amigo ontem e termino com vocês assim: "O jogo é mais simples do que as pessoas o querem fazer. Só é complicado, quando o queres complicar."