"The problem is no one gives a fuck" Rob Yong
Com dezenas de anos de contacto com o poker, Rob Yong é uma das figuras incontornáveis do nosso jogo e a sua forte ligação com a partypoker atribui um peso às suas opiniões e variadas perguntas nas redes sociais que poucos indivíduos com responsabilidade se atrevem. Yong esteve envolvido na origem das muitas das inovações que agora caracteriza como más para o jogo, principalmente para o mais importante jogador do ecossistema: o recreativo.
O Dusk Till Down foi o primeiro a aceitar late registration, o primeiro a implementar reentry em torneios, primeiro a realizar múltiplos filghts 1 (nove) e mais ainda online via partypoker, naquele que foi o primeiro produto da parceria entre Yong e a companhia que no futuro seria comprada pela GVC Holdings, o 2015 Grand Prix $1 Milhão Gtd (que verificou overlay após reunir menos de 8k entradas das 10k necessárias).
"Almost all [new] models have started in some project I've been envolved with. But it's getting out of hand, that's what I'm saying" Rob Yong
O ponto central de Yong é fácil de entender: sem recreativos não há poker. Facto. São eles que conhecem o jogo via torneios, experimentam as mesas de cash games aquando da eliminação e que saboreiam a experiência de tal maneira que é fácil de lembrar as vitórias e menos difícil de esquecer as derrotas. Os que se divertem são essenciais para os que querem pagar contas.
A aparente dependência (vício?) dos actuais festivais de poker, ao vivo ou online, de prizepools garantidos tem como consequência o descontrolo que se vive hoje no mercado online e que se vivia no mercado ao vivo pré-pandemia.
There's lots of reentries and then there's this: pic.twitter.com/BdEUQ4byhR
— Isaac Haxton (@ikepoker) July 8, 2020
O screenshot no post de Isaac Haxton é da GGPoker, mesmo operador que agarrou a responsabilidade de ser o primeiro da história a acolher o maior festival de poker ao vivo de sempre, as World Series Of Poker, e onde programou o $10.000 WSOP Main Event com 22 dias iniciais e múltiplas entradas possíveis. Basicamente eram as mesmas 22, situação que após alguma celeuma internética, com palavras tugas, se dissolveu para três. De 22 para 3 pode ser a forma de medir a distância que vai desde o que o operador gosta ao que o jogador aceita.
If you’re a recreational player, let me honestly tell you your chances of doing good in the upcoming @WSOP GG Online Bracelet Main Event is far smaller than it should be.
It’s the Main. A Bracelet Event. Freezout is the way to go.
— João Vieira (@Naza114_oficial) June 27, 2020
Yong dá uma explicação, forte, para como chegamos até este ponto e Ingram concluí o seu pensamento:
"I would say that 99,9% of people on poker companies don't care about the game..." Yong, "They only care about the money!" Ingram
Aparentemente esteve acordada a realização das WSOP 2020 na plataforma partypoker, com Rob Yong a mediar a parceria, com valores aceitados e apenas a faltar assinaturas. O conceito era simples: mesmos torneios só que online. Mesmas datas, Mesmas variantes. Mesmas estruturas. Mesmas condições. Só que na partypoker.
Yong compreende o facto das WSOP ter falado também com outros operadores, apontando até que a PokerStars teria mais facilidade em realizar todos os mixed games que o calendário WSOP 2020 incluía, mas o champanhe nunca pode ser aberto porque... a partypoker abandonou. Segundo Rob, após um mês de espera dos papeis para assinar, em Março, o tempo para organizar o festival como acordado estava comprometido e assim a sala do ouro laranja saiu de cena.
Estranhamente, ou talvez não, a GGPoker agarrou a tarefa e parece estar a apostar forte em ser o concorrente mais próximo da PokerStars na sua hegemonia global, onde Yong aconselha a partypoker a apenas ficar a ver. Segundo o inglês, a partypoker não pode ser concorrente de operadores como a PokerStars, GGPoker ou ACR, pois a sua limitação a mercados regulados não possibilita o volume necessário para a competitividade. Mas ao contrário do que seria de esperar, Yong acredita que os actores dos mercados "cinzentos" são bons para o jogo.
A ideia é que tudo o que acrescente mais pessoas a jogar poker é bom. Para todos, grandes e pequenos, a recente entrada das cripto-moedas como meio de depósito e levantamento remove a maior ferramenta de pressão dos reguladores e reabre mercados. Está aberto o caminho para novas e poderosas salas. Poker Apps, agentes, mercados cinzentos ou até ilegais não atraem Yong a jogar, que prefere a segurança de um operador regulado, licenciado e auditado, mas este aponta à história das várias proibições, do álcool às drogas, para apontar que se houver procura, haverá oferta.
Mas mais escolhas onde jogar não significam mais jogadores para jogar com, ou contra, e é no segundo ponto que Yong tem os seus moinhos de vento. O britânico prevê que nos próximos cinco anos apareçam "quatro ou cinco" operadores a disputar mercados cinzentos e muitas dificuldades para as salas das companhias Flutter e GVC, PokerStars e partypoker, que não terão a possibilidade de implementar o malabarismo que a Global Poker está a aplicar em 49 estados dos EUA (abertura de conta oferece 5.000 Gold Coins, o equivalente a $1, é possível comprar mais e "resgatar prémio" para levantamentos).
"I bet with anybody that if I had a software as good as PokerStars, ..., and I went to go and live in Curacao and setup an online poker business, I would create the biggest online poker business in the world in 10 years. Bigger than everybody... I might be able to do it in 5 years" Rob Yong, que apesar da confiança diz gostar mais de poder viajar para os Estados Unidos.
Com o óbvio foco na qualidade do produto a oferecer, Yong claramente não prevê um mercado regulado global na próxima década, o que abre espaço (a tal "procura") às empresas que se separem dos tradicionais métodos de transferência onde os reguladores conseguem controlar.
"Liquidity is everything. Not having the american players is killing PokerStars.com and partypoker.com. It's a killer for those two sites. An absolute killer!" Rob Yong
Sem união de reguladores, sem americanos, sem chineses, com as barreiras de cada um dos reguladores, Yong prevê para as salas que representam percentagens minúsculas das suas companhias-mãe, cuja atenção está em entrar em todos os mercados pela via da regulamentação, um futuro negro para a PokerStars e ligeiramente menos negro mas também duro para a partypoker. Yong aponta de seguida aos operadores como ACR, GGPoker e próximas iniciativas como o futuro do poker online a curto-médio prazo. Sobre a Run It Once, Yong não descreve o projecto de forma animadora, pois a integridade de Phil Galfond e o caminho de obedecer às regras não é o que este prevê que seja o próximo caso de sucesso.
Rob Yong aborda ainda o tema dos poker stables que evolui para a conversa da segurança em geral no poker online. Bots, solvers, formas de jogo assistida são um "fraqueza" do poker online, que talvez possam ser combatidas com menos tempo de timebank, algo que os multitablers não serão certamente fãs. Segundo Yong, Brian Hastings, Sam Greenwood e Mikita Badziakouski já o abordaram para diminuir o tempo de decisão.
O tema da segurança é complexo, mas a forma como Yong sacou de Ingram uma avaliação "Players before business" das maiores marcas da actualidade criou um momento interessante. Ingram atribuiu pontuação mínima à PokerStars e às WSOP:
"Isn't it interesting that you gave the lower marks to the biggest brands of today?" Yong
"Mostly sad but also interesting..." Ingram
Para o dono do DTD a melhor solução é simples:
"My opinion is that it is possible to have an amazing poker business because poker does not make much money. Say you're a big vertical company, you have sports [betting] and casino and poker and you can say: poker is my aquisition tool, I'm gonna make poker absolutely brilliant, do all the things that are right for poker and I'm gonna get all the money back from casino and sports [betting].
That could actually happen." Yong
Yong vê o poker com um bom futuro caso esta forma de abordar os diversificados tipos de gambling seja experimentada, colocando o jogo poker ao lado das restantes estratégias de marketing, onde a oferta de um jogo onde há interacção com outros seres humanos atraia mais e diversificados novos clientes. Ingram e Yong têm visões antagónicas sobre se a PokerStars poderá articular-se neste tipo de modelo de negócio. O britânico vê a Stars cair enquanto que o mais jovem tem alguma esperança.
Quase três horas de conversa, muita conversa interessante para quem gosta do jogo e quer pensar um pouco sobre o futuro. Big two são agora big three e para Yong serão, no mínimo, big five no futuro:
Quando o mundo do poker perder Rob Yong, o jogo ficará mais desprotegido.
*foto partypoker LIVE
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