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''Se os HUDs fossem proibidos amanhã...apareciam os primeiros HUDs piratas'' por João Barbosa

João Barbosa

A respeito da discussão despoletada pelo André Akkari, sobre a proibição de HUDS. Esta discussão da proibição não é nova, já há pelo menos uma rede que não grava hand histories e não aceita HUDS. Muitos profissionais antes do André, se pronunciaram a favor da proibição dos HUDs, talvez seja a primeira vez que é dito por um profissional da Pokerstars.

Em teoria, o poker sem HUDs seria melhor, haveria mais margem para leituras "humanas" das situações, sem dúvida mais interessante para quem prefere uma abordagem criativa e menos automática. Se todos jogassem sem HUD os jogadores recreativos teriam menos desvantagem por serem mais dificilmente identificados os erros sistemáticos que cometem. Isso seria muito bom para todos, incluindo para os profissionais, pois os jogadores recreativos jogariam mais antes de desistirem por perderem a uma velocidade maior do que o que conseguem sustentar.

No entanto, tenho sempre muitas reservas em relação a proibições, por alguns motivos:

  • pode haver uma parte do field que utiliza softwares proibidos; criando uma desvantagem muito injusta para quem cumpre as regras.
    Não me importava de jogar sem HUD desde que tivesse a certeza que todos os meus adversários também jogam sem HUD, a mera hipótese de haver alguns a contornar essa regra, deixaria-me numa desvantagem desconfortável.
  • Não é possível proibir coisas que não são possíveis de verificar. No sentido do que disse acima, uma proibição impossível de verificar abriria uma vantagem grande para quem cumpre, e uma vantagem para quem não cumpre, premiar o infractor nunca é bom. Mesmo que alguns sejam apanhados posteriormente, nunca se repõe a justiça daquilo que já passou.
  • Algumas salas já têm comportamentos bastante abusivos na intrusão na privacidade dos jogadores e dos seus computadores pessoais. É algo que de momento aceitamos quando queremos jogar, mas conscientes que é um preço alto que estamos a pagar com o nosso direito básico à privacidade. Acreditamos que os dados recolhidos dos computadores pessoais dos jogadores, quando recolhidos e usados com boa fé, têm um efeito mais positivo do que negativo, se forem eficazes a prevenir certos tipos de batota ou de vantagem ilícita, mas nunca estamos seguros de como vão ser usados esses dados, nem de quem fica com acesso a eles.
    Tudo o que seja um aumento de intrusão por parte das salas é indesejável, o que seria inevitável no caso de proibirem os HUDs.

A industria dos HUDs tem muito peso actualmente, é um negócio de muitos milhões de euros, há muitos recursos de know how informático alocados ao desenvolvimento de HUDs. Se os HUDs fossem proibidos amanhã também amanhã apareciam os primeiros HUDs piratas a contornar as proteções das salas.

Não estamos a trabalhar numa folha em branco, como se o poker online tivesse começado ontem e estivéssemos a decidir se aceitamos HUDs ou não, desde o início. Isso faz toda a diferença, pois a vontade da industria dos HUDs conseguir sobreviver e a motivação dos jogadores habituados a HUD arranjarem uma forma de os usar em qualquer caso, são muito fortes.

De momento, o que se pode fazer para ir reduzindo o peso que os HUDs têm no jogo, é o que já se fez parcialmente quando se proibiu HUDs dinâmicos, ou seja ir proibindo certas funcionalidades, que retirem algumas das vantagens aos profissionais, mas mantendo a industria dos HUDs viável e de forma a que não compense infringir as regras. A melhor forma de garantir que as regras são cumpridas, é fazer regras que as pessoas possam cumprir sem serem prejudicadas em relação a quem não cumpre.
Não há grande motivação para um jogador que use o HUD infringir as regras, se das 50 stats que usa, ficar só com 49 ou 48 ou 47. Não vai arriscar ser banido por causa de uma pequena parte da funcionalidade do HUD.

O melhor caminho do estado actual para um menor peso dos HUDs passa por ir restringindo stats específicas que dependam da mão concreta que o jogador tem, da stack size, da bet size, da fase do torneio, do tempo que o jogador demora a apostar, etc.

João Barbosa