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Dupla detida em França por batota - Matt Berkey relembra casos similares desde 2023

A seguinte história mais parece saída da cabeça dos criadores de Ocean's Eleven. As autoridades francesas detiveram uma dupla de jogadores, que utilizando tecnologia de ponta terá feito batota a jogar blackjack e poker. O jogador profissional Matt Berkey relembrou vários casos onde ficou com a convicção que o mesmo método foi utilizado.

Segundo o site Franceinfo, na madrugada de 28 para 29 de Julho, a polícia francesa deteve dois homens no casino de Enghien-les-Bains. Dupla que utilizava uma microcâmara na lateral do telemóvel para conseguir ver as cartas distribuídas pelo dealer a cada jogador.

Alertada para a possiblidade de batota nas mesas do casino, a polícia montou uma operação na noite de domingo 28 de Julho para apanhar os meliantes no acto. A polícia acredita que os detidos, um letão na casa dos 60 anos e um ucraniano nos seus 40 anos, fazem parte de uma rede profissional de batoteiros que frequenta diversos casinos por toda a Europa.

O comissário da Polícia Judiciária, Stéphane Piallat, disse que "fomos capazes de identificar um sistema de batota único". E que sistema é esse?

Um dos elementos sentava-se na mesa, e outro ficava no carro. O jogador colocava o seu telemóvel deitado na mesa, que através de uma microcâmara na sua lateral, conseguia ver as cartas que o dealer ia distribuindo para cada jogador. As imagens eram transmitidas em tempo real para o outro elemento, que comunicava o que estava a ver ao que estava na mesa. Som a que o jogador tinha acesso através de um auscultador muito pequeno e imperceptível para qualquer outra pessoa. Tão pequeno que a polícia teve de usar um íman para conseguir tirar o mesmo, do ouvido do jogador.

A dupla foi detida de forma preventiva por fraude organizada, sendo que a polícia suspeita que terão ganho dezenas de milhares de euros em cada visita feita aos diversos casinos.

Durante as buscas ao carro e quarto de hotel, a polícia encontrou cartões de membro de diversos casinos europeus.

Esta notícia levou Matt Berkey a dedicar o mais recente episódio do seu podcast, Only Friends, a este tema. Não só abordando este caso, mas falando de casos vividos pelo mesmo, onde tem a certeza que terá sido usado o mesmo método.

Berkey estima que esta rede de batoteiros terá começado a operar há cerca de ano e meio, mas que existem suspeitas de que este método esteja a ser utilizado há 4 ou 5 anos.

O profissional norte-americano diz que um grupo de cerca de 100 jogadores de topo está convicto que foram vítimas desta rede, ao longo dos últimos meses. 

Segundo Berkey a câmara transmite as imagens para o telemóvel do jogador, que por sua vez está em chamada com o outro meliante partilhando o ecrã, por whatsapp ou discord.

Berkey explica que para o esquema funcionar, o jogador tem de estar nas posições 1,2,8 ou 9, mas preferencialmente nas posições 1 e 2, já que a vasta maioria dos dealers são dextros. E que as mesas privadas de cash games são mais susceptíveis, porque normalmente os jogadores podem escolher a posição. Ao contrário dos torneios onde as posições são sorteadas.

Falando de casos concretos, Berkey diz que vários casos tiveram lugar durante este verão nos casinos de Las Vegas, durante as World Series of Poker e que um dos casos desenrolou-se no $50,000 High Roller das WSOP.

Foram todos efetivamente apanhados, não foram banidos porque ninguém procurou pela câmara, mas o nível de confiança era tanto que foram todos barrados das mesas de high stakes. A uma destas pessoas foi pedido que tirasse o engenho da mesa, que no seu caso eram os óculos de sol.

Mas agora que as WSOP acabaram, toda a gente dispersou. Ouvi dizer que as mesas high stakes do Parx Casino (Pensilvânia) foram afectadas, diversos jogos no Commerce Casino (Califórnia) também foram vítima disto nas últimas duas/três semanas.

Numa extensa lista de suspeitas, o anfitrião diz que existem relatos que vão desde as WSOP, etapas EPT, etapas WPT, eventos Triton Poker Series, PokerStars Caribbean Adventure, todas as salas principais de Las Vegas, na Flórida, cash games privados, em casinos na Coreia do Sul, no Chipre, Montenegro, Noruega... Um número muito elevado e disperso de locais, que leva a acreditar que esta é uma vasta rede organizada.

As certezas de Berkey surgiram de casos que o próprio viveu:

Havia um tipo no nosso jogo que se destacou por duas razões. Tinha jogado pouco tempo contra ele na noite anterior, uns 90 minutos. E depois aconteceu uma mão de loucos. Na altura deveria ter percebido de imediato o que se estava a passar, já que existia uma grande probabilidade de algo não estar bem. Lembro-me que suspeitei de algo, mas existe uma grande diferença entre suspeitar de algo e estar convicto de que alguém está a fazer batota.

O goat estava na mesa já com uns whiskies bebidos, e o tipo na posição 2 abre under the gun, o goat 3-bet no botão e eu faço 4-bet com KQ e ele dá call de imediato à minha 4-bet. O goat saltou fora. O flop foi K94, todos de espadas. Obviamente avanço com c-bet, mas o pote ainda estava relativamente pequeno, uns $9,000. Apostei praí $2,200, call. Turn foi um 3 sem ser de espadas. Eu aposto metade do pote, praí $5,500/$6,000; call. No river sai 9 doutro naipe.

Não sei porque é que não apostei, mas senti que algo estava errado. A minha experiência com este jogador, é que sempre que ele chegava a showdown nunca o vi a perder. Por isso inclinei-me a pensar que sempre que aposto no river ele fez fold, ou então  de alguma forma tem a melhor mão. Já que no showdown nunca o vi a dar call e a perder. Instintivamente fiz check e ele apostou 3 vezes o pote. Nunca tinha visto isto. Não sei como descrever este tipo, um tipo simpático com uns 55 anos que parece que não sabe soletrar poker de trás para a frente.

Eu sei que ele não é bom, que raio é que se passa aqui? Penso em todos os cenários e o único que encaixava era ele ter par de 44. É impossível ele ter um 9, havia uma combinação de K9 suited, mas era muito improvável dar call à 4-bet. Era impossível ele ter um 9, ter um full-house. E atira-me com 3 vezes o pote quando eu posso ter par de reis? Por isso faço call, porque a minha mão é boa para dar call nesta situação. Ele mostra 97 vermelhos offsuit.

Outra coisa que reparei é que ele preferia jogar nesta mesa repleta de profissionais de $100/$100, do que jogar noutra mesa de $100/$100 com recreativos. E a razão é porque ele aparecia mais tarde e só entrava quando os lugares 1 ou 2 estavam disponíveis. Ele era o único recreativo na mesa, e por isso não eramos muito rígidos com ele, e se ele pedia para se encostar mais um pouco à esquerda, ninguém dizia nada.

No dia seguinte quase não joguei, estive apenas focado nesse jogador. Um par de mãos que chegaram ao showdown deixaram-me intrigado e passei praí hora e meia apenas a estudá-lo. E ele tinha a mesma rotina em todas as mãos que jogava. Reparei que ele estava com auscultadores, mas não me alertou já que apesar de mais ninguém estar de phones na mesa, se calhar não gostava de ouvir a Miley Cirus ou a Taylor Swift que tocava no sistema do casino. Mas ele tinha a caixa dos airpods na mesa, ao lado das suas fichas e o telemóvel estava no rail da mesa, no outro lado das fichas. Na altura não reparei, porque colocar o telemóvel ali não é assim tão estranho (foto no vídeo aos 47 minutos e 14 segundos). Mas ele não não tocou no telemóvel uma única vez, nem quando foi à casa de banho.

Reparei que sempre que ele recebia as cartas, de imediato colocava uma ficha em cima, depois quando era a vez dele e quando queria jogar, puxava as cartas para o outro lado (onde estava o telemóvel), como que mostrando as cartas ao telemóvel, e depois colocava-as no ponto inicial com um protector em cima. Foi quando reparei, ele fazia fold a todas as mãos que não puxava para o outro lado e jogava todas as mãos que puxava para o lado do telemóvel.

A primeira vez que Berkey reparou ou soube de algo similar, teve lugar durante a PokerStars Caribbean Adventure de 2023, e em conversa com outros profissionais ficou a saber de outro caso num evento Triton. Neste último, foi pedido ao jogador que retirasse as jóias, nomeadamente a suspeita recaía sobre um anel onde estaria a microcâmara. Berkey não se recorda se neste caso o jogador foi expulso do torneio porque se recusou a tirar o anel, ou se depois de recusar tirar o anel acabou por o tirar e foi eliminado pouco depois.

Berkey diz que uma solução fácil para contrariar este esquema, mas que pode demorar um pouco mais a implementar, é obrigar os dealers a dar as cartas no formato European pitch; isto é: como no blackjack em vez de levantar as cartas atirando-as para os diversos jogadores, o dealer ter um auxiliar (shoe) de onde saca as cartas encostadas à mesa entregando-as dessa forma a todos os jogadores.

Para terminar, o norte-americano diz que não é motivo para alarmismo, mas que os jogadores devem estar mais atentos nas mesas. "No pior dos cenários tornaste um melhor jogador de poker. No melhor dos casos não és vítima de batota".

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