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Poker no “Primeiro de Janeiro”

O “Primeiro de Janeiro” visitou o Casino de Espinho durante o Fim-de-Semana do Solverde Special #3. Dessa visita resultou a publicação de uma pequena crónica, da qual aqui vos damos conta.

"Torneio de póquer feminino assinalou o Dia Internacional da Mulher"

Dama de Copas

Maria Maceiras, conhecida por “May”, foi uma das participantes no torneio, que decorreu no Casino de Espinho. É uma das melhores jogadoras do mundo, prefere os ases e tem sorte ao jogo e ao amor.
David Furtado

“May” é o nome pelo qual é conhecida nas mesas de jogo?
Não só. Aqui, por exemplo, toda a gente me chama “May”.

Há quanto tempo joga?
Comecei a jogar há dois anos e meio na Internet, por intermédio da Everest Poker, mas jogo póquer desde sempre, desde muito miúda. O meu pai ensinou-me com seis anos. Mas, a sério, jogo há dois anos e meio.

É uma das melhores jogadoras do mundo. Como se chega a esse patamar em dois anos e meio?
Tive muita sorte, tenho o suporte da Everest Poker e eles levam-me a jogar nos melhores torneios do mundo. Tenho oportunidade de jogar com os melhores jogadores do mundo inteiro. Desse modo, aprendo muito e foi assim que consegui melhorar muitíssimo em pouco tempo.

Onde já jogou?
Joguei em Monte Carlo, joguei a final do torneio europeu, joguei em Las Vegas, Londres, Dublin, França, Espanha e também cá, em Portugal.

De todos os sítios, qual foi aquele de que gostou mais?
Bom, em Las Vegas, porque é o torneio do mundo, o maior torneio que há e o melhor sítio para jogadores. Eu tinha um grande desejo de o conhecer e gostei muitíssimo.
E como correu. Ganhou?
Em Las Vegas, não. Ganhei em Espanha, em Setembro passado, onde fui a primeira mulher a vencer um campeonato espanhol e também o primeiro jogador, em termos genéricos, a ganhar dois. O segundo, ganhei em Dezembro. Estive dois meses retirada e agora voltei.

Quais as qualidades de um bom jogador de póquer?
Uff... muitas.

A sorte também desempenha um papel?
Não. É um jogo de habilidade, de estratégia e não de azar. Há 10 por cento de sorte e 90 de habilidade. Um bom jogador de póquer tem de ter muitas características: Tem de ser uma pessoa fria, calculista...

Esconder as emoções...
Sim, ter muito “cara de póquer”. E tem de ter muita paciência, equilíbrio entre a agressividade e a cautela. Mas, sobretudo, o que acho mais importante é que tem de ser uma pessoa com os pés na terra.

O que a atrai pelo jogo?
A euforia e a adrenalina que desperta. Gosto muito de todos os jogos de naipes, mas o póquer é o meu favorito, porque é o mais completo. É um jogo “precioso” porque não se joga com as cartas, mas sim, com as pessoas. Então é um jogo lindo, desperta muita tensão.

Costuma-se dizer, “sorte ao jogo, azar no amor”. É o seu caso?
Não! Eu tenho muita sorte nos dois, na verdade [risos]. Sou afortunada em termos... gerais.

Todo o mundo joga em Las Vegas
Que opinião tem dos jogadores portugueses?
Adoro jogar em Portugal, porque as pessoas são muito diferentes e estão sempre a animar, como se estivéssemos num jogo de futebol. O ambiente é muito bom. Em Espanha é um bocadinho mais sério e, noutros países, mais ainda. Mas cá é lindíssimo, porque todos estão sempre muito contentes, desfrutam muitíssimo do jogo. Também é verdade que o nível dos jogadores portugueses, no último ano, aumentou muito. Há jogadores muito bons, como por exemplo o “Sumi”... a verdade é que não sei o seu nome verdadeiro...

Jogou muitas vezes em Portugal?
Joguei cá em Espinho e também no Estoril, onde participei num torneio europeu da Everest Poker.

Qual é a diferença que encontrou em Las Vegas, onde gostou mais de jogar?
Todo o mundo joga lá e todos conhecem o jogo, ainda que não joguem. Lá, há muitos jogadores profissionais, muito famosos, e as senhoras abordam os jogadores na rua porque os conhecem. O jogo vive-se de forma diferente, é muito mais comum jogar. Há salas de jogo enormes, todas cheias de mesas, não se vê mais do que mesas, a perder de vista. É espectacular.

Está concentrada para este torneio feminino?
Só jogo amanhã [sábado] porque joguei ontem em Espanha num torneio. Não correu muito bem... mas hoje vim ver as senhoras.

Veio ambientar-se.
Sim. Amanhã jogo e já estarei concentrada.

Não sei se lhe deseje boa sorte...
[Risos] Não é necessária sorte, mas eu agradeço sempre. Obrigada!

Adaptar a jogada à pessoa

Quando o torneio começou, “May”, adoptara já a sua “cara de póquer” e observava o que sucedia nas mesas. Por perto, encontrava-se “Zumi”, ou melhor, Nuno Coelho.

“May” descreveu-o como um dos melhores jogadores de Portugal. Como reage ao elogio?
Apenas aprecio o jogo e tento dar o meu melhor. Sou essencialmente jogador de torneios, o que prefiro, embora o póquer tenha várias modalidades. Não sou melhor que ninguém. Cada torneio tem a sua história e a sua particularidade e tento-me adaptar a cada um deles.

Não há distinção entre mulheres e homens, no póquer?
Por acaso, estou curioso para saber. Vou assistir. Mas acho que temos boas mulheres a jogar póquer em Portugal e muitas delas chegaram às finais. A sorte é muito relativa e, como a “May” disse e com razão, é um jogo de estratégia, que nos obriga a adaptar cada jogada ao jogador em si, porque jogamos contra as pessoas. O que me atrai mais por este jogo é a psicologia, a abordagem; a questão do “bluff”, de falar com os adversários, intimidando-os psicologicamente.

A conversa é importante.
No meu caso, é essencial. Porque, de certa forma, intimido o jogador a não ir a jogo, dando a entender que tenho um jogo que não tenho, sem mentir.

Como comenta o facto de as expressões do póquer serem usadas na linguagem corrente?
Sou advogado e lido com muitas pessoas, em tribunal e seja onde for. Chego à mesa de póquer e tento passar para a vida real aquilo que sou na vida profissional; a função de mediador, de conversar com as pessoas. Isso, no jogo, é muito importante. Encadeiam-se as coisas. Mas é preciso saber interpretar o jogo, porque há muita gente que encara isto como um caso de vida ou morte, e também há a questão do vício. Eu encaro isto como um desporto e um “hobby”, ao mesmo tempo.

Os viciados em jogo não são bons jogadores?
Acho que não. O único móbil é o dinheiro, nada mais. É uma realidade incontornável.

O torneio suscitou a curiosidade dos homens que entravam no salão. Um deles, Nuno Machado, já participou em vários torneios.

Está curioso?
Sim, acho uma bela iniciativa da Everest, ao pôr as mulheres em contacto com o póquer ao vivo. E quem nos dera a nós, homens, termos prémios destes. Espero que a minha amiga que vai participar, obtenha um bom resultado.

Elas jogam melhor?
Não.

São mais calculistas?
Acho que elas vão mais pela certa... nós tentamos arriscar um bocadinho mais no “bluff” e, às vezes, dá certo. É quase como nós, quando falamos com elas. Às vezes, tentamos um “bluff”... umas vezes pega, outras vezes não, e saímo-nos mal!
“Um jogador de póquer tem de ter equilíbrio entre agressividade e cautela, mas, sobretudo, tem de ser uma pessoa com os pés na terra.”

“Acho que o torneio é claramente um sucesso”, refere João Nunes. “E a imagem negativa do póquer começa a desaparecer; aquela imagem presente na cabeça de 99 por cento das portugueses, que o associam aos cowboys e aos tiros, às máfias e às cartas na manga.”
O organizador sublinha que “não são as mulheres que estão a tomar conta do póquer. Acho que é a imagem a que este póquer está associado é uma imagem boa. As mulheres não se importam de serem associadas a ela. Temos aqui várias pessoas que são professoras, economistas, advogadas; têm um estatuto a defender na comunidade e não têm vergonha nenhuma de dizer, «eu venho aqui jogar póquer, não interessa se ganho ou perco. Não vou perder dinheiro, venho-me divertir». É como ir ao cinema, jantar fora ou estar com os amigos. Conseguir passar esta imagem no póquer é algo de brutal e que nos deixa claramente satisfeitos”.