O Benfica saiu na frente do Grupo B da Liga dos Campeões graças a uma vitória por 2-0 sobre o Hapoel de Telavive, num jogo sem o brilho dos da época passada, mas com mais estabilidade emocional e táctica do que a equipa vinha revelando nas últimas semanas.
Para ganhar, Jorge Jesus teve de ser realista e perceber que se a equipa de 2009/10 trucidava os adversários com avalanchas atacantes, a de 2010/11 por enquanto tem de se contentar com objectivos mais modestos, como marcar um golo e gerir a bola à espera que o adversário se destape para lhe fazer o segundo. Foi essa a verdade do jogo de ontem, que Jesus ganhou com três substituições de cariz defensivo.
É um facto que o Benfica chegou relativamente cedo a uma vantagem que lhe poderia permitir estabilizar. Fê-lo numa finalização soberba de Luisão, aos 21', na sequência de um canto de Aimar devolvido para a área por Carlos Martins. Mas se, já na primeira parte, o Benfica tinha permitido aos israelitas momentos de controlo de jogo, a segunda estava a ser do Hapoel quando Jesus começou a mexer. Primeiro trocou o improdutivo extremo Gaitán pelo defesa-direito Maxi Pereira, fazendo subir Rúben Amorim para o meio-campo (e que importante foi Rúben a partir desse minuto 57...). Com a troca, ganhou segurança na posse de bola a meio-campo e capacidade de cobertura defensiva. Além de que, percebendo o recuo encarnado, o Hapoel arriscou mais e quatro minutos volvidos fez a troca inversa: um médio de apoio, como era Rocchi, por um extremo, no caso Shivhon. O jogo virou então no sentido da baliza do elástico Enyeama, pelo que o segundo golo do Benfica não tardou; marcou-o Cardozo, que de imediato aproveitou para mandar calar os adeptos que timidamente o vinham assobiando a cada intervenção, conseguindo essa rara proeza de colocar toda a gente no estádio contra ele. Terá sido a primeira vez na história que um golo do Benfica foi assinalado na Luz com uma vaia monumental.
Mesmo com 2-0, Jesus continuou a privilegiar a segurança: primeiro trocou o ofensivo Aimar pelo combativo Airton e mais tarde fez sair o atacante Saviola para entrar César Peixoto para defesa-esquerdo. O Benfica acabava o jogo com Cardozo (esse não podia sair, para não o expor à ira dos adeptos que mandara calar após o 2-0) sozinho na frente, apoiado por Carlos Martins e Fábio Coentrão. E com dois médios de cariz defensivo, Javi García e Airton, que até ontem só haviam coexistido em campo durante sete minutos: os derradeiros 3' do sucesso por 2-1 frente ao Liverpool na Luz e os 4' finais da vitória por 3-2 em Coimbra, face à Académica, na recta final da época passada. E isso só sucedeu porque o plano habitual não chegou para resolver o assunto.
É que Jesus entrara em campo com um onze decalcado da época passada, no 4x1x3x2 em que a equipa se rotinou, com Gaitán a fazer de Di María na esquerda e Carlos Martins a ocupar a posição que era de Ramires na direita. Só que perante um Hapoel que defendia com duas linhas muito organizadas de quatro homens, raramente o Benfica causava desequilíbrios. As excepções vieram de algumas arrancadas de Aimar, o único a encontrar o espaço entre as linhas israelitas, e da visão de jogo de Carlos Martins, capaz de alguns passes a rasgar. Contudo, quando Luisão desbloqueou o marcador o jogo estava dividido. Como dividido ficou após um curto período em que a reacção ao golo levou os forasteiros a esticar demasiado o seu jogo, assim permitindo algum controlo aos anfitriões (e, tal como na Choupana, Gaitán voltou a ter uma ocasião flagrante para marcar e desperdiçou-a).
A segunda parte trouxe um Hapoel em crescendo, a tentar subir o bloco e jogar no meio campo encarnado. E foi aí que o Benfica se rendeu à evidência: para ganhar este jogo, era preciso ser realista e levar o adversário a cair no pecado da soberba. Objectivo cumprido com inteligência, a garantir tranquilidade para os próximos dias, mas a deixar no ar uma dúvida: será este Benfica capaz de imitar a equipa campeã? Por enquanto não é.