Machado espetado na máquina de Jesus
À quarta jornada do campeonato, o Benfica perdeu pela terceira vez e soma três magros pontos, naquele que já é o pior arranque de sempre dos encarnados no campeonato. Ontem, em Guimarães, em mais um episódio do conflito entre Manuel Machado e Jorge Jesus, foi o técnico do Vitória quem ofereceu uma lição táctica ao adversário, guiando a sua equipa, a partir do banco, a um triunfo suado, mas que acaba por ser merecido.
Jesus tinha prometido recuperar a máquina demolidora que levou a equipa ao título na época transacta, mas a verdade é que o rendimento deste Benfica está bem longe do evidenciado pela formação campeã, sobretudo no que ao capítulo da intensidade diz respeito. O início do encontro foi exemplo disso mesmo, já que, ao contrário do que sucedia no passado, os encarnados pareciam assumir uma postura de expectativa, exercendo algum domínio territorial, mas cedendo o controlo do ritmo ao adversário. Foi mesmo preciso que os anfitriões chegassem ao golo para que os visitantes dessem sinal de vida: após o golo de Edgar (17'), os níveis de intensidade subiram e a reacção dava a entender que a reviravolta era possível. O Benfica crescia e o Guimarães sofria para suster a avalancha ofensiva dos lisboetas. Seria, contudo, um erro clamoroso de Nilson a proporcionar o empate: depois de tanto sofrer com as fífias de Roberto, Saviola beneficiou da "simpatia" do guardião contrário para igualar o marcador (32').
O ascendente do emblema da águia dava a entender que o sucesso estava ao virar da esquina, mas o intervalo voltou a adormecer a alma da equipa. O Vitória regressou mais sereno e organizado, o Benfica tornou a dar mostras de apatia e incapacidade para pressionar em bloco.
Esperavam-se, então, as intervenções dos treinadores para desfazer o impasse gerado pelo desenrolar do jogo e foi mesmo a partir do banco que se decidiu a contenda. Manuel Machado foi o primeiro a esgotar as substituições, todas elas eficazes e reveladoras da inteligência da estratégia a que obedeciam: Flávio Meireles trouxe maior capacidade física e rigor táctico ao meio-campo defensivo, negando o corredor central a Aimar; Rui Miguel era a chave para as transições rápidas; e Maranhão podia abrir a frente de ataque, agora dotada de três homens com extrema mobilidade. Jesus, por seu turno, trocou Gaitán por César Peixoto, sem qualquer retorno evidente e, pior ainda, sacrificou Carlos Martins para transformar em trio a dupla da frente. Jara entrou para actuar sobre a direita, Saviola ficava mais longe da área, descaído sobre a esquerda, e Cardozo procurava, debalde, definir presença na área. Os efeitos revelaram-se desastrosos para as águias, que perderam profundidade de passe e capacidade para gerir a bola a meio-campo, enquanto, simultaneamente, a associação entre Aimar e Peixoto deixava desamparado um lento Javi García, incapaz, sozinho, de fechar os espaços que sobravam ao contra-ataque vimaranense.
Assim, e numa altura em que a vocação ofensiva do Benfica não se traduzia em ocasiões de golo, foi a simplicidade do contragolpe do Guimarães que sentenciou a contenda: Rui Miguel finalizou da melhor forma o lance, superiorizando-se, sem problemas, a um apático David Luiz.
Agora, com improváveis três derrotas em quatro partidas disputadas, os sinais de alarme começam a disparar para os lados da Luz, e Jorge Jesus terá pela frente o maior desafio da sua carreira. É que, sem retirar um grama de mérito à campanha vitoriosa de 2009/10, é preciso recordar que, durante toda a temporada, nunca o Benfica passou por momentos de crise. Ora, como qualquer pessoa com experiência desportiva pode confirmar, é nestas alturas que o carácter de uma equipa se define, de acordo com a influência do seu treinador.
Que, após a derrota, o presidente Luís Filipe Vieira, venha apontar o dedo ao trabalho do árbitro é, no futebol cá do burgo, a reacção normal de quem quer substituir um facto - o péssimo arranque no campeonato - por outro. Porém, independentemente da qualidade da actuação de Olegário Benquerença, o problema do Benfica é real, e bem mais profundo. E não se resolve com palavras...
Guimarães, 2 - Benfica, 1
Estádio D. Afonso Henriques
Relvado Razoável
Espectadores 17730
Árbitro Plegário Benquerença
Guimarães
1 Nilson
79 Alex
19 Ricardo
2 Freire
6 Bruno Teles
28 Cléber Oliveira
80 João Alves
21 Edson Sitta
90 Marcelo Toscano
25 João Ribeiro
29 Edgar
Treinador Manuel Machado
Benfica
Roberto
14 Maxi Pereira
4 Luisão
23 David Luiz
18 Fábio Coentrão
6 Javi García
17 Carlos Martins
10 Pablo Aimar
20 Nicolás Gaitán
30 Saviola
7 Óscar Cardozo
Treinador Jorge Jesus
Ao intervalo: 1 - 1
1-0 17' Edgar, 1-1 32'Saviola, 2-1 83' Rui Miguel
Cartões amarelos
35' Ricardo
40' Carlos Martins
45' Javi García
54' Nicolás Gaitán
56' Maxi Pereira
59' Rui Miguel
58' Óscar Cardozo
68' David Luiz
70' Luisão
88' Flávio Meireles
Fonte: OJOGO