Histórico - Braga na Champions League
Uma terça-feira quente de Agosto vai figurar na história do Braga como o dia em que a equipa de Domingos Paciência gelou o Estádio Sánchez Pizjuán, casa de uns incrédulos adeptos do Sevilha, e escreveu a mais bonita página dos seus 89 anos. Os guerreiros do Minho vão disputar pela primeira vez a fase de grupos da Liga dos Campeões, obtendo assim o visto que lhes garante a entrada num restrito lote de equipas portuguesas, do qual só fazem parte Benfica, FC Porto, Sporting e Boavista. Pelo caminho, enquanto juntava mais uma marca histórica ao segundo lugar do ano passado, com recorde de pontos incluído, a equipa bracarense tornava-se a primeira formação portuguesa a triunfar no reduto sevilhista, algo que nem Benfica, nem Sporting, nem Guimarães, nem Nacional haviam conseguido em anteriores confrontos.
O resultado final - sete golos são um fenómeno raro num jogo decisivo como este - acabou por ser o toque anedótico de uma exibição séria, concentrada e muito bem preparada de antemão por Domingos e pelos seus jogadores, que foram vitoriados a preceito pelos cerca de 1500 adeptos presentes, uns vindos de Braga, outros do Algarve, onde fazem férias. E até o monumental coro de assobios dos sevilhanos, frustrados por verem a sua equipa perder dois importantes objectivos em apenas quatro dias (o Barcelona ganhou-lhes a Supertaça de Espanha no sábado), serviu de moldura dourada ao que acabara de acontecer.
Mostrando ter a lição bem estudada e fiel às palavras da véspera, Domingos dispôs em campo um onze sem surpresas nos nomes, mas com novidades no posicionamento, na procura do golo prometido. Abdicou do 4-3-3 em favor de um 4-4-2, com Matheus como homem mais adiantado e Luis Aguiar nas suas costas como segundo avançado. Alan, na direita, e Paulo César, no lado oposto, preocupavam-se mais em conter as subidas dos adversários pelas faixas, e Vandinho recebia apoio de Salino no meio-campo defensivo. O golpe de asa do treinador do Braga, além da solidez defensiva - que teve em Elderson uma infeliz excepção - e da serenidade dos arsenalistas, esteve na forma como Matheus caía constantemente no lado de Escudé, tão alto como lento e desapoiado neste duelo. Foi por aí que o Braga começou a abrir brechas na muralha defensiva e na força mental do adversário, expondo as suas debilidades actuais.
Escudé foi um mero espectador da cavalgada de Paulo César e da recarga de Matheus que escancararam as portas da Champions ao Braga e depois deixou que o segundo o reduzisse a um dos bidões que, nos treinos, servem para ser contornados pelos jogadores antes de assistir Lima para o 2-0. Longe de ser o resultado final, e quando ainda havia mais de meia hora para jogar, seria quase impossível a este Braga não cumprir aquilo que ainda anteontem era apenas um sonho.
Antonio Álvarez, treinador do Sevilha e com a cabeça a prémio, recorreu ao banco e trocou um médio e um defesa por dois médios, recuando Zokora e passando a jogar em 4-2-4. O empate surgiu, mas mais por demérito bracarense (um frango de Felipe e um erro infantil de Elderson) do que por mérito dos espanhóis. Nessa altura, já Domingos metera mais um central (Paulão), e o 2-3 no lance imediato devolveu o Braga ao domínio do marcador e o Sevilha à sua condição desesperada de correr atrás de um resultado mais escorregadio que uma enguia. O que se seguiu foi apenas mais do mesmo, e nem a entrada de Negredo e a subida do central Fazio para o ataque alteraram a ordem das coisas.
Noventa minutos e uns milhões de euros mais tarde, o Braga está pela primeira vez na fase de grupos da Liga dos Campeões. Venha quem vier amanhã, o dia de hoje é para gozar o momento e rebobinar o filme de uma noite quente de Verão que já não é apenas um sonho.
FonteOJOGO