Sem goleada, sem nota artística, mas com uma vitória pela margem mínima sobre o Rio Ave, o Benfica conquistou (ou confirmou) o 32º título do seu historial. Depois de tanta reserva para a festa de um título anunciado que a derrota no Dragão e o bravo Braga tinham adiado mesmo até ao limite, o Benfica só precisava de um ponto para celebrar o fim de um jejum de meia década, mas conquistou os três e nem sequer teve de saber o resultado dos minhotos - que, de resto, estavam obrigados a ganhar ao Nacional e só empataram.
Para os encarnados, e sobretudo para o técnico Jorge Jesus, o grande obreiro desta epopeia, foi um final feliz, mas também lógico, de uma época em que a equipa da Luz termina o campeonato com um máximo de pontuação neste milénio, o melhor ataque (78 golos) e ainda a melhor defesa (20, aqui a par do Braga).
Ontem, a situação do Benfica não era dramática, mas podia provocar alguma ansiedade. Para a evitar, a equipa da Luz, mesmo privada de três titulares (e um deles era Di María), entrou com tudo. Esteve perto do golo no primeiro lance de ataque e marcou no segundo, pelo inevitável Cardozo.Pela décima vez, os encarnados punham-se em vantagem antes do meio da primeira parte!
A partir daí - e assumindo que o Braga ganhava na Choupana, o que nem sequer aconteceria -, o título só escaparia ao Benfica se o Rio Ave fizesse algo que esta época ninguém fez: marcar dois golos na Luz. Feito improvável que Wires se encarregou de tornar ainda mais difícil ao ser expulso aos 11'. Se o Benfica já era melhor em igualdade numérica, com um a mais acentuou essa superioridade. Ao intervalo, aliás, podia estar quatro ou cinco a zero, não fossem o acerto do guardião Carlos e o desacerto dos encarnados.
Para a segunda parte, Jesus lançou Éder Luís, procurando imprimir mais velocidade, em busca, porventura, da goleada. E da nota artística, já agora. O Rio Ave estava acantonado, limitando-se a (tentar) jogar para Bruno Gama, e o segundo golo do Benfica parecia por isso questão de tempo. E Airton esteve perto, num remate à trave, quando o domínio encarnado era de tal ordem que chegavam a estar 20 jogadores no meio-campo do Rio Ave (só faltavam Quim e... Wires).
É então que, num fortuito lance de bola parada, o Rio Ave silencia a multidão da Luz. Ricardo Chaves saltou mais alto e bateu Quim; era o 1-1. O fantasma de um segundo golo visitante que, somado a uma eventual vitória do Braga, levaria um título que parecia certo fez uma visita de seis minutos. Foi só até Cardozo, claro, fazer o 2-1. E garantir o prémio de artilheiro da Liga, com 26 golos. O Tacuara, que deve a alcunha a umas canas típicas do seu país, lançou os foguetes - e ainda apanhou... as canas.