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Dan Goldman recorda como Casino Royale de James Bond escapou à PokerStars

O ex-executivo da PokerStars, Dan Goldman, publicou no seu blog tudo o que quase levou à aparição da PokerStars no filme Casino Royale do agente secreto mais famoso do mundo - James Bond.

Em Janeiro de 2006, durante a terceira edição da PokerStars Caribbean Adventure (então ainda fazia parte do circuito World Poker Tour), um executivo do Atlantis Resort falou com Goldman dizendo-lhe que o empreendimento estava em conversações com a Eon Productions para acolher filmagens do novo filme de James Bond. A Eon Productions é uma produtora britânica cujo maior sucesso são os filmes do agente que tem licença para matar.

Como se estivesse planeado (o que pode bem ser verdade) o responsável de marketing da Eon passou por nós, e o meu contacto do Atlantis apresentou-nos. Para não ser processado, vou dizer que se chama Gene Voltshiker.

O Gene era uma das pessoas mais perspicazes que já conheci no mundo do marketing. Começou a dizer-me que, ao contrário do Casino Royale original, o novo filme teria como cenário o poker e não o baccarat. Em poucos minutos, o Gene e eu estávamos a conversar com entusiasmo crescente sobre a possibilidade de parceria entre a PokerStars e a Eon. Decidimos que precisávamos de mais tempo para pensar nisto, mas concordamos que devíamos almoçar juntos no dia seguinte.

No dia seguinte já tinha elaborado uma ideia sobre uma série de torneios online, a culminarem numa mesa final disputada na mesma mesa e local da cena frenética entre o Bond e o Le Chiffre. Quando eu e e o Gene nos encontramos no Atlas Bar & Grill do Atlantis, comecei por falar nisto. Sem surpresa, o Gene tinha algo similar em mente. É claro, que ele queria que fosse um torneio de $100 milhões tal como no filme, o que não ia acontecer, mas adorei o seu entusiasmo e estava encantado pela possibilidade de termos uma parceria com uma das marcas mais icónicas dos últimos cinquenta anos.

Após esse almoço os dois decidiram que era melhor deixarem a PCA terminar, para terem mais tempo para alinhar ideias. Quando Dan regressou à Ilha de Man (sede da PokerStars), Gene convidou-o para uma reunião com os parceiros Bond. Uma reunião onde estariam presentes representantes da Aston Martin, Sony, Omega, Heineken, Smirnoff, British Airways, Sunseeker Yachts, Brioni e Electronic Arts.

Dan teve de falar com os patrões sobre este projecto:

Pela primeira vez desde que entrei na PokerStars, o Isai e o Mark (CEO e COO da PokerStars) acolheram uma ideia minha com grande entusiasmo. Eles perceberam o valor que esta associação nos podia trazer, e estavam dispostos a comprometerem-se com ela a longo termo, já que iríamos ser um parceiro publicitário a tempo inteiro.

Nas semanas seguintes a PokerStars e a Eon assinaram um acordo de princípio, e a PokerStars começou a negociar com os restantes parceiros do filme.

Fiquei espantado com o número de parceiros (21 no total, incluindo a PokerStars), que queriam trabalhar com a PokerStars, incluindo a Sony (que queria falar sobre um programa de televisão), Aston Martin (que queria que patrocinassemos uma equipa de corridas), e a Omega (que queria produzir uma edição limitada de um relógio Omega/PokerStars). As reuniões com os diversos potenciais parceiros prolongaram-se pela noite dentro. Quando as reuniões acabaram, estava na invejável posição de ter de escolher com que marcas gigantes queríamos realmente fazer negócio, já que obviamente não iríamos avançar com todas.

Quando voltou à sede, Dan foi surpreendido:

Quando regressei à sede da PokerStars, ainda estava com dificuldades em descobrir como escolher com quem queríamos trabalhar. Expressei esta preocupação ao Isai e ao Mark, que pensaram que eu estava maluco. "Isso é fácil," disse o Isai. "Trabalhamos com todas".

A PokerStars teve de contratar mais pessoas para o seu departamento de marketing, incluindo Stefan Kovach, que tinha trabalhado na Virgin Atlantic e na Beenz. Kovach determinou que a Aston Martin seria a parceira com maior potencial de retorno, e a sala avançou com o patrocínio de uma equipa de corridas da Aston Martin.

Na sala online da PokerStars começaram a ser disputados torneios patrocinados pela Heineken, Sony e Smirnoff. E o torneio no Atlantis estava já desenhado. Um torneio com $10 milhões de prizepool garantido e um primeiro prémio de $2 milhões. Um torneio apenas ultrapassado pelo Main Event das World Series of Poker e o World Poker Tour World Championship.

Em Março de 2006, já tínhamos gasto uns $300,000 neste projecto, sem incluir os salários das diversas pessoas que contratamos especificamente para trabalharem neste evento.

O pior veio depois... Em Abril, Dan teve de tirar férias, pois tinha o casamento de amigos no Hawaii, mas nessa altura já tava a sentir dificuldades no relacionamento com Gene da Eon.

Antes de Abril, falava com o Gene todos os dias, às vezes mais que uma vez. Coordenamos as actividades de várias empresas (Sony, Atlantis, Aston Martin e outras), e as nossas empresas tinham a sua própria burocracia, por isso conseguir com que tudo andasse sobre rodas, não era uma tarefa fácil. A princípio não estava particularmente alarmado, estávamos todos cheios de trabalho, a ultrapassar barreiras a grande velocidade num caminho que nos iria levar a oportunidades gigantescas.

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Passei toda a semana de férias (exceptuando o dia de casamento) a mandar emails e a ligar para o Gene e outros, a tentar saber o que se passava. Quando passou a segunda semana de silêncio, era claro que algo não estava bem. Acabei por ter de deixar uma mensagem ao Gene que estava a tentar evitar, algo assim "Olha, se vais recuar, ao menos tem a decência de me ligar e dizê-lo".

Quando nem isto resultou, decidimos em conjunto que era preciso fazer algo mais. Discretamente falamos com os outros parceiros, que também tinham feito investimentos substanciais no torneio, e pedimos que pressionassem o Gene por nós.

Isto resultou. O Gene finalmente ligou-me, no meu dia de férias no Hawaii, para me dizer que o conselho da Eon acreditava que correria um risco muito grande em fazer uma parceria connosco, e como tal, não íamos fazer parte de Casino Royale. Para piorar as coisas, no dia que regressei à Ilha de Man, recebi uma carta do dito conselho, a avisar-me que tinham revogado o nosso direito de utilizar o nome Bond, os logos e marcas registadas.

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Cheguei mesmo a ser ameaçado pela Eon sobre a nossa relação com a Aston Martin, que estaria a violar as regras de parceria da Eon (felizmente, o presidente da Aston Martin interveio a nosso favor).

Ficava assim desfeito o sonho de ver a PokerStars envolvida com uma das maiores marcas do cinema mundial, mas como o próprio nome indica, acabou por ser uma "benção".

De certa forma, acabou por ser uma benção disfarçada. Quando foi aprovado o Unlawful Internet Gaming Enforcement Act (UIGEA) em Setembro de 2006, a Eon seria obrigada a terminar a sua relação connosco,e por essa altura certamente teríamos gasto mais de $5 milhões que não conseguiríamos recuperar. Mas sobra uma lição valiosa que todos sabemos, mas ignoramos: não gastes dinheiro até estar tudo assinado no papel.

Podem ler o post completo aqui.

Recordamos que a cena do torneio de poker no filme Casino Royale, acabou por ser gravada em Montenegro