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Porque não falou Daniel Colman depois de ganhar o One Drop? A sua explicação

No rescaldo da segunda edição do Big One for One Drop, quase teve mais impacto o facto de Daniel Colman não ter dado entrevista no final, do que a sua vitória no torneio depois de derrotar o Team PokerStars Pro Daniel Negreanu no heads-up.

O One Drop é muito mais que um torneio de poker, e captou mais atenções mediáticas que qualquer outro torneio destas World Series of Poker. Por isso mesmo, a postura de Colman foi ainda mais criticada.

No artigo do Las Vegas Sun, o jornalista Case Keefer diz que Colman actuou como uma "criança petulante", que teve de ser "persuadido a tirar fotos com a bracelete e o dinheiro, o que a maior parte dos jogadores de poker passam toda a vida a lutar para conseguir".

Olivier Busquet, de quem se acredita ter sido um dos investidores na participação de Colman, defendeu o vencedor no seu Twitter:

Todos os que criticam o Dan sem saberem a sua história e razões, não têm ponta de classe e são inapropriados

Remko Rinkema, blogger de poker que escreve para vários sites, respondeu a Busquet:

Assim como o Dan tem o direito de não dar entrevistas, nós temos o direito de ter uma opinião sobre esse facto

Já o jogador Daniel Alaei, lembrou o anterior campeão e a sua diferença para com Colman:

Ao ver o Colman negar a entrevista de vencedor, faz-nos apreciar de verdade tudo o que o Antonio Esfandiari fez para promover a instituição de solidariedade e o poker

Busquet não se ficou:

E para que saibam, o Dan deu uma curta entrevista para a tv, onde insistiu que se focassem na vertente solidária... para a próxima antes de dizerem porcarias, confirmem as coisas

Perante o ruído que a sua atitude provocou, com jogadores a criticar e outros a defender, Colman decidiu publicar a sua explicação no 2+2 (onde escreve com o nick mrgr33n13):

Não devo explicações a ninguém mas mesmo assim vou dar...

Primeiro, eu não devo nada ao poker. Tive a felicidade de beneficiar financeiramente do jogo, mas jogo há tempo suficiente para ver o lado feio deste mundo. Não é um jogo onde os profissionais estejam sempre felizes a viverem uma vida em grande. Ter uma profissão onde estás constantemente à mercê da variância pode ser incrivelmente stressante e pode levar a muitos hábitos nada saudáveis. Nunca, num milhão de anos, recomendaria a alguém ser profissional de poker.

Também não é um jogo onde os amadores estejam sempre felizes por perderem o seu dinheiro, para bem do entretenimento. Neste jogo, os perdedores perdem muito mais dinheiro que o que os vencedores ganham. Sendo que muito desse dinheiro faz-lhes falta. É claro que tudo isto é aceitável, pois se alguém é burro o suficiente para jogar com o dinheiro que lhes faz falta, o problema é dessas pessoas. No entanto eu não aceito muito bem esse argumento. Num mundo perfeito, os mercados são compostos por consumidores informados que fazem transações racionais. Infelizmente, na vida real esse não é o caso, os mercados baseiam-se na publicidade que tenta jogar com os impulsos das pessoas, e aponta às suas fraquezas para que estas cometam decisões irracionais. Eu percebo alguém quer jogar poker por livre e espontânea vontade, mas não concordo com a publicidade ao jogo, tal como não concordo com a publicidade ao tabaco e às bebidas alcoólicas.

Perturba-me que as pessoas se preocupem tanto com o bem-estar do poker. Pois o poker é um jogo que tem um efeito negativo nas pessoas que o jogam. Tanto financeiramente como emocionalmente.

Quando à auto-promoção, eu sinto que os feitos individuais raramente devem ser celebrados. Não vou fazer parte disso por causa de terceiros e não o quero para mim. Se te perguntas porque é que a nossa sociedade se inspira tanto nos indivíduos e nos seus sucessos pessoais, e de ser um baller, não é assim por acaso. É assim porque tem um objectivo claro. Se fizeres com que as pessoas sigam um exemplo, e adiram à ideia de "ganhar dinheiro e esquecer tudo o resto menos a própria pessoa", então consegues fazer com que ignorem o contrato social, o que é muito bom para sistemas de poder. Também serve como distracção, fazendo com que as pessoas não se concentrem nas coisas que realmente importam.

Estes são apenas os meus pontos de vista. E sim, sei que estou em conflito. Eu ganho dinheiro neste jogo, que explora as fraquezas das pessoas. Gosto do jogo, adoro a parte da estratégia, mas vejo-o como um jogo muito sombrio.

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