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André Akkari revela que já o perseguiram por duas vezes à saída de torneios, e numa das vezes apontaram-lhe uma metralhadora à cara

Em Janeiro de 2012, o Poker foi oficialmente reconhecido como Desporto no Brasil, depois do Ministério dos Esportes aceitar o registo da Confederação Brasileira de Texas Hold'em (CBTH), tornando assim o Texas Hold'Em um desporto oficial.

O trabalho realizado pelos jogadores brasileiros, que durante anos lidaram com as dificuldades dos depósitos no jogo online e nunca deixaram de se esforçar para o jogar, foi exemplar. Hoje, o Poker é visto como um desporto no Brasil, tem direito a aparecer nos calendários desportivos do país, tem vários atletas a associarem. sem qualquer problema ou medo, a sua imagem ao jogo do Poker e tem uma base sustentável para crescer. Sendo o exemplo mais recente a entrada de Ronaldo O Fenómeno na Team PokerStars SportStars.

O reconhecimento do poker como desporto, faz-nos pensar num outro ponto intimamente associado: a exposição mediática. A maioria dos jogadores lida bem com a exposição a que estão sujeitos, sem no entanto se lembrarem que no meio, são figuras públicas. No Brasil, com a nova classificação do jogo, os jogadores passam a ter uma exposição ainda maior. E chega assim o lado negativo da fama, sobretudo num país com uma taxa de criminalidade acentuada.

O Team PokerStars Pro André Akkari, um dos que mais lutou pelo Poker, abriu a sua vida ao mundo num post sobre duas perseguições que sofreu no Brasil.

Eis o mais recente post de André Akkari:

Dividindo Experiências

E aí galera, tudo beleza?

Vocês sabem o quanto eu sou otimista e gosto de escrever coisas inspiradoras e alegres pois acredito fielmente que esta é a melhor forma de ver a vida no longo prazo, sem depressão, sem notícia ruim e sempre pensando nas nossas próximas conquistas.

Infelizmente este post é uma forma de desabafo, não é uma notícia ruim mas sim uma forma de eu me abrir para conversar com quem gosta de mim sobre coisas pertinentes a vida de todos que hoje moram em cidades grandes neste nosso maravilhoso país mas que muitas vezes nos trata tão mal.

Nunca divulguei este tipo de informação pois nunca achei válido mas como estou novamente em um processo de mudança resolvi dividir algumas coisas com vocês.

No ano de 2009 eu resolvi morar em Las Vegas com a minha familia, me parecia uma idéia maravilhosa pois naquele momento eu precisava de qualquer maneira melhorar o meu inglês para conseguir voar mais altos nos meus projetos como jogador profissional de poker e principalmente para dar este patrimônio para as minhas filhas. Foi um ano fantástico, vivemos momentos maravilhosos em Vegas, um custo de vida muito mais baixo, uma qualidade de vida incrível e um nível de segurança que chega quase a ser desconfortável, você pode dormir no condomínio com a porta do carro aberta, sem trancar a casa e algo que nem passa na nossa cabeça traumatizada. Entretanto, nosso planejamento era de apenas um ano pois definitivamente meu lugar é no Brasil, eu amo muito meu país, tenho orgulho de falar que sou brasileiro e quero que minhas filhas sintam o mesmo.

Você não mora em um lugar, você mora com pessoas. Não importa se você está na Suiça com 0% de taxa de criminalidade mas está longe dos seu povo, dos seus amigos, familia, você fica infeliz da mesma forma, pelo menos eu penso assim.

Quando resolvemos voltar, eu vim primeiro, uma semana antes, apenas para ajeitar as coisas em casa e depois minha familia voltar com tudo mais calmo. Dois dias depois que cheguei em SP um camarada meu me intimou a leva-lo para conhecer um torneio de poker em SP, um amigo de infância que só tinha contato com o poker por saber da minha carreira.

Levei ele em um BSOP SP e na volta ao deixar ele em casa fui seguido por um Chevete turbo, aqueles bem ZL mesmo, os caras foram lentamente me seguindo, o que me deixou ligado a ponto de não imbicar em casa, dei a volta no quarteirão e os perdi de vista, eis que quando estou na rua de trás da minha casa o mesmo carro explode a minha lateral do carro e para bem na minha frente. O motorista desceu com uma metralhadora, apontou para mim e ai vem a parte mais assustadora, ele começou a gritar "Perdeu Akkari, perdeu", foram uns 15 segundos mas parecia interminável, algo bizarro, só quem passa pode explicar.

O parceiro dele que estava no banco do motorista ficou com a porta travada depois da porrada que deu no meu carro, e ficou dando solada na porta, e o motorista já de pé não vinha para cima esperando o seu parceiro, isto durou alguns segundos, eu parado com a mão para cima dentro do carro e aguardando um posicionamento deles me borrando inteiro. Depois de uns 10 segundos resolvi esperar ele olhar para dentro do carro de novo, e enfiar a ré no carro, abaixar a cabeça e chumbar o pé no acelerador. Fiquei pensando, foquei nele, e quando ele começou a descer a cabeça eu fiz! Machuquei minha costela pq meu carro tinha aquele suporte de braço, coloquei a cabeça no banco do passageiro e com o pé invertido enfiei o pé no acelerador.

Bom, pra resumir, explodi um poste de esquina aqui no Tatuapé, o poste caiu um bar, e eu levantei vendo eles entrando correndo no carro e acelerei direto para a delegacia do bairro. Tomando outro susto ao entrar desesperado na delegacia quando os investigadores achavam que era um ataque tamanha a velocidade que entrei no recinto.

Isto tudo aconteceu em 2009 e desde então venho me forçando ao máximo para acreditar que dá para conviver com tudo isto nesta cidade que eu tanto adoro e principalmente na Zona Leste que é a minha casa, onde passei toda a minha vida, joguei bola na rua, tenho todos os meus amigos e amo de verdade.

Porém, na sexta feira passada quando aconteceu o magnifíco MasterMinds, ao sair do local fui novamente seguido da Vila Leopoldina até o Tatuapé. Percebi somente no meu bairro quando estava deixando o Ivan do micro team e meu irmão na casa dele, desta vez não os perdi de vista mas passei por uns 10 minuto de perseguição daquelas de TV, ao chegar novamente na porta da delegacia consegui escapar sem maiores danos como no ano de 2009 mas mesmo assim quase tive uma parada cardíaca.

Lembro de novo que isto é apenas um desabafo, uma forma de tirar esta raiva desta violência do peito, uma forma de gerar mais uma ferramenta para eu tomar as decisões que devo tomar. Não consigo mais ver condições de ficar na Zona Leste de SP, assim como não consigo ver uma forma de sair do Brasil, vou ficar aqui aconteça o que acontecer mas algumas precauções definitvamente tem que ser tomadas, usar a inteligência pra diminuir as chances de dar merda.

Ainda não sei ao certo o que fazer, algumas medidas pequenas e médias já tomei mas pretendo tomar algumas mais radicais, vamos ver como as coisas se desenrolam nas próximas semanas.

Defiitivamente este é o nosso maior problema social aliado a falta de investimento em educação que nos traria um futuro muito melhor para as nossas crianças, mas as causas e possibilidades de soluções são tantas que nem cabe a um jogador de poker profissional dissertar sobre, entretanto, não sai da minha cabeça a imagem do que seria o Brasil sem corrupção, com investimentos sérios em infra-estrutura ou pelo menos que os nossos comandantes tivessem o mesmo amor pelo nosso país como a maioria de nós tem, mas isto é apenas uma viagem minha, uma forma de tentar ser otimista diante da catástrofe.

Segue o jogo, foco nos meus resultados, estou super feliz com minhas performances, ainda mais feliz com minha condição física afinal já foram 14 kilos pro espaço e agora vem uma reta imensa de viagens , Berlim, SP (LAPT), Monte Carlo, Colombia e Vegas, onde tenho certeza que jogarei o meu melhor como tenho jogado, resultados grandes estão por vir, no MasterMinds peguei uma mesa final no High Roller mesmo com a cabeça a mil pelo evento, no BSOP fui deep no Main e mesa final no High Roller, peguei também um quarto lugar no Heads Up casca do MasterMinds e assim a profissão segue bombando.

Beijo a todos e hoje terça feira tem twitcam as 20 horas sobre o LAPT Brasil, estréia do homem, do ídolo no feltro verde, lá vem o Ronaldo e vamos conversar bastante sobre isto!

André Akkari

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