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Phil Ivey dá entrevista 3 anos depois

Quando aquele que é considerado o melhor jogador do mundo, e ao mesmo tempo um dos mais reservados, dá uma entrevista, todos os aficionados querem saber o que diz Phil Ivey. A seguir publicamos a entrevista completa e traduzida ao site WSOP.

Phil Ivey não precisa de descrição. mas nós vamos tentar. Já foi chamado o "tiger Woods do Poker", "o maior jogador de poker do mundo", "o Stu Unger dos dias modernos - sem a bagagem", " a figura mais misteriosa e secreta do poker".

Todas estas descrições servem. Mas fica a faltar a revelação sobre quem realmente este homem é, por que é o que é e o que o faz mexer.

Talvez as montanhas de dinheiro, braceletes douradas e acção nos high stakes o façam mexer, ou no mínimo, o façam mexer um pouco mais depressa, mas o relógio de Ivey não é igual ao homem comum. Aliás, o tempo de Ivey nunca acaba, nunca chega à meia-noite. Este é o tempo de Ivey na história do poker. Estamos a viver a era de Ivey.

No início do mês, Ivey sentou-se para uma muito rara entrevista nas World Series of Poker, no Rio em Las Vegas. Ivey queria falar do que sabe melhor - poker. Mais especificamente, estava disposto a partilhar a forma como consegue tão frequentemente pensar mais além que os adversários. E também falou dos desafios futuros. Nolan Dalla, das WSOP, encontrou-se com Ivey na sua roullote, estacionada perto da área de torneio, depois de receber uma mensagem de Ivey: "Vem ter comigo à roullote às 18:30. Está atrás de um Rolls Royce preto."

Às tantas as WSOP deviam passar a chamar-se Iveyland.

Nolan Dalla: Phil, esta não parece ser a melhor altura para nos dares a primeira entrevista em três anos. Acabaste de ser eliminado do $10.000 6 handed No limit Championship. O que sentes quando és eliminado? O que se passa na tua cabeça?

Phil Ivey: O que se passa na minha cabeça? Acho que penso sobre a forma como joguei. Penso em todas as mãos que joguei durante o torneio e vejo o que poderia ter feito diferente. E demoro cerca de 10-15 minutos a recuperar, dependendo do tamanho do torneio, da forma como joguei ou como me sinto.

Dalla: Vamos discutir a palavra que acabaste de usar..."recuperar". Queres dizer, recuperar em termos de desapontamento ou em colocar as coisas em perspectiva e pensar "devia ter jogado diferente?"

Ivey: Recuperar em termos de desapontamento. Em todos os torneios que entro, jogo para ganhar. Portanto, quando sou eliminado, é claramente um desapontamento para mim.

Dalla: Se fores eliminado num torneio de $1.500 ou $2.000, é quase como se fossem $50 para a maioria das pessoas. Quer dizer, não é por causa do dinheiro, então porque ficas desapontado? Especialmente, porque vai haver outro logo no dia a seguir.

Ivey: Porque quero ganhar em todos os torneios que entre. Esse é o objectivo. Quando me sento numa mesa, quero ganhar e quando não o faço fico desapontado. É como sou.

Dalla: Alguma vez te apetece dar-te uma sapatada enquanto dizes a ti próprio "não devia ter feito isto ou aquilo" ou "jogaste aquela mão toda mal"? Todos falam de seres o melhor jogador do mundo mas até o melhor do mundo comete erros, certo?

Ivey: Sim, cometo imensos erros.

Dalla: A sério? Muitos erros?

Ivey: Bem, há mãos que acontecem que podíamos ter apostado montantes diferentes. Podias ter feito re-raise onde não fizeste. Podias ter feito check onde devias ter apostado. Existem toneladas de erros em todas as sessões, até nas minhas. O que me separa de outros jogadores é que eu reconheço um erro quando o cometo. Muitos dos outros jogadores não o conseguem fazer e acho que é muito importante para melhorar o jogo.

Dalla: E quanto aos outros bons jogadores? Estás a jogar num nível que está acima até deles. E acerca desse passo extra? Trabalhas extra? Há muitos jogadores de excelência neste jogo, mas de alguma forma, consegues estar acima deles. O que fazes diferente?

Ivey: Não sei. É uma pergunta difícil de responder, sabes? Tenho a sorte de ser talentoso neste jogo. Jogo muito. Pratico muito. Sou abençoado. Eu na realidade não sei o que é que "eles" estão a fazer, portanto não sei se faço alguma coisa diferente. Não tenho a certeza como hei-de responder a essa pergunta. Não sei realmente qual poderá ser a diferença. Eu simplesmente pratico, penso no jogo o tempo todo e estou continuamente a tentar ser melhor.

Dalla: Quando dizes que pensas no jogo o tempo todo... há alturas em que Não pensas no jogo?

Ivey: Claro, há alturas em que não penso sobre poker, como quando jogo golfe, pratico desportos, vejo filmes ou estou com a minha família e amigos. Mas a maior parte do tempo estou a pensar em poker - maneiras diferentes de jogar mãos, as expressões das pessoas quando jogo potes contra elas, coisas do género.

Dalla: Quais são os teus objectivos nas World Series deste ano?

Ivey: Ganhar. Quero ganhar um torneio, muitos torneios. Mas tenho que ganhar o primeiro para poder ganhar muitos. Portanto, quero jogar bem e estou contente por estar de volta.

Dalla: Tenho que te perguntar acerca da tua ausência nas WSOP do ano passado. O que pensaste acerca de perder toda esta excitação? Foi difícil estar longe dos teus pares e amigos?

Ivey: Foi muito duro perder as WSOP. Adoro jogar estes torneios e por isso foi muito duro.

Dalla: Duro, tipo... mal posso esperar para voltar?

Ivey: Sim, mal via a hora das WSOP do ano seguinte. Estou muito contente por estar a jogar este ano.

Dalla: E voltaste, para uma vingança absoluta. Foi quase como abrir a jaula de um leão. Vieste e, literalmente, destruíste. Cinco mesas finais num período de duas semanas, o que é admirável considerando o tamanho do field e as dificuldades. Reconheces o quão impressioannte é?

Ivey: Sim, percebo. Não sei se já foi feito antes, mas é algo de que estou orgulhoso. Gostaria de ter ganho, teria sido mais simpático ter ganho cinco eventos em duas semanas, mas não estive muito longe.

Dalla: Achas que a pausa em 2011 ajudou o teu jogo?

Ivey: Não, não acho que tenha ajudado ou prejudicado. Toda a minha vida joguei poker, sem parar. Diria que, se alguma coisa, prejudicou um bocadinho. Porque quando jogas poker tens que estar em forma, especialmente quando jogas com outros bons jogadores. Por isso, quando regressas e estás a jogar com outros bons jogadores que têm jogado o ano inteiro e têm praticado tens que fazer alguns ajustes, perceber o que eles estão a pensar, o que estão a fazer. O jogo do poker está constantemente a mudar. Os jogadores estão constantemente a ajustar e a jogar melhor e é melhor que acompanhes as alterações.

Dalla: Cinco mesas finais. Consegues ficar satisfeito com esses resultados ou apenas as braceletes servem?

Ivey: Ganhar é tudo.

Dalla: Segundo lugar - não consegues ficar satisfeito com isso?

Ivey: Não, não consigo retirar qualquer satisfação de um segundo lugar.

Dalla: Encontraste alguns jogadores que te tenham impressionado ou surpreendido nas mesas?

Ivey: Existem imensos jogadores que me impressionam.

Dalla: Alguém que queiras tratar pelo nome?

Ivey: Não, eles não precisam de saber que me impressionam.

Dalla: És um dos jogadores de poker mais famosos do mundo. Segues o jogo? Para além do que fazes, das mãos que jogas, dos jogos em que participas, procuras na internet? Por exemplo, interessa-te quem ganha o Big One que está a decorrer? ( Nota: esta entrevista teve lugar durante o Big One, ainda não era conhecido o vencedor).

Ivey: Eu estou a seguir o Big One, porque fui eliminado ontem e está na TV. E afecta a maneira como jogo. Estou a ver a mesa final na televisão e a pensar "bolas, gostava mesmo de estar ali". É um sentimento estranho estar a ver o jogo porque queria muito estar lá. Eu diria que, no geral, não sigo o poker no meu tempo livre porque há muitas outras coisas que prefiro estar a fazer.

Dalla: Costumas ver poker na ESPN? Não consegues passar pela ESPN sem ver um programa de poker, incluindo contigo mesmo. Ficas a ver?

Ivey: Sim, de vez em quando. É engraçado ver os programas antigos e ver os novos jogadores a aparecerem. Eu presto atenção.

Dalla: Quando te vês na televisão em 2006 achas que és a mesma pessoa que és agora? Ou achas que mudaste?

Ivey. Todos mudámos. À medida que vais envelhecendo, amadureces, as coisas mudam na tua vida e tu mudas como pessoa, mas ainda adoro jogar poker. Eu queria que as WSOP fossem todos os dias. 365 dias por ano e eu iria jogar todos os dias. Adoro e estou feliz por fazer parte disso.

Dalla: Há algum jogador por quem estejas a torcer? De certeza que tens feito amigos e há pessoas de quem gostas neste mundo.

Ivey: Torço sempre pela Jennifer Harman. Ela é uma das minhas jogadoras preferidas. Barry Greenstein, Patrik Antonius. Eu também tenho os meus jogadores preferidos.

Dalla: Qual é melhor - vencer um deles num heads-up para uma bracelete ou vê-los a ganhar uma?

Ivey: Preferia ver um deles a ganhar uma bracelete.

Dalla: Recentemente, estavas a jogar heads-up numa sala para uma bracelete e na outra estava Phil hellmuth a ganhar a sua 12ª. Foi uma noite memorável. Mas tu tinhas mais fãs ao teu lado que Phil Hellmuth, o que foi interessante. Estas ciente do acontecimento histórico que estava a ter lugar na sala ao lado?

Ivey: Sim, estava consciente disso. Sabia que ele se estava a preparar para liderar o maior número de braceletes ganhas.Dei-lhe os parabéns, fiquei muito impressionado. Tem estado a jogar muito bem, este ano. E só tornou ainda mais difícil ficar em segundo nesse evento. Agora faltam-me mais 4 braceletes para chegar até ele.

Dalla: Acreditas mesmo que és capaz de lá chegar? Que ainda consegues ser o líder de todos os tempos na categoria de mais braceletes ganhas?

Ivey: Sim, acredito que sim.

Dalla: Quantas achas que vais ter? 30 foi o número que me deste há três anos. E eu estou a contar. Achas que consegues 30?

Ivey: Se as WSOP continuarem e eu ainda estiver vivo, acho que vou ter 30. Acredito nisso.

Dalla: O One Drop. É um momento especial na história do poker. Sei que estás desapontado por teres sido eliminado cedo, mas como foi jogar neste evento?

Ivey: É impressionante, inacreditável. Eles chamam-te e é uma entrada em grande no torneio. Há um grupo de grandes jogadores, empresários, todos apostam 1 milhão de dólares. É muito excitante. E quando te sentas, sentes uma intensidade desde o primeiro momento. Toda a gente está a tentar o seu melhor. É um torneio fabuloso para se participar e a One Drop Charity é mesmo uma boa causa.

Dalla: Existem sete ou oito eventos com bracelete este ano ainda, incluindo as WSOP Europe em Setembro, em Cannes, França. Imagina que terias à escolha entre ser um dos November Nine de 2012 ou ganhar uma bracelete noutro evento qualquer. O que escolhias?

Ivey: Preferia ser um dos November Nine porque é o Main Event, o maior evento de poker do mundo.

Dalla: Fala-me da relação que tens com os teus fãs. Acho que eles gostariam de te ouvir falar sobre o que é ser objecto de admiração.

Ivey: É fantástico. Quando comecei a jogar poker, comecei a jogar em pizzarias e em casa das pessoas. E depois, de repente, passa na televisão e agora as pessoas reconhecem-me na rua. Fico grato a qualquer fã que tenha, quando falam para mim, tento ser simpático e dar o meu tempo, É bom ter fãs.

Dalla: Eu tenho visto isto com pessoas como o Doyle e contigo. Já vi os fãs a mobilizarem o Doye. Às vezes, ele nem consegue chegar ao carro sem...é quase como ser os Beatles do Poker.

Ivey: Espera, espera um bocado. Não é assim. Apenas acontece isso aqui nas World Series. Se eu estou num shopping, ou a andar na rua, nunca vejo isso. As pessoas que jogam poker reconhecem-me, cumprimentam-me. Acontece-me algumas vezes, mas não sou propriamente o Tom Cruise.

Dalla: Não sabia.

Ivey: O que é que não sabias?

Dalla: Eu assumi que as pessoas te reconheciam em todo o lado, especialmente em Vegas.

Ivey: Até pode ser assim nas World Series of Poker mas num dia normal não é nada disto, percebes?

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