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A história do meu Poker e outras histórias, por Phil Galfond

Phil Galfond é um dos jogadores mais respeitados do mundo, e os posts do seu blog são sempre motivo de interesse. Desta vez Galfond fala da sua entrada no mundo do poker.

O começo

Comecei a jogar poker online como divertimento quando era caloiro na Universidade do Wisconsin - Madison. Depositei $50 e comecei com os Sit-n-Go de $10. Claramente não percebia muito de gestão de banca na altura. Perdi os meus primeiros $50. Tinha uns poucos milhares de dólares na minha conta bancária, tanto de restos do meu Bar-Mitzvah como algum ganho em dois Verões como monitor dum campo de férias. Os meus pais pagavam-me os estudos, alojamento e alimentação, por isso nunca gastei do meu dinheiro para qualquer outra coisa que não vídeo jogos, como tal não estava perto da bancarrota. Depositei mais $50.

Perto no Inverno do meu 1º ano, tinha transformado os $50 em alguns milhares. Li uma mão cheia de livros, registei-me no 2+2, comprei o PokerTracker e estava a ganhar cerca de $30/hora em Sit-n-Go's. Tinha conseguido um trabalho a dar explicações para os SAT's e ACTs, que pagava bastante bem para o que era (acho que cerca de $17/hora). Havia um sistema em que eles publicavam um horário no qual te voluntariavas para ensinar um dos "tempos livres".

Nunca me voluntariei.

O poker era o meu trabalho e adorava-o. Não tinha necessidade de dinheiro extra, como disse, mas a ideia de que estava a fazer tanto dinheiro entusiasmava-me. Mais importante, estava a competir.

Jogava futebol americano no liceu e, embora a nossa equipa fosse terrível, era a minha vida. Adorava football e adorava competir. Depois de um ano parado, encontrei o substituto para a minha comichão de competir.

Sou um tipo obsessivo, por isso quando encontro algo que me interessa, mergulho-me no assunto. Eu estudava e jogava o tempo todo (mais jogo... nunca fui muito de estudar). O poker era como um jogo de video, um jogo fantástico, e estava concentrado em construir a minha banca, o meu ROI e em bater os meus limites.
Passei a maior parte das noites à escrivaninha, ao lado da cama, acima da camada de roupa suja, no meu lotado pequeno quartinho.
Sou introvertido, por isso gosto de estar sozinho. Aliás, eu preciso de tempo sozinho. Eu gosto de pessoas, claro, mas demasiado tempo num sítio povoado sem chance de fuga é debilitante. Necessito de tempo sozinho para fazer "restart". O meu quarto era para o poker, o paraíso.

O meu paraíso era composto por um apartamento de três quartos. Partilhava-o com duas raparigas, uma delas esteve convicta de que eu era gay durante a maior parte do ano. Acho que era por causa de um pequeno poster que tinha na minha porta com um gato com uma tiara, onde se lia "Sou uma princesa" (achava-lhe piada), e porque nunca me tinha visto com uma miúda (como era suposto conhecer miúdas quando passava todo o meu tempo a aprender a bater o poker online no meu quarto e também quando tinha medo delas?).

Conheci a Caroline numa aula de improvisação que tive no ano de caloiro. Ela era muito melhor do que eu, mas para ser justo tenho que referir que ela já tinha feito Improv no liceu. Eu era um novato. Ela e a Shannon iam viver com uma terceira miúda que acabou por se cortar. A Caroline sondou um dos nossos companheiros sobre se alguém precisava de quarto para o ano seguinte. Eu deixava sempre tudo para a última da hora e, desta vez, a minha procrastinação deu fantásticos frutos. Caroline e Shannon foram as melhores companheiras de casa que podia desejar. Vivi com elas durante três anos e mesmo que hoje em dia não vivamos no mesmo sítio, considero-as das minhas amigas mais chegadas.

Tive mesmo muita sorte no resultado. Eu mal conhecia Caroline e ainda não conhecia Shannon quando me "entrevistaram" para o quarto.

A entrevista incluiu perguntas tipo "Dás na heroína?", "Qual é a tua cor favorita?" ou "Tens alguma heroína?"

Eu não tinha, mas elas aceitaram-me na mesma.

A minha cor favorita é o verde.

Escola e Atlas

Escolhi um curso de Filosofia. Não sabia para onde caminhava na vida, mas também não me preocupava muito. As aulas eram bastante interessantes, muito mais do que quaisquer outras que tenha tido. Como estudante, sempre fui abaixo da média. Desenvolvi vários maus hábitos de estudo desde cedo na minha vida. Mais tarde, ouvi a minha mãe dizer "Talvez não devesse ter-te feito trabalhar tanto, mas estavas sempre a ter boas notas."

Consegui passear pelo secundário sem trabalhar muito, embora a minha GPA tenha sofrido um pouco no final (tenho alguma certeza que a minha prof. de Química mudou o sistema de 50/50 testes/tpc para 90/10 porque ela odiava-me por não ter feito nenhum tpc no primeiro semestre). Não porquê, mas nunca me interessei o suficiente para fazer os trabalhos de casa ou estudar. Era bom nos testes e suportei-me nisso para passar.

A universidade não foi diferente. Ou melhor, até foi: havia menos trabalhos e mais testes, e a maioria dos professores não faziam ideia se ia às aulas ou não.

Pois, ali estava eu na universidade com a minha nova paixão, pouca necessidade de ir às aulas e o meu paraíso (o meu quarto). Acho todos sabemos como foi durante o par de anos seguinte.

Passava cerca de 50% do meu tempo a dormir, 40% a jogar poker, 5% com as minhas companheiras e amigos e 5% nas aulas.

Subi de SnG's de $20 para os de $30, e mais tarde para os de $50. Jogava-o, estudava-o e adorava-o. Continuei a obter excelentes resultados e comecei a ganhar uma certa reputação na comunidade de SnG.

Nesta altura tinha um grupo de amigos de poker, a maioria conhecidos no 2+2, com os quais interagia quase exclusivamente online. Também fiz um par de amigos de poker "reais". Eu ajudei-os com os SnG's e ambos progrediram rapidamente. Gosto de pensar que foi porque era um bom professor.

Também comecei a dar mais atenção ao Improv. Tinha começado no primeiro ano, com a Caroline, mas não tinha regressado mais. No final do ano, ela fez uma audição e foi aceite na Atlas Improv Co., que na essência a mesma que nos dava as aulas, mas essa é outra história. Ela disse-me que a nossa antiga prof. Mary tinha perguntado por mim e encorajou-me a ir a uma audição.

Nunca achei que as audições me correram bem. A maioria das pessoas não eram tão reservadas como eu, e estavam dispostas a ser mais aventureiras e estranhas em palco. Fiquei muito surpreendido de ouvir que me queriam de volta na semana seguinte. Eramos 9 os selecionados para a fase seguinte e, raios, eles eram bons. Intimidantemente engraçados, se isto existe.

Mais uma vez sentia-me desenquadrado, especialmente por causa da minha limitada experiência em improvisação. Tinha duas aulas por semana (grátis para mim) com outros amadores e uma sessão privada para os quatro que passaram. Estas sessões privadas eram seguidas de 4 horas a ver a companhia a actuar. Tornei-me amigo com os outros "candidatos" - tinhamos que nos manter unidos. O Atlas era um grupo extremamente intimidante. Os membros da companhia tinham que estar separados dos candidados e ficavas intimidado com o aparentemente impenetrável círculo chegado. O facto de viver com a Caroline quebrou um pouco a barreira para mim, ainda assim nunca convivi com os Pros enquanto estava em audição. Era tudo muito secreto.

Uma das outras candidatas, Anne, tornou-se uma das minhas melhores amigas. Convivemos muito e muito conversamos sobre o stress da companhia. Coincidentemente, ela ainda é também uma amiga chegada, namorando e vivendo com Thomas, outro dos meus chegados amigos (que já fazia parte do Atlas na altura, mas mais tarde aconteceu de partilharmos apartamento em Madison e em NY).

Vou saltar muita da história do improv, assumo que prefiras saber mais sobre poker. Resumindo, depois de 10 semanas, três ou quatros de nós fomos aceites como membros da companhia.

Bom, e assim era a minha vida: Poker, Atlas, Poker, Poker, Friends, Atlas, Poker, Aulas, Poker, Poker, Atlas.

Continuei a minha escalada de $50 para $100, no SnG's. No começo do meu 3º ano estava a fazer $100-$200 por hora, dando uns tiros aos SnG's de $200, $1k e até de $2k (ainda não tinha completamente interiorizado o conceito de gestão de banca).

A Grande Decisão

Quando fiz 21, em Janeiro do meu 3º ano, tomei uma decisão. Decidi faltar à minha primeira semana de aulas e viajar até Tunica, Mississippi, para jogar o $10k WPT e o $10k WSOP Circuit. A minha banca devia rondar os $100k, como tal não foi a mais ajuizada decisão no que diz respeito à gestão de banca, mas era algo que queria muito fazer. Queria jogar com aqueles que via na TV, numa mesa real, onde pudesse ganhar um torneio na televisão.

Um dos meus amigos de poker de Madison veio comigo para me apoiar e jogar ums cash games. Havia bastantes Satélites SnG's, que ambos jogamos e destruímos (todos eram terríveis).

Fui eliminado do WPT bastante cedo, mas sem arrependimentos. Foi uma experiência altamente para mim e o WSOP Circuit foi ainda melhor.

Consegui sobreviver e construir uma stack. No dia 1, sentei-me na mesa com o Todd Brunson. Estava a jogar com alguém da TV! O Todd parecia triste durante a maior parte do tempo, como se não quisesse estar lá. Estava chocado e desgustoso, na altura (mas eu hoje percebo, Todd). Como é que alguém podia estar a viver o sonho, a jogar um torneio de $10k de buy-in e estar triste? Era tão fantástico que não conseguia possivelmente compreender. Decidi então que iria jogar SnG's o ano todo só para conseguir dinheiro para jogar todos os eventos de $10k que conseguisse.

No dia 2, estive na mesa com o Daniel Negreanu - uma das maiores estrelas do poker. Com ele tudo foi diferente. Ele estava extremamente divertido, conversador. Ele sentou-se perto de mim e chegamos a falar bastante. Não podia acreditar. Ele é uma celebridade do poker e estava a conversar como uma pessoa normal... para uma pessoa normal.

Continuei a construir a minha stack. Esta experiência estava cada vez melhor e melhor.

Na verdade, no minha primeira mesa do torneio estive com Bill Edler, que tornou o torneio muito menos assustador para mim. Ele é, até aos dias de hoje, possivelmente o mais simpático e amigável com quem já joguei. Não fazia ideia quem era na altura (antes de ele se apresentar) e acho que ele ainda não era tão conhecido, mas mesmo assim estou-lhe agradecido pelo conforto e por ter tornado este meu primeiro WSOP numa experiência agradável.

O torneio prosseguiu. Joguei em algumas mesas com o Daniel. Joguei novamente com o Bill também, e várias caras familiares que se tornaram em amigos de ocasião. Estava a ficar cada vez mais confortável.

Não me lembro de qualquer mão, infelizmente, mas acabei por chegar bastante longe. Fui eliminado perto do 22º lugar, que deu um bom min-cash de cerca de $22k. Pagou a viajem. Ainda assim estava desapontado por ter perdido tão perto final table televisionada, que era o meu sonho, mas estava contente pela experiência "sem despesas". (Na verdade acabei por sair a ganhar $6k no blackjack, depois de perder. Tinha o hábito de jogar um pouco de 21 na altura).

Regressei a Madison, pronto para abordar os professores e apanhar a semana de atraso. No total estive fora semana e meia. Preparei o horário online e localizei as salas, pronto para perguntar por tudo o que tinha perdido. Senti-me sobrecarregado e... não me apeteceu faze-lo.

Decidi então que iria dedicar o resto do semestre ao poker e regressar às aulas depois do Verão. Tinha vários créditos feitos, como tal não corria o risco de perder o ano.

Oops, saltei umas partes, algumas recordações...

Algures durante estes dois anos, eu fiz uma viagem a Las Vegas para conhecer alguns pros dos SnG do 2+2. Conheci um monte de gente, incluindo (acho eu, já que as viagens começam a misturar) Raptor517, g0od2cu, theUsher, Apathy, Daliman, Dave Benefield, Andrew Robl, Alan Sass, Peter Jetten.

Também durante esse período, fui às Bahamas para jogar o meu primeiro PCA. Foi o primeiro evento ao vivo que joguei e, caramba, foi espectacular. Fiquei deep mas não cheguei ao dinheiro. Mas tive uma experiência memorável e uma epifania. Estive numa mão com um jogador que estava muito zangado por causa da mão anterior. Acho levou um suckout. Ou isso, ou era mesmo uma pessoa naturalmente zangada. Não me lembro da acção mas sei que cheguei ao river com um flush draw falhado e nada para além de um Ás alto.

Sabem, os jogadores de sit ando go's não têm que jogar pós-flop. Durante as fases iniciais, joga-se muito tight. Fazes uma continuation bet e desistes a menos que tenhas um draw, com pelo menos oito outs, ou top pair+. Neste caso, apostas 2 ou até 3 barris. A maior parte do edge nos sit and gos vem do late game, quando precisas de avaliar o range de abertura dos adversários, range de shove e de call, e verificar a matemática para saberes que mãos fazer call ou shove. Eu acho que esta era a minha edge sobre os pros. Eu conseguia saber quando é que era mais provável os adversários jogarem de determinada forma ou não baseado no decorrer do jogo e os meus palpites baseavam-se na psicologia.

Voltemos à mão. Ali estava eu com um Ás na mão frente a um homem muito zangado. Eu tinha feito call no turn naquela board, qualquer que ela fosse e tinha falhado o meu flush draw. Checkei e o homem zangado apostou...e apostou zangado. Ocorreu-me na altura (embaraçosamente tarde na minha carreira) que ele poderia ter também um draw falhado ou apenas air em que ele estava a apostar várias vezes porque estava tão zangado. Ocurreu-me que eu estava autorizado a fazer call sem um par...algo que não nos ensinam nas aulas básicas de sit and go´s.

Fiquei a matutar naquilo. Depois, empurrei as minhas fichas para o pote. O homem zangado atirou as suas cartas para o muck. Bem, claro que não as "atirou" simplesmente. Atirou-as com um ar zangado. Eu mantive as minhas cartas onde estavam e o dealer manteve as fichas onde estavam. Eu não sabia que seria obrigado a mostrar a minha mão. Não estava à procura de me sentir orgulhoso ou de reconhecimento. Aliás, eu não queria que ninguém visse a minha mão. Não queria embaraçar o homem zangado e fazer com que ficasse ainda mais zangado...comigo.

Dei as minhas cartas ao dealer, que as virou. A mesa vibrou. Ao olhar para trás agora, é estranho já que hoje em dia já ninguém faz uma grande festa com um call de As alto. Acho que os jogos eram diferentes na altura ou talvez a mesa estivesse cheia de amadores (acho que foi um pouco das duas).

Os outros jogadores felicitaram-me, o homem zangado ficou mais zangado, eu mantive a minha cabeça baixa e calmamente recolhi o pote, enquanto lutava para suprimir um sorriso que teimava em querer aparecer.

Depois dito, eu fiquei agarrado. Fiquei agarrado em hero calls, no poker post flop (apesar de não ter seguido esta paixão na altura). O meu amigo Dan (que vão conhecer em breve) acha que eu gosto de fazer call por causa da minha personalidade. Sou passivo e não gosto de pessoas agressivas. Que melhor maneira de ficar por cima e fazer o adversário sentir-se estúpido devido à sua própria agressividade?

Não demorou muito até que me tivesse aventurado para longe dos sit and go's sem flops. Em Fevereiro do meu terceiro ano, a conselho do Peter Jetten, fiz a transição das minhas rotinas bem estabelecidas e uma sólida win rate por hora para o mundo desconhecido dos cash games, onde eu poderia pôr em prática os meus recentemente encontrados músculos do call. Peter disse-me que havia mais dinheiro para ser ganho nas mesas de cash e Peter estava certo.

Cash Games

Comecei a jogar 5/10NL 6max na PartyPoker. Imediatamente me tornei vencedor e ganhava 5BB/100 ( os jogos eram extremamente soft na altura). Eu estava nervoso por não ter os conhecimentos para cash games.

Contratei dois coaches. Primeiro, Emil Patel e depois Tommy Angelo. Emil ajudou-me com alguns fundamentos do pre-flop, apesar de só ter tido umas três horas de coaching com ele.

Eu achava que Tommy me ia ensinar acerca da estratégia de cash game, mas enganei-me redondamente. Passei um fim-de-semana em Vegas, a fazer o programa de coaching do Tommy. Trabalhamos na selecção de mesas, controlo de tilt, desistir e tudo o resto que eu não estava a contar que me ensinassem mas que precisava. Tommy não me ensinou a jogar poker, ensinou-me a ser um jogador de poker.

Desde então, eu e o Tommy tornamo-nos amigos. Ainda lhe ligo de vez em quando para pedir conselhos (aliás, fiz isso há uns dias). Eu e o Emil também nos tornamos amigos, mas isso estava destinado a acontecer de qualquer forma, já que os nossos caminhos se cruzaram tantas vezes.

Passei o semestre em Madison, a jogar tanto poker quanto o possível, ainda a fazer parte da Atlas e a estar com os meus amigos. Ainda jogava na minha secretária antiga, no meu quarto pequenino, no mesmo apartamento de três quartos. Mas agora, apesar de ainda jogar nos meus dois monitores Dell de 21'', pagava a uma empresa para tratar da roupa que estava no meu quarto e a Caroline nunca mais pensou que eu era gay.

O primeiro Verão

No verão desse ano, 2006, eu fui a Las Vegas para oas minhas primeiras WSOP. Alguei uma casa com o Peter Jetten, Alan Saa, Max Greenwood, Andrew Robl e Dan Quinn.

Aprendi mais sobre poker nesse verão que nos quatro anos até então. O poker era o que tínhamos em comum e era sobre poker que falávamos. Eramos todos estudantes do jogo e aprender poker em conjunto tinha um efeito multiplicador.

Claro que nos divertímos também (demasiado para o meu gosto). Eramos novos e em Vegas por um longo período de tempo, e havia muitas festas. Até acabou por ser um verão algo stressante para mim, porque acabei por não conseguir passar quase tempo nenhum sozinho.

Foi nesse verão que comecei a tentar alguns jogos maiores. 5/10 e 10/20 ainda eram os meus jogos principais mas tentei a minha sorte em 25/50 e até 50/100, quando os jogos eram bons. Cheguei a ter $100K num dia na UB, a jogar 10/25 e 25/50 e rapidamente perdi tudo. Os jogos não eram bons lá e eu jogava principalmente com o Taylor Caby e Prahlad Friedmam. Comecei a jogar em alguns jogos da FTP. Acho que já falei nisso várias vezes antes, mas joguei a minha mão mais memorável numa noite desse verão.

Todos tinham saído. A maior parte estava numa festa qualquer e eu lembro-me do Andrew estar a jogar poker algures. Estava sozinho na sala de estar, no meu portátil e com apenas uma mesa aberta, a jogar contra o 10lbBASS. A mão foi qualquer coisa do género:

$50/100nl HU
Tenho sksq
Ele abre do btn para $300 e 3bet para $1.111. Call

Flop: c2d3h6

Aposto $1.111. Call.
Turn: d2

Check. Ele aposta $3.300 num pote de $4444, deixando-me com $3.200 atrás (ele tinha mais).

Vou ao tank ( não durante muito tempo que não havia time banks na altura).

Ele não me teria feito call pre-flop com um 2 na mão e não teria feito uma aposta tão grande no turn com um 6. Poderia ter um overpair ou um set, mas é pouco provável. Ele era o tipo de jogador que gostava de fazer float nos flops. Será que eu podia fazer shove nesta mão? Parecia que o meu pensamento me dirigia para aí.

Quando me apercebi que estava decidido a fazer shove, o meu coração começou a bater rápido. Eu já estava com $20K negativos no dia e não tinha assim tanto dinheiro de sobra como isso. "Não devia estar a jogar tão alto", pensei eu. O Tommy tinha-me ensinado melhor que isto.

Deslizei o cursor para o botão do raise e cliquei. All in.

Ele foi ao tank. À medida que o tempo contava, eu estava a tentar perceber o que é que ele tinha que pudesse atrasar a decisão. Nao faºo ideia. Talvez tenha apostado com 55 e pensa que tenho eu um overpair? (coração a correr) "Bem, se ele fizer call ainda tenho 6 outs, por isso está tudo bem, Phi. Bem jogado, não interessa o que acontece. Não te preocupes."

A faltar apenas meio segundo para acabar o tempo, ele fez call. O meu coração caiu. Mostrou as cartas e era ...KJo

O meu coração saltou! Tinha acabado de ganhar $10K com boas odds! Bom trabalho, Phil. Caramba, isto é espantoso. Vou ficar bem no dia. Talvez até continue e aproveite a run!

River:  J

???

Não sabia o que pensar. Coisas más, claro, mas não tinha a certeza do que pensar ou sentir especificamente. Apenas senti que, sei lá, que queria que isso não tivesse acabado de acontecer. Foi tudo. Desejei ter ganho aquele pote, desejei não ter jogado tão alto. Estava devastado. Não tinha mais dinheiro na minha conta da Full Tilt, por isso tinha sido o fim.

Andrew chegou a casa cedo e encontrou-me sentado no sofá, às escuras. Contei-lhe o que se tinha passado. Ele contou-me que tinha sido "ownado pelo Wayne Newton" num pote gigante no Bellagio. Mas ele não estava devastado. Ele soltou uma gargalhada, a sua gargalhada de marca...saberão qual é se o conhecerem.

Eventualmente, chegaram todos a casa. Lembro-me de ter passado imenso tempo a falar com o Max sobre estar deprimido com aquilo. Todos entenderam e tentaram animar-me.

O meu problema é que quando as coisas correm mal, independentemente do que seja, eu não conseigo simplesmente "deixar para lá". Eu tenho que fazer algo acerca disso. Preciso de fazer um plano para melhorar e resolver o problema. Nessa noite, fiz o meu plano: voltar a 5/10, grindar sem parar e voltar. Fácil. Tristeza eliminada, determinação activada.

No dia seguinte, voltei ao trabalho. Estava numa missão, sentia-me motivado e feliz.

Foi durante este verão que finalmente conheci o durrrr, agora mais conhecido como Tom Dwan, o homem, o mito, a lenda. Ele tornou-se apenas um conhecido simpático durante esse verão e foi apenas no Outono e no Verão do ano seguinte (quando partilhamos quarto em Vegas) que se tornou um bom amigo. Também conheci o Z e Hac Dang. Estes três tornaram-se uma grande influência no crecimento do meu jogo, especialmente PLO. Não me parece que me vá alongar muito sobre isto neste post.

Último ano

O Outono começou e eu inscrevi-me novamente nas aulas. Comecei a ir às aulas, a jogar poker, a fazer Improv, como nos velhos tempos.

Nessa altura, estava a ganhar cerca de $500 por hora a jogar. Olhava para os meus professores e não ouvia uma palavra do que diziam. Só pensava em poker, no próximo jogo, estratégia, objectivos. Não conseguia levar as aulas a sério.

Depois de duas semanas, decidi deixar de ir às aulas de vez. Disse aos meus pais. Mostrei ao meu pai os meus gráficos do PT e as minhas mãos. Expliquei-lhes as coisas o melhor que pude. Soube depois que a minha mãe ficou devastada com a minha decisão, mas ao mesmo tempo escondeu-o completamente. Não sei bem como é que o fez ou como pensou tão rapidamente me faze-lo, mas estou-lhe grato por isso. Saber que estaria a partir-lhe o coração tirar-me-ia muita da vontade.

A minha mãe disse-me que não entendia, mas que confiava em mim para fazer uma decisão responsável. O meu pai entendeu. Disse-me que gostava que eu ficasse nas aulas mas que faria a mesma coisa, se estivesse no meu lugar.

E foi isto - era um jogador de poker a tempo inteiro.

O meu amigo Dan (de Vegas) tinha-se mudado nesse Verão para Madison por causa da namorada (agora esposa). Ajudamo-nos a levar os nossos jogos para o nível seguinte. Construí a minha banca e tentei mais uma vez 25/50 e 50/100. Não resultou dessa vez também e tornei a descer.

Para mim, a chave é a capacidade de descer de nível e leva-lo a sério. Algumas pessoas não conseguem descer depois de perderem mas eu sempre consegui. Tentava 4 ou 5 buy-ins em jogos maiores e voltava imediatamente para baixo se não resultasse. Não recomendo isto para a maioria das pessoas, mas para mim resultou.

O Dan vinha lá a casa com o seu portátil e passavamos o dia a jogar. Eu já tinha um quarto maior.

Eu estava num apartamento novo, mas ao mesmo preço. Quase não gastei dinheiro até me ter mudado para Nova Iorque, dois anos mais tarde. A Caroline passou um semestre na África do Sul por isso eu e a Shannon mudámo-nos para um T2, do outro lado da rua.

Portanto, desisti da escola para jogar poker. Fa-lo-ia  novamente? Estou arrependido?

A verdade é que me arrependo de ter desistido e arrependo-me de ter levado o poker tão a sério, tão cedo na minha vida. Não me incomoda o facto de não ter uma licenciatura (quanto vale um curso de Filosofia, de qualquer maneira?), mas arrependo-me de ter perdido muito do que é ser um estudante universitário. Perdi parte da minha juventude.

Claro que continuava a estar com os amigos, alguns dos quais eram estudantes, mas não era o mesmo. Eu tinha outros interesses, outras responsabilidades. Eu tinha propostas de emprego de escolas de poker, contabilistas para contratar, decisões de banca a fazer. Eu cresci demasiado depressa.

Quem me dera ter ficado na escola e jogar poker nos tempos livres, mas não tanto que quase consumisse a minha vida, como o fez. Podes sempre voltar para a escola e tirar um curso, certo. Mas não podes voltar a ter 21 anos, outra vez.

Tenho muito mais a dizer sobre tomar uma decisão destas, mas vou guardar para outro post. Por favor, não interpretem isto como a minha opinião sobre o que vocês devem fazer. Deixo isso para um próximo post também.

O resto é história

Passei o resto desse ano a fazer o que tinha passado o tempo a fazer. Estava a adorar o poker, a Atlas, os meus amigos, a vida em geral.

Depois do último ano, as coisas começaram a mudar. A Shannon mudou-se, assim como muitos dos amigos que eu tinha. Por muito cidade que seja, Madison não deixa de ser uma cidade universitária (e espectacular, posso dizer). As pessoas licenciam-se e vão embora. E isto foi o que acabou por me levar a Nova Iorque. Queria comprar uma casa e ficar no mesmo sítio e não queria que todos os meus amigos continuassem a ir embora. Eu e Thomas seguimos a Caroline, Anne, Gabe e Theresa, juntamente com outros conhecidos para a Big Apple.

Mas antes...no último ano, tinha-me mudado para uma casa de 5 quartos com o Thomas, Josh e Dave, três tipos fantásticos da Atlas. Eu agora tinha 2 quartos, um para dormir e outro para trabalhar.Eram ambos no último andar e eram os únicos quartos com casa de banho completas. Todos tinham que ir tomar banho ao meu escritório. Era interessante.

Passei mais um ano fantástico lá. Tive realmente muita sorte com os meus companheiros de casa ao longo do tempo. Os meus 5 anos em Madison, (aliás, os últimos 4) foram os melhores anos da minha vida. Isto não quer dizer que não sou feliz...sou. Mas esses foram anos cheios de risos, diversão, poker, novas amizade, e antes de eu ter verdadeiras responsabilidades de adultos.

Tinha muito espaço no meu escritório para o Dan jogar  ou para eu guardar as minhas montanhas de garrafas de água ou caixas vazias de barras de proteínas. Agora tenho 2 monitores Apple de 30'' e a minha cadeira Aeron. Ainda trabalho numa mesa desdobrável mas, no geral, é um bom office.

Lá para o início do ano, tentei novamente alguns jogos grandes. E desta vez não olhei para trás. $25/$50 e $50/$100 e depois $100/$200 e até $200/$400. Estava a jogar muitos HU e alguns 6 max em limites altos também. Sempre que batia um nível subia à procura do "patrão" seguinte.

A competição estava a tornar-se mais e mais enstusiasmante. Estava a tornar-me mais forte. O jogo parecia cada vez mais real.

As pessoas online começaram a falar do OMGClayAiken