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Doyle Brunson relembra Amarillo Slim

Doyle Brunson era um dos amigos mais antigos de Amarillo Slim e histórias não lhe faltam. À laia de elogio, Brunson escreveu no seu blog algumas memórias partilhadas sobre aquele que será sempre uma lenda do poker, Amarillo Slim.

Depois de ter sabido que o Amarillo Slim estava no hospital, liguei-lhe. A voz dele estava tão fraca que eu mal conseguia ouvi-lo mas o seu sentido de humor estava bem vivo. Falou durante alguns minutos e, à medida que recordávamos alguns dos melhores momentos do início da nossa viagem pelo poker, ambos reconhecemos que o seu tempo neste mundo já não era muito. Slim disse que não se lembrava de termos trocado palavras mais azedas e eu concordei. Despedimo-nos e Slim disse: "tem cuidado, eu vou-te ver." Numa tentativa patética de fazer humor, eu respondi; "espero que não seja em breve". Slim riu-se tanto que quase caía da cama. Mas eu tenho que admitir que tinha lágrimas nos olhos.

Slim tinha nascido há 83 anos no Arkansas, mas mudou-se para o Texas antes de ter um ano de idade. Ele cresceu até ser um adolescente de cabelo encaracolado que rapidamente se tornou um dos melhores jogadores de bilhar do Texas. A vida era demasiado pacata na pequena cidade onde vivia e Slim juntou-se à Marinha, onde acabou por conhecer o poker. Slim ganhou uma pequena fortuna a jogar no seu navio ao largo do Pacífico. Esteve muito perto do teste debaixo de água da primeira bomba atómica. E voltou para Amarillo, no Texas, onde ganhou a alcunha que o viria a acompanhar para o resto da vida. O seu ditado preferido era "Amarillo tem a mesma população todos os anos. Todos os anos, uma mulher engravida e um homem sai da cidade." Foram precisos apenas alguns meses para o jovem jogador perder toda a sua banca a jogar poker contra os melhores prós do Texas e a apostar em todas as corridas de cavalos que mexessem.

Slim decidiu alistar-se no exército e reconstruir a sua banca. Foi colocado na secção de serviços pessoais e a sua tarefa era fazer apresentações de bilhar. Foi para a Alemanha, onde passou a maior parte do seu tempo a "gerir" um negócio baseado no mercado negro. Fez milhares de dólares a vender relógios do Mickey aos russos, juntamente com outras mercadorias. Fez banca novamente antes de ser dispensado do exército. Depois de voltar a Amarillo, Slim viajou muito enquanto fazia prop bets e jogava poker. Eu conheci o Slim num jogo de poker numa pequena cidade perto de Houston. Depois de falar com o Slim e o Bryan "Sailor" Roberts, decidimos tornar-nos parceiros no mundo do jogo e partilhar ganhos e perdas. Fizemos isso pelo perigo de sermos assaltados ou presos. Slim sabia muito sobre formas de fazer batotas e ajudava-nos a evitar sermos vítimas de batoteiros.

Fomos sócios durante sete anos, viajando por todos os estados do sul e enfrentando toda a gente. Jogávamos principalmente poker mas de vez em quando tínhamos jogos de bilhar que o Slim arranjava. Eu não era um jogador de bilhar de classe mundial mas com o Slim a treinar-me, normalmente ganhavamos. Também jogavamos golf, eu e o filho mais velho de Slim, o Bunky Preston. Jogamos golf em stakes muito altos, ganhámos muito, mas voltávamos sempre ao poker.

A nossa parceria foi fatal no mundo do poker. Sempre considerei Sailor Roberts como um igual e o seu temperamento calmo, solidificava-nos. Para além de ser o melhor jogador do nosso tempo, passou horas intermináveis a simular várias mãos dadas e a calcular as odds. Hoje em dia, qualquer pessoa com um computador consegue ter essa informação, mas na altura tinha que ser com caneta e papel. E foi nessa altura que nos tornámos dominantes no mundo do poker, porque tínhamos conhecimentos e ninguém perdia tempo a fazer o que nós fazíamos.

As pessoas perguntam-me muitas vezes se o Slim era um bom jogador, se era tão bom como eu  e o Sailor. A minha resposta é não, não era tão bom, mas era bastante melhor que a média. A maior contribuição de Slim para a nossa parceria era arranjar jogos e pessoas para jogar connosco. Ele tinha uma lábia que eu nunca vi igual. Era absolutamente destemido e não se embaraçava com nada. Infelizmente, era alto e magrinho e não conseguia ganhar uma luta nem com um saco de papel. O Sailor era demasiado descontraído portanto sobrava sempre para mim quando as coisas se descontrolavam. As minhas sobrancelhas estão cheias de cicatrizes por causa deles mas temos imensas aventuras e muita diversão. Fomos assaltados à mão armada quatro vezes, presos muitas vezes, muitas situações perigosas. Porque é que continuamos a fazer isto durante 7 anos? Fácil, porque adorávamos poker.

Slim fez prop bets inacreditáveis. Ganhou ao campeão Bobby Riggs num jogo de ping pong depois de ter conseguido escolher as raquetes. Depois de Riggs ter concordado, Slim escolheu sertãs de ferro para fazer de raquetes e, como tinha andado a treinar nos últimos meses, ganhou facilmente. Ganhou aos Minnesota Fats em bilhar, usando cabos de vassoura como tacos. Apostou que conseguia chegar à meta de uma corrida de cavalos com um avanço de 90 metros sobre o cavalo. Correu 45 metros, voltou para trás e correu mais 45, cortando a meta mais rápido e com um avanço de 90 metros. Ganhou a aposta. Nunca o vi perder uma prop bet quando era dinheiro a sério. O facto de ter ganho 4 braceletes WSOP e ser membro de cinco Hall of Fames atestam a sua capacidade. O poker deve-lhe muito. Trouxe aura de respeitabilidade ao poker depois de ter ganho o WSOP Champiosnhip em 1972 e ter ido a todos os programas de televisão, contar histórias.

Sempre gostei desta frase dele: "Nunca vou à procura de um pato. Eu procuro um campeão e faço dele um pato." RIP Amarillo Slim.

Que o flop esteja contigo,
Doyle Brunson

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