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Artigo de Estratégia: Efeito Alavanca

O EducaPoker.pt pretende dar-vos a conhecer os artigos dos níveis mais avançados do seu currículo e semanalmente disponibilizará aqui no PokerPT.com um artigo de nível médio/alto.

Será uma forma de darmos a conhecer os excelentes conteúdos da escola e com o objectivo claro de partilhar os conhecimentos com a nossa comunidade. Depois de O valor da iniciativa, Coordenação da mesa e vulnerabilidade e Dinâmica Turn e River hoje apresentamos o artigo Efeito Alavanca.

Efeito Alavanca

O conceito teórico fundamental que temos que dominar, na hora de seleccionar adequadamente os tamanhos das nossas apostas em qualquer ronda de apostas (excepto no river), é conhecido como efeito alavanca, ou, em Inglês, “leverage”.

Chama-se “efeito alavanca” ao facto de que, ao realizar uma aposta numa das primeiras rondas de uma mão de poker, se cria a ameaça potencial de futuras apostas tornando-a implícita na aposta actual.

Se temos 40bb e um pote de 4bb, uma aposta de 3bb no flop é “quase” tão ameaçadora como um all-in de 30bb, a menos que a board seja relativamente dry. A razão para isto é que se somos o jogador que enfrenta esta aposta, e queremos levar a nossa mão a Showdown, não nos vai custar 3bb. Vai-nos custar 3bb no flop e mais 8bb no turn e umas 20bb no river. No total são 31bb.

Nem sempre uma aposta de 3bb no flop implica que o jogador em questão vá fazer três apostas. Ao fim e ao cabo, se sempre que aposta o flop fosse apostar o turn e o river, a situação seria idêntica a realizar uma grande aposta no flop, porém o jogador que aposta pode decidir quanto dinheiro entra no pote e decidir se faz apenas uma aposta de bluff, duas, ou as três.

A ideia é que ele tem três oportunidades para apostar e que é sua a opção de o fazer ou não. Naturalmente, os dois jogadores têm que ter fichas atrás para que as apostas aconteçam, porém se é o caso a sua primeira aposta é muito mais ameaçadora do que seria a mesma aposta no river.

Se defendemos a BB contra um raise de 3bb com uma stack de 100bb, temos um pote de 6,5bb. Se o nosso rival aposta 4bb num flop cqs7h3 e nós fazemos Check-Raise para 12bb (como vemos, a nossa mão não é relevante para o exemplo), o nosso rival tem um sério problema se tem uma mão como htst, has7 ou até uma Q fraca. Uma aposta da nossa parte de cerca de 20-25bb é quase impossível pagar inclusivé para um par máximo, já que a sua decisão potencial no river seria por uma aposta de umas 40-50bb. No total, a nossa aposta do flop permite-nos meter no pote fácilmente 90 das nossas 100bb (de facto, se fizermos uma das apostas um pouco maior, seria toda a nossa stack).

Quando tem peso o efeito alavanca

Este efeito tem muita relevância quando as stacks são grandes. Quando fazemos uma aposta que represente, aproximadamente, 10% da nossa stack (de maneira que o pote, se o nosso rival paga a aposta, tem 20% da stack) no flop, estamos a obrigar o rival a perguntar-se se está disposto a pagar toda a sua stack e, de forma exagerada, estamos a perguntar-lhe se quer ganhar 10% da nossa stack a troco do total da sua. Claro, haverá vezes que teremos um bluff com o qual faremos 3 apostas e ele vai ganhar, mas se tem uma mão média vai pagar toda a sua stack às mãos melhores e ganhará muito menos, em média, por cada bluff, já que nem sempre vamos continuar o bluff até ao river.

O nosso rival poderia optar por pagar o turn e abandonar no river ou pagar o flop e abandonar no turn. O problema para ele é que as mãos médias de Showdown têm uma percentagem muito baixa de melhorar com cada nova carta, e há muitíssimas cartas que vão ser perigosas para ele, ajudem-nos ou não, e que nós poderemos usar para um bluff. Por outro lado, limitando-nos a ter uma proporção de bluffs aceitávelmente alta no turn e river, o nosso rival volta a ver-se numa situação muito negativa, já que tem de abandonar num pote grande depois de ter pago com muito poucas possibilidades de melhoria.

As mãos médias de showdown têm uma percentagem muito baixa de superar as mãos fortes e, portanto, as futuras cartas raras vezes as ajudam, enquanto que os semi-bluffs têm uma percentagem relativamente elevada de sairem beneficiados por cartas futuras, o qual continua a complicar ainda mais as coisas para as mãos médias. Por um lado, se querem proteger-se dos semi-bluffs precisam de fazer raise ou re-raise em algum ponto da mãos, porém isto fá-las ganhar muito menos dos bluffs do rival (já que impedem que continue o seu bluff).

O efeito alavanca perde relevância quanto menos rondas de apostas faltarem. No turn, a ameaça existe mas é só de uma aposta, e a relação risco/recompensa do nosso rival é melhor. A aposta no turn de entre um quarto e um terço da nossa stack é a que ameaça potencialmente com uma aposta no river grande e difícil de pagar, dado que, se o oponente paga, ele terá que pagar no river o dobro ou mais do que pagou no turn.

O efeito alavanca também existe pré-flop. Quando fazemos uma aposta pré-flop de um tamanho tal que se o nosso adversário põe uma ficha mais no pote, ficará automáticamente comprometido com ele, sendo a nossa aposta tão pequena quanto possível para que isto aconteça, estamos a pô-lo numa situação muito complexa. Se vai all-in pré-flop muitas vezes, as nossas mãos fortes contra o seu range ganham muito (para além de que podemos incluir algumas mãos más). Se abandona em excesso, qualquer par de cartas serão rentáveis.

A posição também é um factor importante. A posição permite controlar o tamanho do pote, e a ameaça da alavanca é precisamente fazer crescer o pote muito, coisa que podemos fazer com maior facilidade ao ter posição. Um jogador em posição pode pensar em fazer check com posição no turn ou river, com uma mão média, e controlar assim o tamanho do pote, enquanto que sem posição não é possível fazer tal coisa. Portanto, quando um rival paga uma aposta ameaçadora no flop sem ter posição, é porque ou é um inconsciente (e não tem muito futuro a jogar deep até que melhore) ou é porque tem uma mão relativamente forte. Pela mesma razão, é mais provável ver fazerem-nos call muito mais com posição do que sem ela. No caso de encontrar um jogador que não tenha muita diferença entre estes dois valores, podemos concluir, com segurança, que não é um bom jogador.

Aproveitar o efeito alavanca

Para aproveitar bem o efeito alavanca, para além de realizar apostas deste tipo, devemos atentar em como reagem os nossos rivais às apostas deste tipo. Alguns jogadores realmente maus tendem a pagar com mãos médias para acabar por abandonar em algum ponto posterior da mão de forma sistemática. Contra eles, fazer bluffs com uma grande quantidade de mãos é rentável, dado que abandonarão uma grande parte das mãos perante a segunda ou terceira aposta.

Outros jogadores mais avançados tomarão a sua decisão neste ponto e continuar a tentar um bluff contra eles não será rentável. Devemos fazê-lo poucas vezes, apenas com algum semi-bluff e apenas para que nos paguem toda a sua stack de cada vez que conseguirmos uma mão média/forte no flop. Um jogador avançado abandonará uma boa percentagem de mãos médias nesta situação, e pagará algumas delas junto com todas as suas mãos fortes até ao river. Contra um jogador assim, apenas podemos aspirar a ficar breakeven nestas situações, já que o seu jogo é óptimo. Felizmente há muito poucos jogadores assim.

Devemos entender tudo isto para decidir quando vamos realizar apostas pós-flop. Por um lado, o efeito alavanca favorece extremamente as apostas de continuação no flop e as apostas no turn porque o oponente terá tendência a abandonar demasiado pela ameaça que supõem as nossas potenciais apostas no turn e river. Por outro lado, isto também fará com que os oponente pensem (correctamente, claro) que apostamos muito no flop em bluff, pelo que pagarão para ver o que fazemos no turn. Porém, poucos jogadores pagam múltiplas apostas com mãos muito débeis e, habitualmente, muitos destes jogadores abandonam a uma segunda aposta.

Temos falado do que se passa quando temos iniciativa na mão, o que será o caso mais frequente mas não o único. Sem iniciativa, o efeito alavanca implica o seguinte: é muito mais perigosa uma aposta média no flop, com stacks grandes, que um all-in de duas vezes o pote, se a stack é pequena. Quando pagamos uma aposta no flop, devemos decidir também se vamos pagar as apostas do turn e do river tendo em conta o seu tamanho potencial, pelo que se as stacks são grandes, devemos decidir já no flop se estamos comprometidos ou não com a nossa mão, para jogar por um pote que seja uma grande parte da nossa stack.

Resumo

  • A ideia é que quando as stacks são grandes em relação ao pote, qualquer acção que faça o pote grande nas primeiras rondas da mão é muito perigosa e dificulta muito a decisão do rival.
  • O efeito alavanca é mais poderoso quando temos posição já que para o rival é mais difícil ainda controlar o tamanho do pote.
  • Devemos ajustar as nossas apostas em primeiras rondas de apostas (inclusivé pré-flop!) para que as apostas futuras sejam mais perigosas para o oponente.
  • Quando estamos perante uma aposta onde o efeito alavanca trabalha contra nós, temos de decidir o que faremos perante futuras apostas (muito maiores que a actual) se estas acontecerem.